21/04/2016 - 17:00
A manhã do dia 8 de abril, uma sexta-feira, trouxe uma surpresa para o mercado financeiro. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA de março. A inflação oficial foi de 0,43%, a menor para o mês desde 2012. Mais do que isso, os prognósticos dos analistas oscilavam para percentuais entre 0,5% e 0,7%. A reação dos mercados foi imediata. As taxas dos contratos de juros futuros recuaram rapidamente e mantiveram a trajetória descendente pelos dias que se seguiram.
Na quarta-feira 20, os contratos com vencimento em janeiro de 2017 indicavam que, no apagar das luzes de 2016, os juros podem estar ao redor de 12,9% ao ano. Se confirmada, essa taxa representa uma queda de quase 1,5 ponto percentual em relação aos 14,25% correntes. Os prognósticos de queda aparecem também no boletim Focus, do Banco Central. Até quando os investidores brasileiros e internacionais poderão surfar na onda dos juros altos?
Fato raro, desta vez os analistas trazem uma notícia boa para quem tem um dinheirinho aplicado. “Os juros ainda vão continuar recompensando os investidores por um período de 12 a 18 meses”, diz Aquiles Mosca, estrategista de investimentos da gestora de recursos do Santander. Apesar de as expectativas apontarem para uma redução das taxas em algum momento antes deste Natal, esse movimento não será para já. A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 26 e 27 de abril, não deve trazer alterações nas taxas.
E mesmo quando os juros começarem a cair, em algum momento do segundo semestre, será em linha com a desaceleração dos índices. “Os juros reais, acima da variação da inflação, deverão permanecer entre 4% e 5% ao ano”, diz ele. Essa conta não considera o efeito dos impostos no bolso do investidor. Um aplicador europeu obtém uma rentabilidade próxima de zero na renda fixa. O investidor brasileiro desfruta de outra vantagem. Não será preciso fazer malabarismos nem viajar a locais exóticos para aproveitar essa onda. Os produtos financeiros que lhe permitem aproveitar essas taxas são fáceis de achar e bastante líquidos.
“A maneira mais simples de ganhar com a conta dos juros é optar por um investimento prefixado de prazo mais longo, como por exemplo um título bancário de um ou dois anos”, diz o economista Luiz Nazareth, diretor de produtos da gestora de origem italiana Azimuth Brasil, que tem R$ 4,2 bilhões sob administração. Para mais segurança, Nazareth recomenda que, no caso de o investidor optar por um título emitido por um banco menor, ele mantenha essa aplicação abaixo de R$ 250 mil, para estar coberto pela proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em caso de problemas de crédito da instituição financeira.
Outra alternativa são os papéis do Tesouro Direto. Na tarde da quarta-feira 20, as taxas oferecidas pelos títulos Tesouro Prefixado oscilavam entre 12,80% e 13,5% ao ano, com prazos entre nove meses e dez anos. Já os títulos indexados ao IPCA pagavam a variação da inflação mais juros de 6,16% a 6,47% ao ano. Mosca, do Santander, diz que os bons ganhos podem durar por prazos superiores a dois anos, embora sejam menos exuberantes.
Pelas contas dos analistas do banco espanhol, em 2018 a inflação deverá voltar para dentro da meta de 4,5% ao ano, com dois pontos percentuais de tolerância. Isso significa que, com alguma ajuda da parte fiscal, o Banco Central (BC) poderá reduzir as taxas a patamares mais alinhados com o resto do mundo. Mesmo assim, afirma o economista, mantendo taxas reais ao redor de 3% ao ano. “É um cenário comparável com o de outros países emergentes, e ainda proporciona bons retornos para o investidor”, diz ele.