09/02/2011 - 21:00
A relação calorosa demonstrada pelas presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, durante a curta visita da brasileira a Buenos Aires, poderá render nos próximos meses mais do que declarações genéricas de confiança mútua. Entre os 15 acordos firmados pelas duas governantes na segunda-feira 31, chama a atenção o que criou o Fórum de Empresários, composto apenas por presidentes de empresas dos dois países.
Negociação: apesar das gentilezas, as presidentes não fugiram de
temas delicados, como o desequilíbrio comercial
Em reuniões semestrais, o órgão poderá sugerir políticas para incentivar investimentos bilaterais, aumentar a integração das cadeias produtivas e até amenizar conflitos comerciais. Outro acordo firmou intenção de promoção conjunta de produtos brasileiros e argentinos em terceiros mercados.
Sob os holofotes, Dilma e Cristina trocaram gentilezas e promessas de aprofundamento da relação Brasil-Argentina. Numa declaração conjunta à imprensa na Casa Rosada, Dilma disse que as duas estavam “emocionadas” com o primeiro encontro e levou Cristina a ficar com os olhos marejados quando homenageou o falecido ex-presidente Néstor Kirchner.
“Não é por acaso que escolhi a Argentina como destino de minha primeira viagem ao Exterior”, afirmou Dilma. “Brasil e Argentina são cruciais para transformar o século XXI no século da América Latina.”
Durante a visita, Dilma encontrou-se com representantes das Mães e Avós da Praça de Maio, lembrando o período em que combateu a ditadura militar brasileira.
Mas, a portas fechadas, segundo a imprensa argentina, Cristina abordou o assunto mais espinhoso da relação bilateral: o déficit comercial da Argentina com o Brasil. Depois de chegar aos US$ 4,1 bilhões no ano passado, o déficit pode ultrapassar os US$ 5 bilhões neste ano,segundo projeções da consultoria argentina Abeceb. As duas presidentes conversaram por uma hora e meia, o triplo do tempo inicialmente estipulado pela programação oficial.
Não por acaso, empresários brasileiros temem a retomada de medidas protecionistas pela Argentina. Os argentinos reclamam da “invasão” de produtos brasileiros apontando diferenças nas condições de financiamento, entraves logísticos e problemas na integração das cadeias produtivas.
Obviamente o fórum não terá poder de negociação comercial como um órgão governamental, mas deverá apresentar sugestões que evitem conflitos mais drásticos. Um exemplo citado é o acordo fechado pelo setor calçadista brasileiro, que se comprometeu com o estabelecimento de uma cota “voluntária” de 15 milhões de pares anuais exportados.
Enviada especial a Buenos Aires