O ano de 2012 promete, em tese, ventos de mudança em algumas das principais nações do mundo. Rússia, França, Estados Unidos e Venezuela têm suas eleições presidenciais marcadas para este ano. Além disso, o Partido Comunista Chinês já marcou para outubro a sucessão do presidente Hu Jintao, que deve ser substituído pelo vice Xi Jinping. Se confirmado, Xi assumirá a chefia de Estado no ano que vem. O que deveria ser uma renovação, porém, na prática pode se transformar em mais do mesmo. No domingo 4, os russos são os primeiros a ir às urnas, quando o atual premiê, Vladimir Putin, deve ser eleito, trocando de lugar com o presidente, Dimitri Medvedev. 

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Saúde debilitada: o presidente venezuelano, Hugo Chávez, entra na disputa

presidencial abalado pelo tratamento do câncer.

 

Será o terceiro mandato do ex-chefe da KGB, que já ocupara o principal escritório do Kremlin, em Moscou, em dois períodos, sendo sucedido por seu aliado Medvedev, em 2006. Em abril, é a vez de os franceses decidirem se darão uma nova oportunidade para o presidente Nicolas Sarkozy. Desgastado pela crise europeia, o marido de Carla Bruni conseguiu reverter o quadro de impopularidade e avançou nas pesquisas. Na prévia mais recente, Sarkozy contava com 27% das preferências, contra 28,5% do socialista François Hollande, que lidera a corrida presidencial. A reeleição também é uma hipótese considerada pelos democratas nos Estados Unidos. 

 

Sem definição ainda do opositor republicano para o pleito de 6 de novembro – o mais provável é o ex-governador de Massachusetts Mitt Rooney –, o presidente Barack Obama conta com a simpatia dos americanos por ter colocado o país numa rota de recuperação. Para o Brasil, as mudanças de poder este ano devem afetar em quase nada sua agenda externa. “Nosso comércio exterior está concentrado em poucos produtos para mercados definidos”, diz Christian Lohbauer, da Universidade de São Paulo. “É o caso da soja e do minério para a China.” Um novo governo não mudará o apetite chinês pelas commodities. O mesmo vale para a Rússia, que importa açúcar e carne brasileiros. 

 

“Nos Estados Unidos, porém, a tendência é que haja mais políticas protecionistas, seja com Obama, seja com um presidente republicano, em função da crise econômica”, diz Maria Lucia  Lima, coordenadora de relações internacionais da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, de São Paulo. O quadro mais sensível para o Brasil fica por conta da vizinha Venezuela, que convive com o tratamento do câncer do presidente, Hugo Chávez, e tem eleições marcadas para o dia 7 de outubro. Na semana passada, o mandatário venezuelano esteve em Cuba para uma nova cirurgia de retirada de um tumor. A operação teria sido bem-sucedida, mas o real estado de saúde de Chávez é uma incógnita. 

 

Nos últimos meses, embora oficialmente no cargo, o mandatário se distanciou do dia a dia do governo e os projetos mantidos em conjunto com o Brasil ficaram em marcha lenta. O comércio bilateral ainda não voltou aos níveis anteriores à crise de 2008. Para engrossar o caldo, as empresas brasileiras enfrentam problemas para receber por mercadorias que exportaram com o sistema de câmbio centralizado em vigor no país. “Mas as empresas continuam fazendo negócios por lá porque aprenderam a lidar com a burocracia local”, diz Thiago de Aragão, da consultoria Arko Advice. “A Venezuela ainda é interessante porque absorve produtos que o Brasil tem dificuldades para colocar no eixo norte-atlântico”, diz Virgilio Arraes, professor da Universidade de Brasília. Chávez tem uma visita marcada ao Brasil no dia 24. 

 

O assunto mais importante do encontro com a presidenta Dilma é a refinaria de Abreu de Lima, em Pernambuco, um projeto da Petrobras em sociedade com a venezuelana PDVSA. Esta, porém, ainda não colocou nenhum centavo na refinaria. Em todo caso, tenha Chávez condições ou não de conquistar um novo mandato, o resultado das eleições não chega a tirar o sono do governo brasileiro. Henrique Capirles, seu principal opositor, não deve esfriar as relações com o Brasil, se sair vencedor. Isso porque Chávez criou uma aliança forte com o ex-presidente Lula, que beneficiou os dois lados. Entre 2005 e 2011, as exportações brasileiras cresceram de US$ 2,2 bilhões para US$ 4,6 bilhões. Já as exportações venezuelanas para o Brasil saíram de US$ 255 milhões para US$ 1,2 bilhão, um salto de 370%. Agora, é esperar para ver.

 

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