07/11/2014 - 20:00
A cerveja artesanal entrou na moda de uns anos para cá. A produção e a venda desse tipo de bebida não contam com números oficiais ou pesquisas, mas sites na internet, nas redes sociais, associações e confrarias atestam o crescimento do interesse dos consumidores. Entusiasmado com as oportunidades abertas por essa onda há dois anos, o químico e empresário Felipe “John” Gumiero se aliou ao publicitário e quadrinista Marcelo “Calote” Bellintani para produzir a cerveja “Juan Caloto” em um apartamento da zona sul de São Paulo. Os amigos da dupla provaram e aprovaram.
“Queríamos crescer, mas a lei restringe as vendas de cervejas caseiras”, afirma Gumiero. O jeito era contratar uma fábrica para produzir de acordo com a receita. Para arrecadar o capital a fim de bancar a empreitada, eles procuraram a Social Beers, plataforma de crowdfunding (expressão em inglês para financiamento coletivo), especializada no apoio a projetos de produção da bebida. A Social Beers começou a ser fermentada em fevereiro de 2013, quando o sommelier Carlos Lima participou de uma conversa sobre crowdfunding. “Nunca tinha apoiado nenhum projeto”, diz Lima.
No dia seguinte, ele ligou para os amigos Matheus Franco e Luiz Poppi, hoje seus sócios, e dessa conversa nasceu a Social Beers. A plataforma estreou com o lançamento da cerveja Sexta-Feira, parceria entre a Invicta, de Ribeirão Preto (SP), e a Sixpoint, de Nova York. Em maio deste ano, as primeiras garrafas chegaram às mãos das 434 pessoas que ajudaram a financiar a produção. Os dois projetos seguintes também envolveram fabricantes conceituados no mundo cervejeiro. No entanto, o recorde é da Juan Caloto, que atingiu sua meta em dez dias. A Social Beers, agora, estuda abrir um ponto de venda físico com as cervejas que ajudou a criar.
A Social Beers é mais um exemplo bem-sucedido da especialização do crowdfunding. Atualmente, existem plataformas sob medida voltadas para turismo, clubes de futebol, sustentabilidade, entre outras opções. Elas ganham espaço em relação aos sites genéricos por oferecer interfaces e formulários específicos ao segmento. “Quem entra na Social Beers sabe o que quer e não tem chance de encontrar outra coisa diferente de cerveja”, diz Lima. Outro exemplo de plataformas especializadas é a Bookstart, fundada por dois profissionais do mercado financeiro, Bernardo Obadia e Vitor Arteiro, que resolveram trabalhar com livros.
“Não é só dar o dinheiro”, diz Obadia. “Vamos até o final do processo.” Não pense que qualquer um pode sair por aí pedindo recursos para publicar um livro. A Bookstart analisa o potencial dos projetos e dá sugestões de melhorias antes de colocá-los no ar. Se livros são relativamente populares nesse meio, há quem queira abrir um segmento novo com investimentos em empresas. A EuSócio, fundada no Rio de Janeiro, em 2012, pretende fazer o chamado crowd equity, que dá aos contribuintes participações nas startups. A empresa, no entanto, ainda não pôs nenhum projeto de pé.
“A qualquer momento, o primeiro projeto será publicado”, afirma João Falcão, fundador da EuSócio. “O proponente precisa fazer ajuste de governança para cumprir os requisitos.” Segundo ele, a demora também se deve à regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o xerife do mercado de capitais brasileiro, cujo parecer é obrigatório para o início da operação. Enquanto os sites especializados buscam um lugar ao sol, o Catarse, principal operação de crowdfunding no Brasil, mostra-se cético em relação à tendência. “Uma plataforma de financiamento precisa de volume”, diz Felipe Caruso, coordenador do Catarse. “Quando se trabalha com nicho, cortam-se vários tipos de projetos.”