Carina Repetto, 42 anos, é uma publicitária à procura de trabalho desde junho. Já o economista Francisco Sola Menéndez, 59, ganha a vida como empreendedor: é sócio de uma consultoria. Os dois espanhóis, que vivem em Madri, têm em comum, além do voto dado ao conservador Partido Popular (PP), que venceu as eleições no domingo 20, a esperança de que dias melhores virão em breve. À DINHEIRO, Carina explicou que a sua escolha por Mariano Rajoy, o novo primeiro-ministro, foi para dar uma guinada na economia. “Criar empregos deve ser a prioridade”, diz a publicitária, que está na lista dos cinco milhões de desempregados na Espanha (a taxa de 21,5% é a maior da Europa). Menéndez  tem o mesmo ponto de vista. “O novo governo precisa reativar a economia”, afirma, ciente da previsão de alta de apenas 0,7% do PIB em 2011.A expectativa em torno de Rajoy é enorme, mas a margem de manobra para solucionar a crise espanhola é pequena, ao menos no curto prazo. Não há lugar para mágicas, garantem especialistas. O novo primeiro-ministro já assume com a ingrata missão de cortar ainda mais gastos públicos, sem sufocar a já combalida economia espanhola. Estima-se que o tamanho do corte fique em € 20 bilhões só em 2012.

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Rajoy na escuridão: a Espanha tem a maior taxa de desemprego da Europa

O professor de Finanças Públicas da Universidade de Santiago de Compostela, Luis Caramés, defende um ajuste cauteloso. “Será necessário preservar os serviços de bem-estar, saúde e educação”, afirma Caramés. Os cortes cirúrgicos, por sua vez, precisarão ser acompanhados por uma política de estímulo à criação de emprego, base da plataforma que elegeu o candidato conservador e pôs fim ao reinado do socialista José Luis Rodrigues Zapatero. “Até onde eu sei, governos não conseguem criar empregos”, diz o britânico Derek Abell, professor da HSM Educação. Além de reverter a desconfiança sobre a sua capacidade de atuação, Rajoy terá de  convencer os espanhóis a contribuir mais um pouco com o pagamento de impostos e manter a credibilidade dentro da União Europeia. “Vamos honrar os acordos fiscais firmados com os europeus”, afirmou o candidato, logo após a vitória nas urnas.  “Precisamos de união para enfrentar a mais delicada conjuntura em 30 anos.” 

Apesar de o rombo espanhol não ser tão elevado – a relação dívida/PIB está em 67% ante 121% na Itália e 82% na Alemanha –, especula-se que o déficit ibérico não é sustentável. Para rolar a dívida do governo, os investidores estão cobrando juros altíssimos que, nos títulos de curto prazo, superam os da Grécia e os de Portugal. O cenário torna prioritária a blindagem do setor bancário.Na semana passada, o governo injetou € 3 bilhões no Banco de Valência e garantiu os depósitos dos correntistas. O Santander, por sua vez, líder no setor financeiro, anunciou a venda de 7,8% do capital no Chile e de 8% no Brasil, para garantir caixa.Com forte atuação no País – a operação brasileira responde por 25% do resultado mundial –, o banco espanhol avisa que a decisão de vender ativos não afetará em nada as atividades no Brasil. Seja como for, a crise tem estimulado outras empresas espanholas a investir aqui.

 

No período de janeiro a setembro deste ano, já vieram US$ 5,9 bilhões, uma alta de quase 300% em relação a 2010, informa a diretora-executiva da Câmara Oficial Espanhola de Comércio no Brasil, Nuria Pont. “Os empresários não estão nem ligando para a burocracia brasileira”, diz Nuria. “Todo mundo quer os setores de telecomunicações, construção, turismo e extração de petróleo.” Esse fluxo rumo ao Brasil tende a aumentar, se depender das novas previsões negativas para a economia da Espanha feitas pela Fundação de Caixa de Poupança (Funcas, na sigla em espanhol), uma renomada instituição privada. Em 2012, os espanhóis vão conviver com recessão, recorde de desemprego e queda dos investimentos. Até agora, Rajoy resistiu à pressão para revelar as medidas econômicas, o que só deve acontecer na cerimônia de posse, dias antes do Natal. Enquanto esperam por soluções, a publicitária Carina, o economista Menéndez e milhares de espanhóis fazem filas nas lotéricas para apostar no tradicional “El Gordo” de Natal, que distribuirá € 2,5 bilhões em prêmios. Lá, ninguém mais acredita em Papai Noel.

 

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