02/05/2012 - 21:00
O Brasil investe menos do que deveria em pesquisa e desenvolvimento, e dos poucos recursos que destina ao assunto, parte vinha sendo desperdiçada. Um retrato desse descaso era a quantidade de material importado que se perdia em aeroportos pela falta de experiência de agentes alfandegários em manusear desde microscópios até insumos químicos utilizados por pesquisadores. O biólogo Elíbio Rech, do Departamento de Engenharia Genética da Embrapa, por exemplo, perdeu um carregamento de enzimas, encomendado dos Estados Unidos, por não ter sido acondicionado na temperatura adequada, de 30ºC negativos, quando desembarcou no aeroporto Juscelino Kubitscheck, em Brasília. Teve de fazer um novo pedido, que demorou meses a chegar. “A pesquisa foi refeita, mas atrasou em quase um ano o cronograma original”, diz Rech.
Prazo enxuto: liberação de microscópio é feita em cinco dias, em vez de 25.
Para evitar pesadelos do gênero, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – que controla toda a importação para pesquisa no Brasil – deu início a um projeto-piloto, no início do ano passado, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, o CNPq Expresso, visando agilizar o desembaraço de equipamentos de pesquisa importados por via aérea. Bem-sucedido, o projeto está sendo implantado em outros dez aeroportos do País, com a promessa de que, enfim, os laboratórios passarão a contar com mais celeridade na importação de equipamentos e materiais para pesquisa. “Tínhamos muitos relatos de degradação de materiais de pesquisa na alfândega”, diz o presidente do CNPq, Glaucius Oliva. Agora, os artigos importados saem do país de origem com a identificação do CNPq Expresso. Assim, quando o item desembarca no Brasil, é encaminhado para um canal especial da Receita.
Oliva, do CNPQ: fim de material desperdiçado nos aeroportos.
Em Guarulhos, por onde passam 60% das importações desse tipo, os resultados são animadores. O prazo de liberação de um microscópio, por exemplo, imprescindível para os laboratórios, caiu de 25 para cinco dias. No ano passado, as 448 instituições de ensino voltadas à ciência e tecnologia no País importaram o equivalente a US$ 531 milhões, cinco vezes mais do que em 2002. A criação de canais mais rápidos responde a esse aumento da demanda. O CNPq Expresso é, na verdade, uma força-tarefa formada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Receita Federal, Infraero e Vigiagro – o órgão de fiscalização do Ministério da Agricultura. Para que os pesquisadores agilizem ainda mais o seu trabalho agora, só falta ampliar as verbas destinadas à pesquisa no Brasil, que investe por volta de 1,16% do PIB no setor. Os Estados Unidos, por exemplo, investem em torno de 2,5%.