19/10/2013 - 7:00
Aos 70 anos, o pastor capixaba Lemin Vieira Lemos não pretende deixar de guiar seu rebanho. Mesmo assim, a aposentadoria tem sido objeto de suas preocupações desde 2011. “Eu me preveni para o futuro ao contribuir para uma previdência privada, mas muitos pastores e fiéis idosos da congregação estão desamparados”, diz ele, presidente da Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil e no Exterior (Omebe). A solução encontrada por Lemos para garantir o futuro dos fiéis foi criar um fundo de previdência privada específico para evangélicos de todas as denominações, chamado BemPrev.
Prudência, irmãos Vieira Lemos: pensando nos fiéis idosos
O plano começará a ser vendido em março por dois mil funcionários, a serem selecionados em diversas igrejas. A meta é contar com 170 mil participantes e R$ 1 bilhão em patrimônio até 2020. A preocupação de Lemos tem fundamento. Atualmente, a média de idade dos evangélicos brasileiros é de 30 anos, abaixo da cifra nacional. Em três décadas, esse povo estará na terceira idade. A conjunção entre a longevidade crescente e o déficit da previdência oficial – que, cada vez mais, depende de um milagre – obriga os futuros aposentados a recorrerem à previdência privada. Isso é mais fácil para os evangélicos, cuja renda supera a média brasileira.
O fundo pretende reunir evangélicos de diversas denominações, algo complexo devido à fragmentação do rebanho. As dez principais denominações reúnem pouco mais da metade dos 42 milhões de fiéis espalhados pelo Brasil. “Já fomos procurados até por pessoas de outras religiões”, diz Lemos. O BemPrev não é o primeiro voltado para fiéis de uma igreja. Iniciativas nesse sentido datam de 1922, quando a seção gaúcha da igreja Luterana Brasileira criou a gestora Luterprev. Já os pastores da Assembleia de Deus contam com a fundação Quanta para gerir seus recursos previdenciários.
“Tínhamos uma caixa de contribuição, mas migramos para fundos abertos em 2001 devido a mudanças na lei”, diz Eliel da Costa Batista, assessor da presidência da Convenção da Assembleia de Deus de Santa Catarina e do Sudoeste do Paraná. “Decidimos montar uma previdência fechada em 2010, o que garante resultados melhores para os obreiros.” O fundo, que cobra uma taxa de administração de 0,6%, abaixo da média do mercado, possui um patrimônio de R$ 22 milhões. Assim como a maioria dos fundos instituídos por denominações religiosas, a estratégia de investimentos é bastante parecida com a de um fundo de pensão tradicional.
No caso do Luterprev, a maior parte do portfólio de R$ 93 milhões destina-se a aplicações conservadoras, como títulos públicos de longo prazo, atrelados a índices de inflação. No ano que vem, a instituição vai lançar um fundo com meta atuarial de 2% ao ano acima do IPCA, e que não vai cobrar taxas de administração nem de carregamento. O BemPrev é um plano instituído, ou seja, oferecido por uma associação de classe. Regulamentados em 2003, esses produtos destinam-se a atender profissionais de uma mesma categoria, como advogados ou jogadores de futebol. Ainda uma novidade, esses fundos vêm apresentando um crescimento expressivo.
O número de carteiras avançou 280% nos últimos oito anos. “A tendência é esse número crescer mais”, diz José Ribeiro Pena Neto, vice-presidente da Abrapp, associação que representa o setor. O segmento é disputado. “De tempos em tempos, bancos fazem algum movimento para tentar atingir esse nicho”, diz Evandro Raber, diretor da Luterprev, cujos fundos chegam a render até 7,73% ao ano. No caso da BemPrev, quem quiser gerir os recursos terá de mostrar que não tem pecados – pelo menos o da ganância. “Abrimos concorrência com quatro bancos de varejo e vai ganhar aquele que cobrar menos”, diz João Roberto Rodarte, presidente da consultoria mineira Rodarte Nogueira, que estruturou o projeto. “De tudo que arrecadarmos, 25% será canalizado para cobrir indenizações por morte e invalidez.” Depois, será a vez de sentar com bancos de investimento que vão ajudar a traçar estratégia para fazer o montante crescer.