15/08/2014 - 20:00
O menor apetite dos investidores pela bolsa brasileira aliado a uma situação econômica menos favorável no País fez com que uma tempestade perfeita se formasse sobre o mercado de capitais nacional. Para conter essa tormenta – que poderia acarretar, em casos extremos, no fechamento de corretoras –, a BM&FBovespa e um grupo criado pela Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras (Ancord) elaboraram um novo modelo de atuação para o setor, que recebeu o aval da Comissão de Valores Mobiliários, em 6 de agosto.
Com isso, passam a existir duas categorias de intermediação: a Participante de Negociação Plena (PNP) e a Participante de Negociação (PN). A ideia é que as corretoras maiores passem a abrigar as pequenas sob seu guarda-chuva. Por trás dessa mudança, está a intenção de reduzir os custos das pequenas casas com infraestrutura e tecnologia, que, podem representar até 40% das despesas operacionais. Além disso, a transição pode representar um alívio no balancete das casas. Isso porque as libera da obrigação de depositar garantias na bolsa, cujo piso é de R$ 25 milhões.
Já para as plenas, a grande vantagem é a nova fonte de receita. Para a bolsa, as chamadas distribuidoras de “conta e ordem”, que antes não eram vistas individualmente ao operar sob corretoras, serão monitoradas. “Passaremos a reconhecer as corretoras pelo tamanho e modelo de negócio de cada uma”, disse Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa, durante demonstração de resultados, no dia 8. Independentemente da categoria escolhida, todas as corretoras terão de cumprir o roteiro básico do Programa de Qualificação Operacional e os seus clientes contarão com a proteção do Mecanismo de Ressarcimento de Prejuízos, que cobre perdas em casos de falhas.
As corretoras terão até 31 de dezembro para aderir ao novo modelo e a expectativa do presidente da bolsa é de que, das atuais 73 corretoras, de 10 a 15 se tornem PNs. Alguns detalhes precisam ser discutidos com cuidado. É o caso do risco da operação, que então era mitigado pelas garantias depositadas na bolsa. Com o fim dessa obrigatoriedade no caso das PNs, o problema passa a ser das PNPs. “Em algum momento, vamos estabelecer regras de depósito de garantias, mas os valores serão bem menores do que os exigidos pela bolsa”, diz Everson Ramos, diretor de canais eletrônicos da CGD Securities.
Hoje, a corretora já atende a clientes como Magliano, Souza Barros e Máxima. Alguns pontos não estão totalmente claros e preocupam os operadores. Nas telas de negociação, por exemplo, não aparece a identificação das corretoras “por conta e ordem”, apenas das grandes que executam as operações. Será que as telas passarão a demonstrar as transações feitas pelas pequenas? Outra dúvida é se os dois tipos terão de responder questões diferentes na hora de obter o selo de certificação da bolsa. Das 17 casas que divulgaram resultados no Banco Central até maio, apenas quatro registram lucro de janeiro a maio deste ano, segundo dados compilados pela TOV.
No caso da ICAP, o prejuízo acumulado alcança R$ 148,8 milhões, enquanto o patrimônio líquido é de R$ 60,5 milhões. “O modelo é uma aposta numa comunidade de corretoras e, quando o mercado melhorar, todo mundo sai ganhando”, afirma Ramos, da CGD. Alexandre Atherino, sócio da Guide Investimentos, concorda. “As corretoras vão poder investir no que traz receita para elas e devem focar em um nicho de atuação, seja câmbio, investidores institucionais ou alta frequência”, afirma. É o caso da Souza Barros que se especializou em agronegócio, hedge de commodities e moedas e operações de renda fixa.
“Os nossos resultados melhoraram. Ainda não tivemos lucro, mas estamos bem melhores com o controle de despesas”, diz Carlos Souza Barros, presidente da Ancord e sócio da corretora que leva o seu sobrenome. Assim como ela, a Magliano ainda não viu lucro, mas conseguiu reduzir o prejuízo. “Isso já foi muito bom. Nossos clientes nos elogiaram”, diz Raymundo Magliano Neto, presidente da corretora. O novo modelo pode até suscitar novas aquisições. “Tudo começa como uma parceria e depois, se o relacionamento for bom, pode virar uma aquisição. Negociar faz parte”, afirma Raul Meyer, superintendente da Ativa.