E spalhados pelas belas regiões dos Vales de Casablanca, Cachapoal, Colchagua e Maipo, no Chile, os vinhedos da Cono Sur produzem 45 milhões de litros de vinho por ano. Mesmo sem um selo aparente no rótulo que liga a vinícola à matriz Concha y Toro, a marca desempenha um papel decisivo para a consolidação da companhia chilena como líder de vendas no mercado sul-americano e uma das três maiores do mundo. “São negócios independentes entre si, quanto ao marketing e distribuição, por exemplo”, afirma Adolfo Hurtado, enólogo-chefe da Cono Sur.

“Mas é a maneira que a Concha y Toro encontrou para conseguir um market share ainda maior”, diz. A Cono Sur foi criada, em 1993, como uma estratégia da Concha y Toro para conquistar um pedaço ainda maior do mercado de exportação de vinhos finos. De lá para cá, ao lado de outras marcas da holding, como Viña Maipo, Palo Alto e Bodega Trivento, a Cono Sur assumiu um peso importante nos negócios da matriz. Sozinha, ela representa 16% do seu faturamento de R$ 1,8 bilhão em 2012, último ano de divulgação dos resultados financeiros. Entre os seus mercados principais estão Japão, Canadá, Holanda, Suécia, México e, claro, o Brasil.

“Mas o maior consumidor é mesmo a Inglaterra”, afirma Hurtado. A sustentabilidade é a bandeira principal do processo produtivo da Cono Sur, que emprega gansos, em vez de ativos químicos, no combate aos insetos que prejudicam a qualidade da uva. Foram os vinhos elaborados com a pinot noir, a caprichosa uva tinta da Borgonha, que colocaram a empresa no topo. A vinícola se especializou nessa cepa e atualmente é a maior proprietária de vinhedos com a pinot no mundo. Produz inacreditáveis cinco milhões de garrafas de vinhos com essa uva por ano.

Mas, para continuar crescendo, a Cono Sur decidiu apostar em um cabernet sauvignon premium em seu portfólio. Batizado de Silencio, esse tinto de maior complexidade, que amadurece por 22 meses em barricas de carvalho francês, e elaborado com uvas cedidas por sua dona, a Concha Y Toro, chega ao mercado brasileiro com o preço salgado de R$ 780 a garrafa. O valor é semelhante ao do badalado Almaviva (R$ 750), um dos tintos mais conceituados do Chile, que nasceu da sociedade da própria Concha Y Toro com a francesa Baron Philippe de Rothschild. Desde o seu lançamento, na década de 1990, as duas vinícolas investem fortemente na construção de uma história para esse tinto cheia de glamour, posicionando-o como um objeto do desejo para os consumidores.

A cabernet sauvignon é a uva majoritária do Almaviva, assim como é a variedade principal na maioria dos grandes tintos andinos. “É importante para as vinícolas chilenas terem um cabernet sauvignon de destaque em seu portfólio”, diz Suzana Barelli, editora de vinhos da revista Menu e colunista do portal DINHEIRO. “Isso ajuda muito na imagem da vinícola e nas suas vendas, pois as pessoas esperam provar um cabernet do país.” A linha mais famosa da marca é mesmo a Bicicleta, um vinho de consumo diário, elaborado com uvas como a pinot noir, sauvignon blanc, chardonnay, merlot, syrah, entre outras.

O nome inusitado foi dado em homenagem aos funcionários da vinícola, que pedalam de vilarejos próximos até os vinhedos todos os dias. Quanto às perspectivas para o Brasil, Hurtado está otimista– e parece ter razão para isso. “O País é o nosso principal mercado na América do Sul”, diz. Segundo ele, de 2013 para cá, a Cono Sur cresceu 60% em vendas no País, graças ao investimento em distribuição, comandada pela importadoras de bebidas e alimentos La Pastina, de São Paulo, e à presença de seus vinhos de entrada em supermercados, como os da rede Pão de Açúcar. “Os brasileiros adoram os vinhos chilenos”, diz o enólogo. “Sorte a nossa.”