A cartilha das empresas iniciantes em tecnologia, em geral, segue regras bem simples. Primeiro, lance um serviço inovador e batalhe para receber investimento de um fundo de capital de risco. Depois, conquiste milhões de usuários. Por fim, pense em uma maneira de ganhar dinheiro. No jargão do setor, “monetizar” o negócio é a última etapa de uma startup bem-sucedida – Google e Facebook estão aí para provar que essa receita funciona e, quando isso acontece, é correr para o abraço. Esse é o caminho que vem seguindo o mineiro Tallis Gomes, de apenas 27 anos.

Em 2011, ele criou o aplicativo de táxi Easy Taxi em uma competição para empreendedores. No ano seguinte, recebeu R$ 10 milhões do fundo de investimento alemão Rocket Internet e abriu sua primeira operação internacional: no México. Nesta semana, a Easy Taxi anunciará seu quarto aporte de capital. Com os R$ 90 milhões que recebeu recentemente dos fundos Phenomen Ventures, de Moscou, e Tengelmann Group, da Alemanha, Gomes pretende acelerar ainda mais seu plano de internacionalização.

“Estamos em 32 países e queremos chegar a 50”, afirmou Gomes, sem revelar quais as regiões escolhidas, embora diga que seus investidores tenham interesse no mercado asiático. A Easy Taxi conta atualmente com uma rede de 120 mil taxistas em países como Equador, Tailândia, Hong Kong, Paquistão e Coreia do Sul. Nenhum outro aplicativo de táxi – e são muitos – opera em tantos mercados diferentes. Esse nível de internacionalização é raro para uma empresa de tecnologia brasileira, área na qual o País importa muito mais do que exporta.

Mas, tal qual reza a cartilha das startups, a companhia não dá lucro ainda – e não há um prazo para que isso aconteça. “Não é o momento de buscar o equilíbrio, há muito ainda a ser feito”, afirma Gomes, que tem como sua principal fonte de receita o Easy Taxi Empresas, solução lançada no início do ano que permite aos passageiros solicitarem um táxi através de uma conta corporativa. A plataforma proporciona aos gestores dos clientes o controle sobre o trajeto dos funcionários e o gasto com deslocamento. Recentemente, a Easy Taxi fechou parceria com o banco espanhol Santander, que faz com que as corridas saiam pela metade do preço para correntistas na madrugada.

Outra promoção tem como parceiro a rede de hotéis a preços populares Ibis Budget – seus hóspedes ganham um desconto de R$ 10 por corrida. As alianças também ajudam o aplicativo a ter novas funcionalidades. Um recurso recente permite que os usuários armazenem seu cartão de crédito no aplicativo para fazer os pagamentos mais rapidamente e de forma mais segura. A ferramenta foi desenvolvida em parceria com a Payleven, empresa da Rocket, especializada em pagamentos por meio do celular. À medida que a Easy Taxi acelera sua expansão internacional, a concorrência aperta no Brasil.

O principal competidor é o 99Taxis, criado pelo empresário Paulo Veras, que tem como sócios os fundos americanos Qualcomm Ventures e Monashees Capital. A empresa tomou o mercado de surpresa ao zerar as tarifas cobradas aos taxistas, o que forçou a Easy Taxi a seguir o movimento. Veras também respondeu à parceria com a Payleven aliando-se com a americana Paypal, pioneira dos pagamentos online no mundo da tecnologia. Outro rival é a ResolveAí, que criou uma solução para os pontos de alto fluxo de passageiros, como aeroportos e shoppings.

Em 30 locais do Rio de Janeiro e Fortaleza, incluindo o aeroporto da capital cearense, telas foram instaladas com o tempo estimado de espera dos táxis. “É similar ao sistema de chegadas e partidas da Infraero nos aeroportos”, afirma Gabriel Silva, CEO da ResolveAí. Ele tenta resolver o problema da rentabilidade do aplicativo com um sistema de assinaturas, segundo o qual somente taxistas que paguem uma taxa mensal que gira em torno de R$ 100 têm acesso a todas as funcionalidades do ResolveAí. “Em São Paulo, a gente praticamente não existe, mas em outubro vamos chegar com força à cidade”, afirma Silva.

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O Uber virou um caso de polícia

Os donos de aplicativos de táxi são unânimes nas críticas ao Uber, startup americana avaliada em US$ 17 bilhões, que transforma qualquer carro em um táxi. “É ilegal como vender drogas, como prostituição”, afirma Tallis Gomes, CEO do Easy Taxi. Paulo Veras, da 99Taxis, e Gabriel Silva, da ResolveAí, também apontam a ilegalidade do serviço. Polêmico onde se instala, o Uber motivou protestos e ações judiciais em diversos países, como Espanha, Coreia do Sul e Alemanha. No Brasil já virou caso de polícia.

De acordo com o delegado Alessandro Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) do Rio de Janeiro, existe uma investigação em curso sobre aplicativos que incentivam as pessoas a utilizar carros particulares para realizar serviço irregular de transporte de passageiros sob cobrança. É investigado um suposto exercício ilegal de profissão ou atividade. O crime, previsto no artigo 47 do Código Penal, prevê pena de prisão de 15 dias a três meses ou multa.

A investigação foi aberta a pedido da Secretaria Municipal de Transportes do Rio de Janeiro, primeira cidade a receber o aplicativo no Brasil. “O risco à população é que os motoristas desses aplicativos não passam pelos mesmos critérios nem cumprem exigências que um taxista regulamentado pela prefeitura tem de cumprir”, informou o órgão, em nota. A Prefeitura de São Paulo também corrobora a visão de que o serviço é ilegal e afirmou, em nota, realizar “operações constantes para coibir o transporte irregular de passageiros por veículos clandestinos”. O Uber não se manifestou até o fechamento desta edição.