28/02/2012 - 21:00
O executivo Conrado Engel era só sorrisos ao divulgar os resultados do banco HSBC no Brasil, no dia 6 de março. Poucos dias depois, Engel anunciou que estava deixando o banco após nove anos. Seu novo endereço corporativo, a poucos quilômetros do antigo, é a torre espelhada do Banco Santander, na avenida Juscelino Kubitschek, em São Paulo, onde vai ocupar a vice-presidência de varejo. A mudança pegou os ingleses do HSBC desprevenidos: até a noite da quarta-feira 21, ainda não havia sido indicado seu sucessor. Interinamente, quem está respondendo pelo cargo é o argentino Antonio Losada, responsável pela América Latina. Mesmo com a mudança, os ingleses permanecem fleumáticos. “A saída do Conrado foi uma decisão pessoal, e não afeta nossa estratégia para o Brasil”, diz Hélio Duarte, diretor do HSBC.
Quem entra e quem sai: Na ilustração, da esquerda para a direita: Conrado Engel,
Marcial Portela (sentados), Fernando Martins e José Berenguer (em pé).
A notícia reacendeu persistentes rumores de que o banco estaria se desfazendo de suas operações por aqui. Nos últimos tempos, o HSBC tem vendido ou encerrado atividades pouco rentáveis ao redor do mundo. “Não somos as Nações Unidas, não temos de ter bandeiras fincadas em todos os países”, disse Stuart Gulliver, presidente mundial do HSBC, ao anunciar a nova estratégia no fim de 2010. A decisão mais recente nesse sentido foi anunciada na quarta-feira 21, quando foi comunicado o encerramento de sua operação de crédito no Canadá, que tem 75 pontos de venda e 500 funcionários. A ausência de um comprador motivou a decisão. O banco está procurando interessados em ficar com as atividades no Paraguai e no Uruguai, consideradas pouco relevantes.
No caso do Brasil, foram encerradas operações de crédito consignado por meio de agentes terceirizados e de financiamento a veículos usados em revendedoras. “Mas essas são as únicas mudanças, as operações brasileiras não estão à venda, esta unidade apresenta o quarto maior lucro do grupo em todo o mundo”, diz Duarte. Como explicar a saída de Engel, então? Quem conhece os meandros do HSBC avalia que sua estratégia cautelosa apresenta menos oportunidades de crescimento do que a agenda acelerada do Santander. Ao assumir a vice-presidência de varejo do banco espanhol, bem maior que o britânico (leia quadro), Engel entra na lista de candidatos à sua presidência no Brasil. Procurado, o executivo não falou com a DINHEIRO.
Ele vai assumir uma vaga que até há poucos dias era ocupada por José Berenguer, um dos poucos remanescentes da equipe formada pelo ex-presidente Fábio Barbosa no holandês ABN Amro Brasil, que havia sido comprado pelo Santander em 2009. O anúncio de sua chegada coincidiu com a saída de outro ex-ABN, o executivo Fernando Martins, responsável pelo marketing. A dança das cadeiras no banco espanhol mostra a nova face de sua estratégia, com a criação de uma vice-presidência de qualidade e eficiência. “Precisamos melhorar nosso desempenho”, disse Carlos Galán, vice-presidente financeiro do Santander, em uma apresentação a analistas de investidores no dia 13 de março. Na impossibilidade de fazer grandes aquisições em um mercado concentrado, a saída é aumentar a rentabilidade dos negócios. “Em três anos, nossa meta é ser o primeiro banco de todos os nossos clientes”, disse Galán.