26/08/2016 - 20:00
Os grandes personagens da política brasileira ficaram gravados na história pelos seus feitos e, evidentemente, por alcunhas que definiam suas características mais marcantes. Quem não se lembra, Jânio Quadros era popularmente conhecido como “presidente vassourinha”, em alusão ao jingle “varre, varre, vassourinha”, utilizado na campanha eleitoral que prometia limpar a corrupção crônica do Brasil. Mesmo os mais sisudos também ganharam apelidos. O general João Figueiredo, o último militar a comandar o País, era chamado de “inesquecível” e, por motivos óbvios, “João Valentão”. Já Ernesto Geisel tornou-se o “canarinho belga”, dado seu apreço pela espécie.
Fernando Collor de Mello, o famoso “caçador de marajás”, depois foi chamado pelos conterrâneos de “yuppie de Canapi”, município pobre do interior de Alagoas onde conheceu sua ex-mulher, Rosane Collor. Itamar Franco, com seu topete sempre rebelde, era chamado de “pica-pau” e “cabelo de espiga de milho”.
Às vésperas de desocupar a presidência em definitivo, Dilma Rousseff parece ainda não ter conquistado tal homenagem. Já deu motivos para ganhar várias com seus discursos cômicos. Saudou a mandioca, demonstrou respeito pelo E.T. de Varginha, falou na inexistência de tecnologias para estocar vento, citou a importância da “mulher sapiens” para a sociedade, prometeu deixar em aberto a meta e dobrá-la depois de atingida além, de forma professoral, de explicar a transmissão do zika pela “mosquita que bota ovo”. Os stand ups tragicômicos de Dilma poderiam nos fazer lembrar de seu mandato com um sorriso, mas sua devastadora trajetória no Palácio do Planalto não inspira o bom-humor, nem deixa espaço para apelidos que não sejam ofensivos ou jocosos. Ela conseguiu transformar um sonho em pesadelo. Está entregando, na marra, um país indiscutivelmente pior do que quando assumiu. Sob sua gestão desastrosa, a taxa de desemprego se aproxima de 12%. As contas públicas, com previsão de déficit de R$ 170 bilhões neste ano, estão à beira do colapso. Dezenas de setores importantes da economia estão quebrando. Em termos de crescimento econômico, o Brasil perdeu, em 2015 e 2016, quase seis anos.
Em um país com um nível mais elevado de consciência política, Dilma já teria renunciado ou sido arrancada pelo povo. É verdade que a presidente chegou ao poder legitimamente, pelo voto popular, mas está sendo impichada de acordo com a mesma Constituição que a levou à presidência. As tentativas de qualificar a derrota como golpe só expõem ainda mais a incapacidade de justificar e reagir às bobagens cometidas em seu governo. Suas declarações públicas, enaltecendo a honradez de seu nome, revelam que a própria acusada ainda não entendeu – ou faz de conta que não – as razões que a varreram para fora do Palácio do Planalto.
A partir desta semana, Dilma será apenas mais um capítulo conturbado da história da política brasileira. Ainda levará muitos anos para que os estragos sejam consertados. Novos fatos surgirão e outros serão esclarecidos. A futura ex-presidente, provavelmente, sairá de Brasília com a sensação de missão não cumprida. Caberá à história definir como Dilma será lembrada por esta e pelas próximas gerações. Por enquanto, não me arrisco.