17/05/2013 - 21:00
Uma plateia formada por cerca de dois mil empresários brasileiros e alemães lotou, na manhã da segunda-feira 13, o auditório do World Trade Center, em São Paulo. No palco, o presidente da Federação das Indústrias da Alemanha (BDI), Ulrich Grillo, foi direto ao ponto. “A infraestrutura brasileira chegou ao limite”, afirmou, sem deixar de ressaltar que, nesse caso, os gargalos são sinônimos de oportunidades. “As maiores empresas de logística são alemãs e elas estão de olho no Brasil.” Horas mais tarde, no mesmo auditório, todas as atenções estariam voltadas para o discurso da presidenta Dilma Rousseff.
O presidente da Alemanha, Joachim Gauck, e Dilma, na segunda-feira 13, em São Paulo
Ao lado do presidente da Alemanha, Joachim Gauck, ela citou duas vezes a busca por “um ambiente mais amigável para os negócios”. “Quero assegurar que o meu governo tem se esforçado para criar o melhor ambiente de negócio”, disse a presidenta. “Nós construímos as ruas e as avenidas com oportunidades, mas são os senhores empresários que devem transitar por essas avenidas e essas ruas.” As palavras de Dilma tinham um objetivo claro: mexer com os ânimos do setor privado, num momento em que os empresários buscam mais sinais de estabilidade para planejar investimentos. Diante de sucessivas intervenções estatais, a impressão é de que as medidas econômicas pontuais acabam gerando mais incertezas do que benefícios.
“Embora tenha o desejo de acertar, o governo toma medidas ‘picadinhas’ que demoram demais para surtir efeito e geram insegurança”, diz Carlos Mariani Bittencourt, diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “O ideal seria um grande projeto, que possibilitasse um horizonte de planejamento.” Existe, ainda, um nítido incômodo no setor produtivo gerado pela demora nas concessões de infraestrutura. E por trás dessa lentidão está a insistência do governo em limitar os ganhos do setor privado, simbolizados pela taxa interna de retorno (TIR). “Essa definição tem de ser livre, como parte do jogo empresarial”, diz Besaliel Botelho, presidente da Bosch na América Latina.
“Isso não pode ser ditado por regras do governo.” A letargia para tomar decisões estratégicas é algo que incomoda até mesmo empresários com bom trânsito em Brasília. Luiz Fernando Furlan, que foi ministro do Desenvolvimento no governo Lula, ressalta que os investimentos em competitividade são uma necessidade que ninguém mais questiona, mas “o que não parece ser unanimidade é o senso de urgência”. Quanto à TIR, ele lamenta a demora na discussão. “Às vezes, você vai buscar uma coisa perfeita, e o tema acaba atrasando, atrasando, atrasando e sai pelo ralo muito mais do que isso”, afirma Furlan. “Quanto custa para a economia do País uma rodovia não construída?”
Já o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar, traça um “quadro preocupante” sobre a situação da indústria. Embora enalteça algumas desonerações promovidas pelo governo, Gomes da Silva pede atenção para três áreas: investimento em educação técnica, flexibilização nas regras trabalhistas e simplificação e redução tributária. “Não será do dia para a noite, mas em dez anos é possível reduzir a carga tributária de 36% do PIB para 25% do PIB”, diz o empresário. “Basta o PIB crescer mais que os impostos.” Outro ponto decepcionante para os empresários, que há anos lutam por uma reforma tributária, é a desfiguração do projeto que unifica em 4% a tarifa de ICMS na origem do produto.
O texto, em debate no Congresso, tinha sido costurado pelo então secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, com os secretários da Fazenda das 27 unidades da federação, no fim do ano passado. Agora, com o prestígio em baixa, ele deixou a Fazenda alegando “motivos pessoais”. “Sem o Nelson, o governo perde um pouco da capacidade de formulação de políticas”, afirma um economista do governo. “O maior temor é que piore ainda mais a condução da política fiscal”, diz Juan Jensen, economista-chefe da Tendências Consultoria. Outros três secretários-executivos também estão saindo (leia quadro “As baixas”). Cabe ao governo impedir que as trocas desses executivos nos ministérios aumentem ainda mais as incertezas no meio empresarial.