Ao anunciar a incorporação oficial da corretora Link ao banco suíço UBS no fim de fevereiro, Daniel Mendonça de Barros, CEO da UBS Brasil Corretora, comemorou o fato de a corretora ser a líder em transações com contratos futuros na BM&FBovespa, com 16% do mercado, e ocupar o segundo lugar nos negócios com ações, com 8,9% do total. No entanto, Mendonça de Barros disse que a liderança não significava sossego. Ao contrário, exigia muito esforço e muito dinheiro. “Temos pela frente um programa agressivo de investimentos em informática e em telecomunicações”, disse. “A bolsa tem aumentado as exigências.” O problema de Barros e dos sócios das cerca de 70 corretoras independentes (não ligadas a bancos) é que sua atividade principal, a intermediação das compras e vendas de ações e de contratos futuros, tem sido um mau negócio há tempos. 

 

86.jpg

 

Até mesmo para as instituições ligadas a grandes conglomerados. Até a quinta-feira 7, apenas oito corretoras haviam divulgado seus resultados de 2012, segundo a Austin Rating. Em conjunto, esse grupo – que inclui as intermediadoras BES, Bradesco, Indusval, Santander, Safra, Título, Votorantim e Western Union – faturou apenas R$ 149 milhões no ano passado. No total, o lucro foi minguado, de R$ 129,6 milhões. Na média, esses resultados apresentaram uma piora de 15% em relação a 2011. Para enfrentar esse problema, a solução é reduzir custos e ganhar escala, algo difícil em um momento no qual o mercado não cresce e tanto as autoridades quanto a própria Bolsa estão mais exigentes em termos de sistemas, o que encarece as operações. 

 

87.jpg

Exemplo americano: ao adotar exigências menos estritas para algumas casas, a bolsa permite

que corretoras com menos dinheiro continuem operando e garante a diversidade do sistema

 

Para conter essa sangria, a bolsa deverá lançar, ainda no segundo trimestre, um plano para adaptar a arquitetura do mercado aos novos tempos. “Haverá dois grandes grupos de corretoras”, diz Edemir Pinto, CEO da BM&FBovespa. Um dos grupos, o menor, será o de corretoras que terão de cumprir exigências mais estritas em tecnologia, sistemas de telecomunicação e, principalmente, patrimônio líquido. Serão (nome provisório) as “full brokers”, ou corretoras completas, como são chamadas as congêneres nos Estados Unidos. A elas caberão tarefas como a transmissão de ordens, a compensação financeira e o cálculo do risco dos clientes, que requer computadores capazes de processar algoritmos sofisticados. 

 

O outro grupo será de empresas que terão de cumprir menos desses requisitos, mas, em contrapartida, terão de utilizar os serviços das corretoras completas para fazer trafegar suas ordens pelos sistemas da bolsa. Essas estão sendo chamadas de “introduction brokers”. Segundo Pinto, a mudança permitirá que as corretoras com menos capital para investir em sistemas possam continuar operando no mercado. “Elas vão cuidar mais do relacionamento com os clientes”, diz ele. Já as corretoras independentes com mais capital e aquelas ligadas a instituições financeiras poderão melhorar seu desempenho prestando serviços às concorrentes, que ganham flexibilidade. 

 

88.jpg

Daniel Mendonça de Barros, CEO da UBS Brasil: investimentos pesados

em tecnologia pela frente, para atender às exigências

de atualização do mercado

 

“Nossa ideia é que empresas de gestão de recursos e de assessoria de investimentos também se tornem ‘introduction brokers’ e atuem em nichos de mercado ou em regiões específicas do País”, diz ele. Ao permitir que algumas empresas operem com menos gastos e menos capital, a bolsa tenta desacelerar um inevitável processo de consolidação do mercado. Em junho de 2012, a corretora paulista Planner e a carioca Prosper anunciaram uma fusão de suas atividades para conter custos e ganhar escala. Pelas contas dos empresários do setor há outras transações a caminho. Os problemas das corretoras começaram em outubro de 2007, quando a antiga Bolsa de Valores de São Paulo abriu seu capital. Antes do lançamento, o pregão pertencia às corretoras. 

 

Ao venderem suas cotas, elas embolsaram R$ 6,6 bilhões. Em contrapartida, deixaram de ser proprietárias da bolsa e passaram a ser clientes de uma companhia aberta que tinha de apresentar um balanço redondo a seus acionistas. O proprietário de uma tradicional casa paulista resume bem a mudança. “A bolsa deixou de fingir que cobrava para prestar serviços e as corretoras deixaram de fingir que pagavam por eles”, diz o executivo. O dinheiro ganho com a abertura de capital permitiu a elas atravessar os anos magros após a euforia de 2007, mas agora os recursos começam a ficar escassos. Com a mudança, a bolsa pretende manter a diversidade no mercado.

 

89.jpg