Nos discursos de economistas desenvolvimentistas como Nelson Barbosa predominam críticas à austeridade fiscal pregada por liberais. Certa vez, no entanto, ao comentar o início do governo Lula, Barbosa admitiu que a manutenção do tripé – câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação –, receituário tradicionalmente liberal, foi acertada ao evitar “soluções mágicas para velhos problemas”. Na posse do novo ministro da Fazenda, na segunda-feira 21, a presidente Dilma Rousseff tentou dar um tom semelhante ao refutar “guinadas ou mudanças bruscas” na execução do ajuste fiscal em curso, ao mesmo tempo em que pregava a volta do crescimento.

O mercado, porém, não comprou o discurso moderado. Os últimos anos mostram que, na prática, os desenvolvimentistas tendem a adotar experimentações heterodoxas que acabaram gerando incertezas sobre o compromisso com a sustentabilidade das contas públicas. Oficializado na Fazenda após uma longa expectativa, o novo ministro tenta convencer a todos de que não abrirá mão do ajuste fiscal e de reformas como a da Previdência. “Somente com a estabilidade fiscal vamos ter um crescimento sustentável”, afirmou. No entanto, causa confusão ao acenar para a base aliada de Dilma com um ambiente pró-crescimento.

“Não vejo como será possível fazer um ajuste e ao mesmo tempo incentivar o crescimento”, diz Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos. “Temos de colocar a casa em ordem primeiro, pois o ajuste é fundamental para a confiança.” Por enquanto, Barbosa ainda é visto de duas formas: como um ex-participante da conferência da Associação dos Economistas Heterodoxos e como alguém que, sem autonomia, pode sucumbir aos ideais da presidente Dilma Rousseff. Por mais que reconheça sua capacidade de negociação política e sua habilidade técnica, o mercado reluta em conceder-lhe um voto de confiança e qualifica o esforço inicial em busca de credibilidade apenas como conversa, “gogó”. 

Antes mesmo da posse, a bolsa despencou e o dólar superou os R$ 4,00. No grupo dos desenvolvimentistas, o novo ministro poderia até ser considerado um integrante moderado. Mas jamais poderá apagar do seu currículo a sua parcela na criação da chamada “nova matriz econômica”, que conduziu o País ao atual quadro recessivo. A seu favor, pesa a discordância, em 2013, de excessos defendidos pela dupla Guido Mantega (Fazenda) e Arno Augustin (Tesouro) – todos endossados por Dilma – em temas como o controle de preços, o ritmo da expansão do crédito público e as intervenções no câmbio.

Na ocasião, deixou o cargo de secretário-executivo da Fazenda e foi dar aulas na Fundação Getúlio Vargas (FGV), onde classificou a expansão fiscal promovida a partir de 2012 como “desbalanceada”, defendeu ajustes nos preços controlados e clamou por mudanças impopulares, como na fórmula de reajuste dos salários mínimos, tema sobre o qual teve de recuar, meses depois, como ministro do Planejamento. “O desafio do Brasil é equacionar os interesses divergentes de financistas, industrialistas e trabalhistas”, afirmou em entrevista ao blog do ex-ministro José Dirceu, em 2013, quando estava fora do governo. “Isso exige muita capacidade política.”

Qualquer um que revisitar a trajetória de convicções de Barbosa poderá encontrar, em seu período de afastamento, frases a favor de um superávit primário entre 1,5% e 2% do PIB. Por outro lado, encontrará, nas suas passagens por Brasília, defesas às políticas de desoneração, de juros subsidiados, da contabilidade heterodoxa e da força do Estado como indutor do crescimento. O seu lado mais desenvolvimentista foi exacerbado, recentemente, nas batalhas com o liberal Joaquim Levy, como na defesa do de um orçamento com déficit para 2016, que resultou na perda do grau de investimento. Espera-se que a lição tenha sido aprendida.