Dois termos são indispensáveis em qualquer conversa com executivos do setor de logística brasileiro: desafiador e custoso. São intrínsecos. Estamos falando de falta de infraestrutura adequada, ausência de investimentos e burocracia exacerbada. Estudo do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) estima que os custos logísticos do Brasil atingiram 13,3% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. Algo em torno de R$ 1,32 trilhão, dos R$ 9,9 trilhões apurados pelo IBGE. Essas despesas só têm aumentado. Em 2020 eram 12,6% e em 2017, 12,3%. Em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, gira em torno de 6% a 7%. No Anuário Mundial de competitividade, feito pelo IMD World Competitiveness Center (Instituto Internacional de Desenvolvimento Gerencial), da Suíça, o Brasil ficou na 59ª posição entre 63 economias analisadas, atrás de países como Botsuana (58), Cazaquistão (43) e Chipre (40), por exemplo.

Sem projetos robustos nas áreas de rodovias, ferrovias ou portuárias que poderiam mudar esse cenário, cabe à tecnologia tapar esses buracos e asfaltar o desenvolvimento do setor, segundo Vasco Oliveira, que em 2020 abriu a Nstech (a empresa usa a grafia somente em letras minúsculas), plataforma integradora de softwares do setor para gerar eficiência operacional, financeira e na gestão de risco. Surge como um meio digital de conectar clientes e fornecedores. Não para vendas, mas para gestão de negócios comuns. Uma espécie de torre de controle das operações e relações comerciais entre elas. “Não teremos grandes mudanças de infraestrutura nos próximos dez anos. Mas podemos acelerar essa logística com tecnologia. Operar melhor os ativos que já temos. É isso que fazemos”, disse o fundador e CEO. O modelo de negócio é, inicialmente, Software as a Service (SaaS), com assinatura das ferramentas.

Vivian Koblinsky

“Não teremos grandes mudanças de infraestrutura nos próximos dez anos. Mas podemos acelerar essa logística com tecnologia. Operar melhor os ativos que já temos.” Vasco Oliveira fundador e CEO da Nstech.

A companhia surgiu depois que Oliveira vendeu, em 2019, sua operadora logística AGV para a mexicana Femsa — o valor do negócio não foi revelado. Com mais de 20 anos de mercado, o executivo conhecia os gargalos do segmento e seus atores. Sua experiência mostrou que entre as principais dificuldades estava a integração de softwares de diversas empresas do ecossistema, como embarcadores, operadores logísticos, transportadoras, motoristas, seguradores, corretoras, postos de combustível e prestadores de serviços. Resolveu, então, criar o fundo Niche Partners, para investir em companhias líderes em seus setores, alta rentabilidade e vendas recorrentes. Em três anos foram mais de 20 aquisições e participações, que deram origem à Nstech. Entre M&As, contratações e outros custos, o investimento foi de R$ 1,5 bilhão. “É mais abrangente plataforma de open logistics da América Latina.”

Com o network da antiga AGV e as duas dezenas de aquisições, a Nstech possui 100 soluções proprietárias e 60 mil potenciais clientes Ano passado faturou R$ 500 milhões (o dobro de 2021). Este ano a receita deve alcançar R$ 800 milhões. Em 2023 lançará atualizações, um índice de gestão de riscos e um marketplace. Afinal, a logística da Nstech está aberta para dar mais competitividade ao setor.