Aos 44 anos, o estreante senador texano Ted Cruz é uma figura excêntrica da cena política americana. Conquistou fama por episódios como o discurso de 21 horas proferido no Congresso, em 2013, em oposição ao sistema de saúde proposto pelo presidente Barack Obama, e a liderança do movimento que paralisou o setor público, no mesmo ano, ao impedir a aprovação do Orçamento, o chamado “shutdown”. Seu mais recente caso de notoriedade transcendeu as fronteiras americanas. Na segunda-feira 23, o republicano ganhou manchetes pelo mundo ao anunciar, pelo Twitter, que concorrerá nas eleições, tornando-se o primeiro grande candidato oficial na disputa pela sucessão de Barack Obama, em 2016.

Nascido no Canadá, filho de um imigrante cubano e de mãe americana, Cruz se tornará o primeiro político de raízes hispânicas a chegar à Presidência, caso eleito. Suas chances de despontar como favorito, no entanto, são remotas. O senador não figura no topo das pesquisas entre pretendentes republicanos e acumula resistência dentro do próprio partido. Embora seja elogiado pela capacidade retórica, costuma ser apontado como um político arrogante e já recebeu o título de mais odiado do Senado pela revista Foreign Policy. O anúncio precoce de sua candidatura é um esforço para atenuar a apatia e aproveitar a exposição antecipada perante as alas mais conservadoras.

É também uma tentativa de angariar mais recursos para a campanha das primárias. Mesmo se conseguir conquistar a simpatia dos conservadores, com bandeiras tradicionais, Cruz enfrentará uma disputa acirrada. Jeb Bush, irmão do ex-presidente George W. Bush e ex-governador da Flórida, é o favorito para se tornar o representante republicano, seguido de Scott Walker, governador do Estado de Wisconsin. Ambos ainda não oficializaram a candidatura. Na lista de pretendentes, há ao menos outros três nomes. Do lado democrata, Hillary Clinton, esposa do ex-presidente Bill Clinton, é quase uma certeza.

A ex-secretária de Estado precisará se concentrar mais em afastar a desconfiança em torno do seu próprio nome do que na disputa com os outros cotados. Além das associações com casos históricos da família, Hillary terá de lidar com escândalos recentes. Ela está sendo questionada por ter usado uma conta de e-mail pessoal, e não a do governo, quando era secretária de Estado, e por ter permitido doações de estrangeiros à sua ONG, The Clinton Foundation, no mesmo período, o que poderia ser interpretado como conflito de interesses. Os candidatos oficiais serão escolhidos nas primárias partidárias, a partir de janeiro. Os americanos vão às urnas em novembro.

Sobram motivos, porém, para que o mundo já comece a acompanhar a corrida. Com a recuperação da economia e a desaceleração de potências emergentes, o país voltou a ocupar a posição de locomotiva global, retomando o protagonismo pré-crise de 2008. Os EUA foram um dos poucos países a ter a previsão de crescimento revisada para cima nas projeções mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI). A expectativa é que o PIB americano avance 3,6% neste ano e 3,3% em 2016. Esse desempenho deve ser um trunfo importante para o partido Democrata enfrentar uma aparente preferência popular aos republicanos, como demonstrado nas últimas eleições ao Congresso, nas quais Obama perdeu maioria e passou a ser tratado como “presidente pato manco”.

Para o professor de Relações Internacionais da Faap Marcus Vinicius de Freitas, o perfil combativo de Hillary pode prejudicá-la em um ambiente em que os americanos desaprovam, cada vez mais, a polarização no debate eleitoral. Já os republicanos, diz, precisam renovar o discurso, para adotar uma visão mais inclusiva. “É uma eleição complicada porque os dois favoritos são nomes muito conhecidos pela opinião pública”, afirma Frei­tas. Qualquer mudança de postura dos republi­ca­nos não deve vir de Ted Cruz. Ainda assim, a corrida eleitoral antecipada nos EUA pode ajudar a minar o presidente Oba­ma, o democrata enfraquecido.