28/01/2016 - 18:37
Nos últimos anos, o brasileiro aprendeu, como nunca, a consumir e a apreciar um bom vinho. Mesmo após o início da crise econômica, a degustação da nobre bebida se manteve em alta no país da cervejinha gelada e da cachaça. Entre janeiro e novembro do ano passado, o mercado de vinhos do Brasil cresceu 15% em volume, com 215 milhões de garrafas, segundo a União Brasileira dos Vitivinicultores (Uvibra). Dentre os importados, mesmo com a forte alta do dólar, que encareceu os produtos e impactou no bolso de muitos apreciadores, houve um aumento de 1% do volume comprado durante 2015.
Mas a festa corre o risco de terminar em suco de uva. O primeiro grande impacto veio exatamente com a desvalorização do real frente ao dólar, durante o ano passado, que tornou as importações mais onerosas. E não há sinais de mudança no curto prazo. Na quinta-feira 21, o dólar fechou em R$ 4,16, a maior cotação na história do real. Essa hiperdesvalorização da moeda brasileira causou uma perda de receita de 10% para os importadores no ano passado, à medida que os consumidores migraram para os rótulos de menor preço.
No fim de dezembro, em mais uma estocada no setor, a presidente Dilma Rousseff confirmou, ao sancionar a Medida Provisória 690, que a comercialização de bebidas alcoólicas quentes – incluindo vinho, cachaça e uísque – pagaria, a partir do dia 1º de janeiro, uma alíquota de 10% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Anteriormente, havia um teto de R$ 0,73 por garrafa nacional. Mas o setor não terá tempo para chorar o espumante derramado se quiser continuar ganhando espaço nas mesas dos brasileiros.
Uma das maiores lojas de comércio eletrônico de vinho do País, a Evino, por exemplo, encontrou na tecnologia uma forma para evitar perdas de receita. A empresa está colocando em operação um aplicativo para o cliente fazer as suas compras pelo celular. A meta é dobrar o faturamento, em 2016, para R$ 90 milhões. Em um ano, a Evino espera que 30% dos pedidos venham via aplicativo. “Precisamos nos manter inovando para se diferenciar da concorrência”, diz Marcos Leal, sócio-fundador da Evino, ao lado de Ari Gorenstein. “O IPI só botou mais pressão.”
Para o comércio eletrônico, o IPI é, de fato, apenas um dos motivos de preocupação. Neste ano, a complexidade tributária aumentou por conta de mudanças do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). No dia 1º, entrou em vigor uma nova regra de partilha do valor arrecadado que obriga as empresas a colherem o imposto também no Estado em que o produto for comprado. Anteriormente, uma companhia de São Paulo, quando vendia para um cliente do Amapá, por exemplo, pagava o tributo apenas onde estava baseada a sua operação.
Agora, ela precisa encaminhar uma porcentagem do valor do imposto, que vai variar a cada ano, para o destino do produto. A nova regra também exige possuir inscrições estaduais em todas as secretarias da Fazenda. “A gente se preparou desde o meio do ano passado para a mudança. Muitas empresas não acreditavam que a alteração do ICMS iria acontecer”, diz Rogerio Salume, CEO da Wine.com.br, o terceiro maior comércio eletrônico de vinhos do mundo. “Agora, várias delas precisaram interromper as vendas ou estender o prazo de entrega.”
Além de se antecipar às mudanças, a companhia adotou outras estratégias para crescer na crise, e atingir a meta de R$ 300 milhões de faturamento em 2016, que representará um crescimento de 40%. “Estamos segurando o repasse da alta dos custos ao preço final fazendo melhores negociações com os produtores”, afirma o empresário. “Quem tinha margem de lucro de 5%, precisou diminuir para 4% ou 3%. Assim o consumidor sofre menos.”
Para contra-atacar a alta dos impostos, os produtores da Serra Gaúcha estão adotando duas estratégias: revendo suas margens de lucro e queimando os estoques das últimas safras. A maior empresa do setor no País, a Vinícola Aurora, que teve 90% de seus produtos impactados pelo IPI, afirma que ainda está conseguindo repassar apenas uma parte da alta dos seus custos. “Seguindo esse plano, venderemos o mesmo volume de litros de 2015, mas com uma alta de 5% a 10% na receita”, diz o diretor-geral, Hermínio Ficagna.