Os campos de plantação da famosa raiz de ginseng não somem da vista de quem percorre a estrada que parte de Seul rumo a Daejeon, a 164 quilômetros da capital da Coreia do Sul. 

O idílico cenário, que parece ter sido geometricamente esculpido à mão, só não é mais deslumbrante porque já foi o tempo de colheita e o que restou está seco por causa do outono rigoroso. 

 

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“Queremos ser a número 1 no mundo e, para isso, crescer no Brasil é fundamental “

Seung-Hwa Suh, CEO mundial da Hankook

 

Mas ali, na pequena cidade conhecida como o Vale do Silício da Coreia do Sul, a próxima colheita passa longe do campo. É de lá que Seung-Hwa Suh, CEO mundial da Hankook, maior fabricante de pneus do país, com uma produção anual de 87 milhões de unidades e faturamento de US$ 5,1 bilhões, está traçando uma estratégia para extrair resultados do mercado brasileiro. 

 

“Um dia queremos ser a fabricante de pneus número 1 em qualidade e vendas no mundo e, para que isso se torne realidade, é fundamental ampliar a nossa presença no Brasil”, disse Suh à DINHEIRO. 

 

A meta é dobrar as vendas da marca no País – hoje na casa dos dois milhões de pneus por ano –, aproveitando o crescimento do mercado nacional, atualmente o quarto maior do mundo. 

 

A Hankook, contudo, optou por um atalho: pegar carona com as compatriotas Hyundai e Kia. Nos últimos cinco anos, as duas já dobraram suas vendas por aqui, saindo de 2,5% de fatia do mercado para 5% este ano. De 2009 para 2010 a alta nas vendas foi de 16%.    

 

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Além dos carros coreanos já montados, a empresa também aposta no mercado de reposição. Para isso, a empresa trará para o Brasil a sua rede Red Hankook, que atuará no varejo e também oferecerá serviços como balanceamento e troca de pneus, entre outros. 

 

Em 2011, devem ser inauguradas as cinco primeiras lojas. Essa mudança de atuação é radical. Isso porque, até agora, a Hankook só vendia em atacadistas de outras bandeiras. 

 

Agora, cravará seu nome com mais força. O crescimento por aqui será a base de uma estratégia muito maior e mais ousada, denominada pela companhia de “plano 5 – 1 – 1”, que significa se tornar o quinto maior fabricante mundial de pneus, alcançar lucro líquido de US$ 1 bilhão e produzir um bilhão de pneus, tudo isso no período de três a cinco anos. 

 

O desempenho da América Latina nesse plano pode ser o argumento que falta para a companhia instalar aqui uma fábrica. “O continente está entre as regiões preferidas para receber uma nova planta”, diz James Kwon, presidente da Hankook América Latina. O Brasil, maior mercado da região, seria o destino mais provável. Para isso, entretanto, a empresa precisa tornar sua marca conhecida no País. 

 

Há 16 anos trabalhando de forma tímida no Brasil, em cinco anos a multinacional planeja abocanhar 6% de um mercado que movimenta hoje R$ 9 bilhões. Atualmente, a participação no Brasil é de cerca de 3%, o que lhe garante um faturamento estimado em R$ 270 milhões.

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“O mercado ainda não soube reconhecer nosso desempenho e capacidade, mas agora, com a nova estratégia, isso vai mudar e esse reconhecimento virá”, afirma Kwon. Os especialistas se dividem sobre o alcance das metas da empresa. “Ela não é conhecida no Brasil porque só importa. 

 

Não fazia ações de marketing específicas para o mercado nacional”, diz Helgo Max Seitz, coordenador do curso de marketing da PUC de São Paulo. “Por sua marca ser forte na Ásia e na Europa, ela terá mais facilidade para entrar aqui.” 

 

Esse, porém, é apenas um dos pilares que sustentam a operação. Outro fator que pode decretar o futuro da companhia no Brasil é a falta de uma fábrica local. “Eles são competitivos, mas só trabalham com produtos importados. Estão aproveitando o real forte para trazer seus produtos para cá, mas isso pode mudar a qualquer momento”, diz Osmar Sanches, analista setorial da consultoria Lafis. 

 

Para Sanches há um alto risco de os preços dos produtos subirem de uma hora para outra, já que são importados, o que reduziria a competitividade da Hankook em relação às empresas que produzem por aqui. 

 

Apesar disso, o mercado interno está bastante aquecido e a sul-coreana pode se beneficiar da chegada de novos consumidores para crescer na cola da classe C, que passou a comprar mais carros. 

 

Em 2009, foram consumidos 58,5 milhões de pneus no País e a previsão é que sejam vendidos 65,5 milhões, 12% a mais neste ano. Mesmo assim, não será fácil abocanhar parte desse aumento, uma vez que quase todas as fabricantes instaladas no País anunciaram ampliação de  produção para garantir mercado. Nos próximos dois anos, US$ 1 bilhão será investido por companhias como Pirelli, Michelin e Bridgestone. Será que ela também vai pegar essa carona? 

Enviado de Seul