Nos últimos 20 anos, poucos negócios da economia brasileira experimentaram um crescimento tão espetacular quanto o de shopping centers. Ao longo de 2012 será aberto um volume recorde de 43 unidades, quase um por semana. Só na construção, o investimento previsto é da ordem de R$ 8 bilhões. O vertiginoso aumento do número de centros comerciais exemplifica a força do consumo no País, que gera oportunidades de negócios e empregos  em diversas áreas. Fique de olho. Em 2011, as famílias brasileiras desembolsaram a cifra recorde de R$ 2,5 trilhões na aquisição de produtos e serviços, segundo a consultoria paulistana IPC BR, em um mix cada vez mais variado. Essa movimentação está diretamente ligada ao incremento da renda média da população, que cresceu 24,3% no período 2004-2009, aumentando de R$ 599 para R$ 745, de acordo com o IBGE. De olho nesse potencial de consumo, empresas dos mais variados setores estão adaptando suas estratégias para crescer. 

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Sacola cheia: ao longo de 2012 devem ser abertos 43 shopping centers, um recorde
na história do setor no Brasil.

Tome o exemplo da Samsung. A filial da gigante sul-coreana de eletroeletrônicos e informática pretende lançar, em 2012, pelo menos 15 produtos específicos para a classe média. “O Brasil conta com um número cada vez maior de adultos inseridos no mercado de trabalho e, consequentemente, aptos a consumir”, diz Hamilton Yoshida, diretor de marketing da Samsung. Os coreanos também irão ampliar o portfólio, hoje composto basicamente por tevês, DVDs e câmeras fotográficas. Para isso, estão construindo sua terceira fábrica no País, em Limeira (SP). Com investimento de US$ 300 milhões, a unidade produzirá itens como geladeiras e lavadoras de roupa. Movimento semelhante está sendo feito pelo grupo paranaense O Boticário, de cosméticos. Em 2011, as vendas da rede, que inclui as franquias, cresceram 20%, atingindo R$ 5,6 bilhões. “O aumento do consumo é resultado da elevação da expectativa de vida e da crescente participação da mulher no mercado”, afirma Artur Grynbaum, presidente do Boticário. 

Para saciar o apetite das consumidoras, a empresa vai desembolsar R$ 355 milhões para erguer uma fábrica na Bahia. A expansão tem como objetivo dar suporte à nova orientação estratégica da empresa, que, além das 3.220 lojas administradas no sistema de franquia, passou a operar com vendas de porta em porta, com a criação da Eudora. O cenário positivo na área do consumo não beneficia apenas a indústria. Pesquisa da consultoria paulista Data Popular indica que houve uma inversão na proporção de gastos. Em 2002, metade da renda era usada na compra de produtos. Para 2011, a previsão é que, de cada R$ 100 desembolsados pela classe média, R$ 65,20 tenham sido destinados a serviços, enquanto R$ 34,80 foram usados na compra de bens. “As residências das famílias de classe média estão mais equipadas”, diz Renato Meirelles, sócio da Data Popular. “Quem adquire itens como computador acaba assinando pacotes de provedores de banda larga.”

 

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Na sala de aula: movimentação da classe C fez dobrar o número de universitários no país, em dez anos.

 

Segundo Meirelles, a participação dos serviços deverá aumentar  na cesta de gastos, sem prejuízo da ampliação da venda de bens duráveis, beneficiados por fatores como a redução da alíquota do IPI para eletrodomésticos. “As vendas para o primeiro trimestre de 2012 devem crescer até 15% sobre o acumulado janeiro-março de 2011”, diz Lourival Kiçula, presidente da Eletros, associação dos fabricantes de eletrônicos e eletrodomésticos. Na avaliação de Meirelles, a consolidação da classe C também tem um forte componente de esforço individual. “A educação passou a ser encarada como uma via rápida de ascensão social”, afirma. “Cada ano de estudo adiciona 15% na renda.” Por conta disso, nos últimos dez anos, dobrou para 6,5 milhões o número de universitários. Caudatários desse processo, os cursos de idiomas e de informática também experimentam um boom. É o caso do Multi, dono de marcas como Wizard e Microlins e cujo faturamento avançou 34%, em 2011, para R$ 3,2 bilhões.  

 

“Queremos adicionar 100 mil alunos e 300 escolas em 2012”, diz Carlos Wizard Martins, fundador e presidente do grupo, que agora mira cidades de até  40 mil habitantes, com franquias mais baratas. O segmento de saúde é outro que está longe de dar conta da demanda, especialmente no Norte e no Nordeste. Bom para a cearense Hapvida Saúde, líder na região com 1,8 milhão de associados. Apenas em 2011, ela inaugurou 20 unidades entre hospitais, pronto-socorros,  clínicas e laboratórios. No total, foram investidos R$ 80 milhões. “Como o nosso modelo de negócio é baseado em rede própria, tivemos de investir fortemente em infraestrutura para atender à demanda”, afirma Jorge Pinheiro, presidente executivo do Sistema Hapvida Saúde. O empresário, a exemplo de muitos de seus colegas que atuam em outros segmentos, traça planos otimistas. “Já reservamos outros R$ 40 milhões para aplicar ao longo do próximo ano.” 

 

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