Para entender o que vem acontecendo com a Petrobras, a maior empresa do País, com receita líquida de R$ 304,9 bilhões em 2013, é preciso analisá-la por três ângulos. Do ponto de vista político, a petroleira vive dias de tensão. Diretores de gestões anteriores vêm sendo acusados de irregularidades e até mesmo de atitudes ilegais, como é o caso de Paulo Roberto Costa, ex-responsável pela área de abastecimento, preso pela Polícia Federal por suspeita de lavagem de dinheiro. Na ótica dos investidores estrangeiros, a estatal continua gozando de um grande prestígio. Isso ficou claro nas emissões de títulos feitas no Exterior, feitas nos últimos 12 meses. 

 

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Reação: Graça manda abrir sindicância interna para apurar irregularidades

e aceita falar no Congresso Nacional

 

No ano passado, foram US$ 11 bilhões, montante superado apenas pela Apple, com US$ 17 bilhões, e em 2014 já aconteceram duas rodadas: de € 3,8 bilhões e US$ 8,5 bilhões. “Se tivéssemos oferecido um volume maior, teríamos vendido, pois a demanda por nossos papéis sempre foi superior à oferta”, disse aos jornalistas, na época, o diretor financeiro Almir Barbassa. A terceira forma de encarar a empresa é a partir da percepção dos investidores locais. Depois de apanhar de forma contínua em 2012 e 2013, seus papéis começam a reagir. Apenas na quinta-feira 27, as ações preferenciais subiram 8,13% na Bolsa de Valores de São Paulo, fechando em R$ 15,57. 

 

“O investidor não é bobo e por isso não olha esse tipo de empresa pelo funil ideológico”, afirma Fabio Silveira, sócio-diretor da GO Consultores, de São Paulo. “O que importa é a capacidade de extrair riqueza desse ativo em um horizonte de dois a três anos.” É exatamente nesse ponto que vem se concentrando o discurso dos gestores da estatal. A começar por sua presidente, Graça Foster, que tem argumentos para afastar as desconfianças em relação ao futuro. Um deles, avanço da produção do pré-sal, cuja área mais adiantada é o campo de Libra, de onde já são extraídos 412 mil barris diários, perto de 20% de todo o petróleo produzido no Brasil. 

 

Outro argumento é o crescimento da oferta de gás natural ao mercado, que acaba de atingir o patamar recorde de 100 milhões de metros cúbicos por dia. Em meio a esses fatos positivos, a direção da estatal começou a reagir, primeiro com a criação de uma comissão interna para apurar as denúncias de irregularidade envolvendo compra da refinaria situada em Pasadena, no Texas, nos Estados Unidos. “Não fica pedra sobre pedra”, disse Graça ao jornal O Globo, referindo-se ao fato de que a comissão vai investigar todas as histórias a fundo. Uma delas é a existência de uma Comissão de Proprietários que, estatutariamente teria mais poderes que o Conselho de Administração sobre as questões relativas à Pasadena, e da qual o diretor Costa, que está preso, seria um dos integrantes. 

 

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Corrida: o pré-sal já garante 20% da produção de petróleo. Esforço agora é para recuperar

atraso na construção da refinaria Abreu e Lima 

 

Outra frente de trabalho para Graça, à partir de agora, é o Congresso. Lá um grupo de senadores de oposição – liderado pelo tucano paranaense Álvaro Dias –, com apoio de integrantes do PSB – capitaneados pelo líder da bancada, Rodrigo Rollemberg (DF) – se movimenta para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar a companhia. Apesar de contar com as 27 assinaturas necessárias para pedir a instalação da CPI, a oposição depende da “boa vontade” do presidente da casa, Renan Calheiro, (PMDB-AL), para levar seu plano adiante. Calheiros adiou para a sessão de terça-feira 10 a leitura do requerimento dos opositores. 

 

A tática do grupo inclui, ainda, sensibilizar os deputados descontentes trocando a CPI por uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), que envolve Câmara e Senado e cuja abertura se dá de forma mais rápida, sem depender do apoio dos presidentes das duas casas. Para tentar reduzir os danos no front político, e até abortar a CPI, integrantes do governo convenceram Graça e o ministro Edson Lobão, das Minas e Energia, a comparecer ao Senado e prestar esclarecimentos sobre os contratos de compra da refinaria. Eles irão ao Congresso como convidados e não na condição de convocados. 

 

Além da formação da comissão interna de investigação, a diretoria da Petrobras tem outros trunfos na manga para atravessar esse delicado momento. Um deles é a progressiva evolução da capacidade de produção e de refino de combustíveis. Nesse quesito, outro fator de preocupação é a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que também tem sido um foco de dores de cabeça para a estatal. Caso entre em operação no final deste ano, como imagina Graça, a unidade deve eliminar o gargalo na área de refino, contribuindo para reduzir a importação de derivados, em tempos de demanda em alta e preços controlados.

 

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