A partir de janeiro de 2016, a subsidiária do banco espanhol Santander no País voltará a ser comandada por um executivo brasileiro. O advogado e economista Sérgio Rial, ex-CEO do frigorífico Marfrig e atual presidente do Conselho de Administração do banco, deverá assumir a presidência no primeiro dia útil do ano que vem. O espanhol Jesús Zabalza, o atual presidente, permanecerá na vice-presidência do Conselho e deve encerrar suas atividades no Brasil antes do fim de 2016.

A troca de comando decorre de uma mudança na gestão, implantada por Ana Patrícia Botín. Ela assumiu o comando em setembro de 2014, poucos dias após a morte do pai, Emílio. Logo em suas primeiras páginas, o caderno de gestão do falecido banqueiro recomendava que as principais operações internacionais fossem chefiadas por executivos espanhóis, homens de confiança com trajetórias longas no banco. Esse foi o caso de Zabalza e de seu antecessor, Marcial Portela. Já Ana Patrícia tem demonstrado uma preferência pelo conteúdo nacional.

“Ana Patrícia criou uma cultura, as principais operações fora da Espanha agora são chefiadas por executivos nativos”, diz Marcos Madureira, diretor vice-presidente executivo do Santander. O Brasil será o último da lista a seguir a nova regra. A principal tarefa de Rial, que possui uma longa trajetória no mercado financeiro, será alinhar a rentabilidade do Santander com a da concorrência. Os resultados do banco espanhol vêm melhorando, mas o retorno para o acionista ainda está abaixo dos grandes de varejo listados em bolsa.

Segundo Madureira, uma maldade estatística prejudica os espanhóis na comparação. Por ter um patrimônio líquido proporcionalmente maior do que o dos competidores e manter muito dinheiro em caixa, diz ele, o Santander parece render menos. Esse quadro não deve mudar no curto prazo. “Nossa estratégia será manter uma reserva forte de capital, pois isso é uma vantagem em tempos de liquidez apertada.” Com a chegada de Rial, o Santander está encerrando um processo iniciado em 2007. Naquele ano, a crise internacional vergou o holandês ABN Amro.

O Santander aproveitou a oportunidade e arrematou as operações dos holandeses no Brasil, que haviam comprado o Real nove anos antes. A transação permitiu ao Santander mais que dobrar de tamanho e deixou os executivos espanhóis com as tarefas de absorver uma operação de grande porte e fundir duas culturas diametralmente opostas. “Havia uma grande massa verde, do ABN, uma grande massa vermelha, do Santander, e era preciso unificar as duas, e não simplesmente substituir uma pela outra”, diz Madureira. Durante algum tempo, essa tarefa foi confiada a Fábio Barbosa, que chefiava o ABN brasileiro.

Após liderar a venda de ações do banco em 2009, captando na época R$ 14,4 bilhões, em uma das maiores ofertas públicas registradas até então, Barbosa foi substituído por Portela, em 2011. Um ano depois chegou Zabalza, a quem coube os acertos finais na costura entre os dois bancos. “Enquanto o banco fazia tudo isso, a concorrência não ficou parada e partiu para conquistar mercado”, diz Madureira. O fato de a economia brasileira ter se desacelerado em 2014 e engatado uma marcha à ré no início deste ano, com um impacto profundo sobre o crédito e a inadimplência, não facilita as coisas.

Para acelerar seu crescimento, o Santander foi fundo na disputa pelo britânico HSBC, adquirido pelo Bradesco no início de agosto. “A aquisição faria sentido, porque, além de aumentar nossa rede, o HSBC tem uma boa participação em nichos que nos interessam, como o das grandes empresas com negócios fora do Brasil e o dos clientes de alta renda”, diz Madureira. A conta, porém, não fechou. Agora, o Santander vai se concentrar no crescimento orgânico, apoiado nos pilares dos empréstimos consignados e dos seguros.