Quem hoje quiser experimentar no Brasil a tecnologia de banda larga móvel 4G, que permite uma conexão web até dez vezes superior à 3G, deve se dirigir a algumas regiões paradisíacas do País. A Oi optou por fazer testes dessa nova tecnologia, conhecida como LTE, sigla para Long Term Evolution, no Leblon, um dos bairros mais badalados do Rio de Janeiro. Quem possui um celular da Claro, por sua vez, tem três cidades turísticas como opção: Campos do Jordão, em São Paulo, e Búzios ou Paraty, no Rio de Janeiro. À parte a bela paisagem e o pioneirismo de abrigarem projetos piloto na área de telecomunicações, essas regiões estão no centro de uma intrincada disputa entre as operadoras por um novo filão de mercado. 

 

150.jpg

 

As companhias do setor correm contra o relógio para oferecer em tempo hábil o serviço de 4G para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, eventos que atrairão um contingente enorme de turistas, o que aumentará de modo substancial a demanda por banda larga de alta velocidade. Se os testes lançados por Oi e Claro indicam que foi dada a largada do 4G, na prática isso não significa que o processo de implantação do serviço no País corra às mil maravilhas. As primeiras iniciativas são muito mais ações de marketing para marcar posição diante de uma nova tecnologia do que um serviço de fato à disposição do usuário. Afinal, só um modelo de smartphone adaptado a essa tecnologia está disponível no País: o Razr HD, da Motorola, que, por enquanto, só é comercializado em pacotes da Claro. 

 

Além disso, a adoção do sistema enfrenta diversos obstáculos envolvendo governo federal, prefeituras, fabricantes de celulares e de antenas. A pressão maior está sobre as operadoras de telefonia. Quando compraram por quase R$ 3 bilhões a autorização para operar na frequência do 4G, em junho, essas companhias assumiram o compromisso com o governo de oferecer o serviço nas cidades-sede da Copa do Mundo até o fim do ano que vem. Em no máximo seis meses já deverão comercializar o 4G nos municípios que abrigarão a Copa das Confederações, como Brasília e Recife. O prazo final do cronograma escalonado é 31 de dezembro de 2019, quando todas as cidades do País deverão ser cobertas. Isso significa ter novas antenas ou adaptar as existentes. 

 

151.jpg

Aposta firme: A Oi, de Francisco Valim, anunciou investimento

de R$ 1 bilhão na nova tecnologia

 

É aí que a situação começa a ficar complicada, pois o investimento para instalação do 4G no País é altíssimo. A pedido da DINHEIRO, a Ericsson, uma das líderes mundiais em antenas 4G, fez um cálculo do valor necessário para atender às metas até 2016, ano em que todas as cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes deverão ter o 4G. Levando-se em consideração o fato de que as estações rádio-base (ERBs, outro nome para as antenas) serão adaptadas, o investimento total feito pelas quatro operadoras deve ficar entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões, segundo Lourenço Coelho, vice-presidente de estratégia da Ericsson. “Isso sem contar que as operadoras ainda vão investir muito na tecnologia 3G”, afirma Coelho. 

 

Para evitar quedas de sinal e que o LTE vire motivo de reclamações de consumidores no futuro, uma solução seria o compartilhamento das torres entre as operadoras, de acordo com Francisco Valim, presidente da Oi. E tudo o que as empresas não querem é uma nova enxurrada de queixas por má prestação de serviços. A Oi, por exemplo, é uma das empresas que tentam deixar para trás os danos causados pela proibição de venda de linhas telefônicas imposta pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em julho. A punição, que também afetou a Claro e a TIM, foi uma forma de pressão para que as operadoras melhorassem os serviços de telefonia, entre eles a conexão 3G. 

 

152.jpg

Mercado disputado: Carlo Zenteno, presidente da Claro, acredita

que o Brasil terá ao menos cinco opções de celulares 4G até o Natal

 

O compartilhamento de antenas faria com que as operadoras dividissem parte dos custos de expansão. A Anatel estuda colocar essa demanda no Plano Geral de Metas de Compar­tilhamento (PGMC), que será votado pelo conselho da entidade até o fim de outubro. O item também serviria de atalho para as operadoras superarem os tortuosos trâmites municipais, que variam conforme a região. O governo, por sinal, já está elaborando um projeto de lei nacional para definir regras gerais para a instalação de torres. Se já não bastasse o imbróglio legislativo, há outro entrave para a disseminação do 4G: os celulares. Como o Brasil adotou um padrão de LTE diferente das principais economias mundiais, as maiores marcas de smart­phones terão de adaptar seus aparelhos no País. 

 

Ainda assim, as operadoras têm a expectativa de que os equipamentos com essa tecnologia estejam disponíveis para as vendas de fim de ano. Uma delas é a Claro. Quando anunciou a fase de testes do 4G da companhia, em agosto, Carlos Zenteno, seu presidente no Brasil, assegurou que haveria cinco modelos de celular 4G disponíveis no País até o Natal. A Motorola saiu na frente com comercialização do Razr HD. As outras fabricantes e operadoras, por sua vez, fazem mistério sobre quando lançarão seus modelos 4G, o que reforça a dúvida: será que dá tempo de cumprir o cronograma estabelecido com o governo federal? Ainda não há resposta a essa pergunta. Do que já se tem ideia, no entanto, é o que pode acontecer caso o processo se arraste demais. “Os usuários virão para cima de nós”, afirma Valim.

 

153.jpg