O nome do presidente da Telefônica, Antônio Carlos Valente, esteve, literalmente, na boca dos principais dirigentes de telecomunicações na segunda-feira 12. Otávio Azevedo, presidente da AG Telecom, uma das controladoras da empresa de telefonia Oi, por exemplo, sugeriu-lhe uma união para comprar conteúdo da Globo na área de tevê por assinatura. A proposta foi apresentada em um debate na Futurecom, evento que reúne as principais lideranças e empresas do setor, na semana passada, em São Paulo. Em sua primeira aparição pública como presidente da Oi, o executivo Francisco Valim, por sua vez, resolveu provocar o colega da Telefônica, com quem, em breve, sua companhia competirá em telefonia fixa. “Fiquei feliz em saber que o Valente visitou o Pará”, disse Valim para uma plateia de mais de 400 pessoas, referindo-se a uma visita que o presidente da operadora espanhola havia feito àquele Estado recentemente para lançar um projeto de inclusão digital. “Deve ser a primeira oportunidade, não de férias, em que ele foi lá.” 

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Pronto para a batalha: sob comando unificado, a Telefônica, de Antônio Carlos Valente,
se arma para enfrentar concorrentes como a Oi, Claro e GVT 

 

Até o ministro das Comunicações, Paulo Bernardes, que foi ao evento anunciar um pacote de desoneração para construção de redes de telecomunicações (leia reportagem aqui), foi visto no estande da Telefônica em uma conversa acalorada com Valente. As três situações descritas acima são sinais do prestígio que o carioca Valente, 58 anos, engenheiro de formação, alcançou no setor de telecomunicações. Elas indicam também que seus rivais estão atentos aos seus movimentos. Desde que foi anunciado como novo presidente da Telefônica, em novembro de 2006, Valente sempre foi considerado um homem forte na cúpula espanhola da Telefônica. Seu papel, no entanto, era institucional. Executivo que fez carreira na Telebras, holding estatal que comandava as telecomunicações no Brasil antes da privatização do setor, em 1998, Valente foi também vice-presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) na década passada. 

 

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Por essas razões, goza de livre trânsito entre as autoridades de Brasília, o que lhe facilitava a tarefa de cuidar das questões regulatórias para a companhia espanhola. O dia a dia da operação da companhia no Brasil ficava nas mãos de outros executivos, como Mariano de Beer, argentino que foi diretor-geral da Telesp fixa e, mais recentemente, Luis Miguel Gilpérez López, espanhol que costurou todo o processo de integração da Telefônica com a Vivo. Na segunda-feira 12, Valente deu outra prova de seu prestígio e acumulou mais poder na Telefônica. Naquela tarde, ele anunciou o nome Paulo César Teixeira, até então vice-presidente da Vivo, como o novo diretor-geral da Telefônica. Ele substitui Gilpérez López, que retorna para a Espanha para assumir um posto na matriz. 

 

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Paulo César Teixeira: anunciado como novo diretor-geral da Telefônica, o executivo,

que era vice-presidente da Vivo, se reportará a Valente

 

Teixeira se reportará diretamente a Valente, algo que Gilpérez López, homem de confiança de César Alierta, o chefão da Telefônica, nunca foi obrigado a fazer. Passamos a ter a estrutura convencional da Telefônica no mundo”, afirmou Valente. A exemplo do patriota escocês William Wallace, do filme Coração Valente, estrelado pelo ator Mel Gibson, Valente é um guerreiro astuto. Resistiu à invasão dos executivos espanhóis e passou a liderar, de forma inconteste, a tropa da Telefônica no Brasil.  Para chegar a esse ponto, Valente enfrentou vários reveses na Telefônica. Por ter um cargo com funções institucionais, muitos do setor o chamavam jocosamente de “Rainha da Inglaterra”, em uma referência ao fato de que não detinha poder de decisão sobre as questões operacionais da companhia. 

 

Ele também teve de superar a crise do serviço de banda larga Speedy em 2009, quando, depois de sucessivas panes, a operadora de telecomunicações foi impedida de vender seu plano de internet rápida por mais de dois meses. Nesse mesmo ano, a Telefônica fez uma oferta pela empresa de telefonia paranaense GVT, mas foi superado pelo grupo francês Vivendi, que arrematou a companhia por R$ 7 bilhões. Esses fracassos pesaram sobre a imagem pública de Valente, mas não abalaram seu prestígio perante quem manda na matriz espanhola. “Ele sempre foi um executivo respeitado internamente”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria especializada em telecomunicações Teleco. “Agora, está ainda mais forte.” Nesta sua nova fase à frente da Telefônica, Valente terá a missão de lançar a operação unificada com a Vivo, que vai oferecer serviços convergentes de telefonia fixa, móvel, banda larga e tevê por assinatura, prevista para acontecer no primeiro trimestre de 2012. 

 

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“A Embratel, a Claro e a NET já estão trabalhando de forma integrada na parte de engenharia “

Carlos Zenteno, presidente da Claro

 

A pré-estreia, no entanto, acontece até o final deste ano, quando a Telefônica terá uma solução de telefone fixo, com tecnologia sem fio, que usará a rede 3G, da Vivo. Será a primeira vez em que a empresa medirá forças com a Oi, operadora presente em todos os Estados brasileiros, com exceção de São Paulo, na área de telefonia fixa. “A concorrência é o nome do jogo”, afirmou Valim, da Oi. “Mas a competição precisa se transferir dos grandes centros urbanos, com alto poder de consumo, para as pequenas cidades.” Outra área em que a disputa deve se acirrar é a da tevê por assinatura. A lei que permite que as teles operem tevê a cabo foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff na semana passada. Com isso, o governo estima que o número de assinantes dobre até 2015, quando chegará a 22 milhões. A medida aumentará a competição no mercado e forçará movimentações de todas as companhias, como a da mexicana América Móvil. 

 

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“A competição precisa se transferir dos grandes centros urbanos para as pequenas cidades”

Francisco Valim, presidente da Oi

 

Dona da Embratel, Claro e Net, ela já se prepara para unir suas operações e oferecer serviços convergentes. “Já estamos trabalhando integrados na parte de engenharia”, afirma Carlos Zenteno, presidente da Claro. “Não faz sentido fazer investimentos em cada uma das empresas isoladamente.” A GVT, por seu turno, anunciou na semana passada, o seu serviço de tevê que usará a tecnologia por satélite. “Em cinco anos, pretendemos ter uma participação de mercado maior em tevê do que em telecom”, afirma Amos Genish, presidente da GVT. Com a telefonia fixa e banda larga, a GVT deverá obter uma receita líquida de R$ 3,4 bilhões em 2011. A Oi estima gastar com a tevê por assinatura mais de R$ 1 bilhão dos R$ 5 bilhões previstos para investimentos neste ano. “Estamos começando de um estágio muito baixo”, afirma Valim. Não será diferente na Telefônica. “O mercado de tevê por assinatura receberá investimentos imensos”, afirma Valente. Desta vez, caberá a ele decidir como ganhar mercado nessa nova área. 

 

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