Pinçar as melhores alternativas na bolsa tem sido uma tarefa árdua para os investidores neste ano. As turbulências na economia e a instabilidade de alguns setores tornam necessário redobrar os esforços para definir a melhor estratégia e reduzir os impactos negativos. Uma saída são os fundos de índices, os Exchange Traded Funds, ou ETFs, cujas cotas são negociadas como ações em bolsa. Em vez de ficar com vários papéis, o investidor compra a carteira do índice. A taxa de administração desses fundos é mais baixa e varia entre 0,20% e 0,54% ao ano, ante 2,5% e 3% no caso dos fundos de ações convencionais.

Bruno Stein, diretor da BlackRock, que possui US$ 3 bilhões sob gestão no Brasil e é responsável por nove dos 16 ETFs da bolsa, explica que os fundos de índice são mais seguros que os tradicionais, pois blindam o investidor contra erros na gestão. “Não somos contra a gestão ativa, mas não concordamos com uma gestão ruim e por isso acreditamos que o ETF é uma estratégia segura”, diz Stein. Quem apostou nos ETFs nos últimos meses tem motivos para comemorar. Enquanto o Ibovespa avança 10,5%, em 2014, conforme levantamento feito na segunda-feira 15, três dos 16 fundos de índice negociados na BM&F Bovespa estão rendendo até 20%.

A estrela dos ETFs é o SMAL11, que segue o índice de empresas de médio porte. Gerido pela americana BlackRock, o fundo rendeu 20,13% este ano. Parte da alta vem do avanço de 79,8% nos papéis do frigorífico Marfrig. O mercado respondeu à redução do prejuízo para R$ 55 milhões no segundo trimestre, uma queda de 43% ante o resultado de 2013. Sérgio Rial, presidente do Grupo Marfrig, disse em teleconferência no fim de agosto que a empresa aumentou seu caixa de R$ 1,8 bilhão, em dezembro de 2013, para R$ 2,6 bilhões no segundo trimestre.

“O resultado do período só não foi melhor por causa da redução de dias úteis”, disse Rial. Além do baixo custo, os ETFs são mais acessíveis. Segundo Marcelo de Jesus Define, superintendente de gestão de ativos da Caixa Econômica, esses fundos dispensam análise, o que faz diferença para o investidor pessoa física. “Comprando o equivalente a R$ 400 em cotas, o investidor tem acesso a todas as empresas de um determinado índice. Se ele fosse comprar papéis individualmente, teria uma operação cara e complexa.”

A Caixa é gestora do fundo XBOV11, vinculado ao Ibovespa. No acumulado do ano, esse fundo rende 17,5%. Outro índice que apresentou bons resultados no período foi o PIBB11, que reúne as 50 ações mais negociadas na bolsa e acumula rentabilidade de 18,3% no ano. Segundo o gestor Arlindo Penteado, da Itaú Asset Management, a ausência de interferências externas traz mais transparência ao investidor. “Esse é um tipo de ativo útil para quem busca exposição ao mercado amplo e é ideal para compor o investimento de ações em longo prazo.” É preciso tomar alguns cuidados.

William Eid, professor de finanças da FGV, avalia que, por possuir a mesma característica de uma ação, esses fundos terão custos toda vez que forem negociados. “Para que o ETF seja vantajoso, a pessoa não pode ficar entrando e saindo e, com isso, corroendo seus ganhos.” Comparado ao volume global de ETFs, o Brasil ainda é um mercado pequeno. O patrimônio líquido dessa categoria soma R$ 3 bilhões. No mundo, ela movimenta US$ 2,7 trilhões. Porém, as perspectivas são boas para esses fundos para os próximos meses.

Segundo Bernardo Ferreira, gestor de fundos quantitativos da XP Investimentos, a queda no número de IPOs vem forçando o mercado brasileiro a buscar novos produtos. “Em médio prazo, teremos mais índices setoriais e, consequentemente, mais fundos”, diz Ferreira. As mudanças podem aumentar o número de investidores pessoa física apostando nesses fundos, que atualmente possuem apenas 8,9% das cotas. Cerca de 40% dos fundos pertencem a investidores institucionais, 29% a estrangeiros e 20,8% a outros fundos de investimento. Um passo importante para alavancar a indústria de ETFs no Brasil já foi dado.

No início de agosto, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciou que trabalha na criação de fundos de renda fixa lastreados em debêntures e títulos públicos. Esses fundos poderão ser lançados a partir de janeiro do próximo ano e serão incentivados pela Medida Provisória nº 651, de 9 de julho de 2014, que tramita no Congresso. A medida prevê o incentivo, por meio da isenção de impostos, para alguns fundos. Bruno Stein, da BlackRock, acredita que com essa medida o investidor tenha mais opções e a indústria de ETFs no Brasil caminhe para se igualar aos grandes mercados internacionais.