Por qualquer medida o desempenho do comércio eletrônico brasileiro foi pujante. O total de vendas registradas em 2011 foi de R$ 18,7 bilhões, uma expansão de 28% em relação a 2010. No entanto, o trabalho das empresas de varejo, reais ou virtuais, e das administradoras de cartões de crédito e de meios de pagamento vem sendo secundado por um esforço não menos dedicado dos fraudadores. Os amigos do alheio virtuais também têm demonstrado ser incansáveis. No ano passado, segundo a processadora de cartões Cielo, as fraudes representaram perdas equivalentes a 0,6% das transações e a 1% do faturamento do total das vendas pela internet. “Esses números são preocupantes, ainda mais porque o percentual do faturamento é superior ao do número de transações”, diz Rômulo Dias, presidente da Cielo. 

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“Isso indica que os criminosos se concentram em fraudar transações que envolvem bens e serviços de maior valor agregado, com preços superiores aos das de médio porte.” Segundo o executivo, esse percentual de perdas é suficiente para corroer os lucros de muitos vendedores, especialmente aqueles que trabalham com margens apertadas. Mais do que gerar perdas, a atuação dos fraudadores é o principal entrave a uma popularização ainda maior do comércio eletrônico no Brasil. “O problema mais grave ocorre com as pequenas lojas virtuais, não apenas pelas transações que representam prejuízo, mas por aquelas que deixam de ser realizadas em razão da insegurança do vendedor”, diz Eduardo Daghum, sócio da Horus, consultoria paulista especializada na prevenção de fraudes. 

 

Uma grande empresa de varejo pode suportar as perdas com fraudes e continuar suas atividades. Já um vendedor pequeno, ou dedicado a um produto sazonal, pode ser obrigado a fechar as portas por causa da ação dos gatunos. “Um vendedor de enfeites de Natal ou de ovos de Páscoa não terá capital para a próxima estação de vendas e pode fechar as portas.” Esse risco impede que a competitividade de preços do comércio eletrônico seja estendida aos consumidores de menor renda. “Por temer fazer uma entrega em um bairro desconhecido, o comerciante pode simplesmente não finalizar a venda, apesar de o comprador ser íntegro e ter crédito para pagar a fatura”, diz Daghum. 

 

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Rômulo Dias, da Cielo: desvios representam 0,6% das transações

e 1% do volume de negócios.

 

Embora não haja estatísticas consolidadas, o consultor estima que a insegurança do vendedor pode representar o cancelamento de até 30% dos pedidos nos piores cenários. Uma perda tão ampla impede o surgimento de novos vendedores virtuais. As empresas de cartão vêm apostando várias fichas na prevenção de fraudes. A iniciativa mais recente foi da Cielo, que anunciou, no fim de março, uma parceria com a empresa americana Cybersource, subsidiária da administradora de cartões Visa – cujas transações eram, originalmente, exclusividade da Cielo. Pelo acordo, a Cielo vai oferecer aos comerciantes virtuais programas de proteção que ajudam a diferenciar os pedidos verdadeiros dos fraudulentos. O programa analisa até 260 variáveis do proprietário do cartão. 

 

Qualquer discrepância – por exemplo, um comprador de meia-idade sem filhos pequenos, que encomenda um brinquedo caríssimo longe das épocas festivas – alerta o sistema, que passa a verificar mais atentamente as características da transação. “A transação de um cliente que está no Rio de Janeiro e compra uma passagem de avião para ir de Manaus para São Paulo, no mesmo dia, tem alguma coisa errada”, diz Rômulo. Ao analisar informações como essas, os sistemas de detecção não apenas bloqueiam as compras fraudulentas, mas também impedem que compradores honestos sejam prejudicados. “Fraude zero não existe, a única maneira de impedir 100% das fraudes é com venda zero”, diz Daghum. No entanto, ao manter as perdas em níveis baixos, os sistemas garantem o crescimento do comércio eletrônico.

 

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