O turismo fala em retomada desde o segundo semestre de 2020, quando a pandemia ainda estava em seu auge, mas foi a partir de 2022 que essa previsão se concretizou, mesmo que gradativamente. Entre os que mais celebram a pista livre está a CVC. Vindo de uma crise de imagem em virtude de um erro contábil em seus balanços financeiros pouco antes da Covid estourar em todo mundo e sem conseguir vender pacotes enquanto o vírus se alastrava, a companhia ganha um respiro com os resultados do último ano. Em meio a investimentos em tecnologia e estratégias para garantir o necessário crédito para seus clientes, caminha para um 2023 otimista.

Durante os nove primeiros meses de 2022, a CVC Corp vendeu R$ 10,4 bilhões, 77% a mais que em 2021. O valor ainda está abaixo que o pré-pandemia, é verdade. Em 2019, apenas na operação brasileira, as vendas foram de R$ 11,5 bilhões no mesmo período, mas demonstra que a esperada recuperação do turismo deixou de ser discurso. “O início do ano [de 2022] foi muito duro com a Omicron e eu tenho convicção que 2023 vai ser um ano pleno quando comparado com a pré-pandemia”, disse o CEO da CVC Corp, Leonel Andrade.

CAPILARIDADE DE MILHARES Rede de lojas físicas da CVC conta com 1,1 mil unidades pelo país.

Além da demanda reprimida que fez o setor voltar a vender, a CVC colocou em prática um plano de digitalização de sua operação. Conhecida por sua rede de lojas físicas, foi investido R$ 166 milhões nos nove primeiros meses do último ano em tecnologia. Esse montante foi destinado a alguns projetos, com destaque para uma nova plataforma de relacionamento, um programa de fidelidade que nasce com a vantagem da CVC possuir 33 milhões de clientes. Solução que coloca a empresa no caminho da omnicanalidade, no marketplace de crédito e que endereça um dos principais desafios para o varejo.

Tendo como público a classe C e funcionando com um formato de compras parceladas, e usufruto do produto quando ele ainda não está quitado, garantir que seus clientes tenham recursos para consumo é essencial. Nessa lógica, o serviço permite que os bancos participantes ofereçam soluções de crédito e a melhor oferta pode ser escolhida na hora. “Isso é uma vantagem competitiva enorme”, disse Andrade, “facilitando, principalmente, no momento atual de muita pressão sobre a renda e sobre o crédito”.

Com a estratégia de atuação que considera a digitalização e garante que seu consumidor possa comprar seus produtos, a CVC espera um 2023 positivo, mas não de calmaria. De acordo com o CEO, o maior desafio do setor não será vender viagem, mas ganhar dinheiro “porque as taxas de juros estão muito altas, o custo de capital é muito forte e está todo mundo reinvestindo e saindo com muita dívida da pandemia”. Na visão de Mariana Aldrigui, presidente do conselho de turismo da Fecomercio-SP, 2022 teve um mercado artificialmente grande, devido à pandemia. Por isso, entende que 2023 deve ser olhado com cautela. “A gente volta para algo similar a 2019, porque agora as leituras econômicas mostram que o ajuste inflacionário mexe no orçamento familiar e interfere nas viagens”, disse. De acordo com ela, passado o carnaval, quando o retrato econômico das famílias e da política estiver mais claro, será possível prever melhor o que esperar para o setor. Por enquanto, a visão é de que “será bom, mas não espetacular”, o que pode trazer um pouco de turbulência para a CVC e demais players.

“Está na hora do Brasil resolver a sua vocação de receber turistas. Se eu não estimulo a vinda, não vem investimento” Leonel Andrade CEO CVC Corp. (Crédito:Divulgação)

Qual a sua visão para o futuro do setor, considerando o comportamento do consumidor
e o bom ano de 2022, motivado por uma demanda reprimida que pode não se repetir?
O sonho de todos os meus colegas e o meu era ter um carro. Hoje, o sonho de todo universitário é conhecer o mundo, então do ponto de vista de experiência ou de demanda estrutural, o setor parece ter muito futuro. Isso me faz ser otimista. Estou vendendo algo que as pessoas querem comprar. Já a questão de a gente ter dificuldade de crédito, ter um modelo econômico com desafios de emprego, isso é típico de qualquer negócio de consumo. Nesse sentido, a gente foi o setor mais prejudicado pela pandemia. Imagina uma empresa como a nossa, que vendia por mês um bilhão e meio de viagem e passou a vender zero. Quem viveu isso só pode ser otimista.

E qual a influência que o novo governo pode ter nesse atual momento do turismo?
Está na hora do Brasil resolver a sua vocação de receber turistas. Se eu não estimulo a vinda, não vem investimento para cá, com isso fica mais caro para o brasileiro ir, não se constrói mais aeroportos… A vinda do turista é fundamental para estimular mais turismo. O turismo no Brasil é 8% do PIB. É significativo, mas é vergonhoso, perante a oportunidade. Espero que o novo governo olhe para o turismo como um negócio de consistência, não de oportunidade.