O resultado do terceiro trimestre de 2010 da metalúrgica Confab decepcionou muito os investidores. As vendas caíram 58% em relação ao mesmo período do ano passado, fazendo os lucros desabarem para R$ 397 mil, baixa de 99,3%. No dia do anúncio, as ações caíram 5%, preocupando investidores como o advogado goiano Luiz Murilo Pedreira e Souza. 

“Quando vi a queda no resultado, vendi 40% das ações que possuía”, diz ele. Felizmente para Souza, o resultado foi uma exceção. “Invisto em 13 empresas e apenas a Confab me decepcionou.” Souza investe em ações com uma característica em comum: são empresas que pagam bons dividendos e, além da Confab, possui papéis da Eternit, da Eletropaulo e da Tractebel. 

 

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Luiz Murilo Souza, advogado: ele escolhe as ações que premiam mais seus acionistas minoritários

 

Como ele, mais e mais investidores estão aproveitando a safra exuberante de balanços do terceiro trimestre deste ano para lucrar com os dividendos, numa política conhecida no mercado como cherry picking, ou “a escolha das cerejas”. Os números da Confab são uma exceção em meio a uma temporada de balanços muito positiva que ainda não terminou. Vale, Bradesco, Itaú Unibanco e Cielo, entre outras, apresentaram lucros recorde para o período. Líderes da bolsa como Petrobras e Banco do Brasil ainda devem mostrar bons resultados. 

 

“O mercado espera bons números devido principalmente ao crescimento da economia”, diz Cláudio Mifano, diretor-executivo da empresa de gestão de recursos independente Claritas Wealth Management. “Os bons indicadores econômicos começam a se traduzir em lucros”, diz ele.  Como ganhar dinheiro com essas empresas? O investidor deve observar não apenas se elas registram bons lucros, mas também se usam esse dinheiro para investir no próprio negócio ou se o repartem com os investidores, por meio dos dividendos. 

 

O indicador é o dividend yield, que equivale à rentabilidade dos dividendos pagos em relação ao capital investido na ação. As melhores pagadoras de dividendos costumam ser as empresas de telecomunicação, eletricidade e os bancos (veja quadro). Algumas empresas, como Bradesco e Itaú Unibanco, costumam pagar dividendos e juros sobre capital próprio (que são parecidos com os dividendos, com a diferença que neles o imposto é pago pelo investidor) todos os meses. Assim, quem quiser escolher os bons frutos deve observar a política da casa em primeiro lugar.

 

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O segundo passo é observar se há lucro para ser repartido. Bons resultados aumentam a perspectiva de as companhias distribuírem mais dividendos. “Empresas que faturam mais devem investir e ampliar o pagamento de dividendos”, diz José Góes, economista da corretora Wintrade. 

 

Para decidir quais frutos colocar em sua cesta, o investidor também deve avaliar se os bons resultados são sustentáveis ou se foram uma exceção. “A pergunta de um milhão é indagar quais foram os fundamentos que permitiram esse resultado”, diz Silvio Paixão, professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

 

Buscar as melhores pagadoras de dividendos será uma das melhores receitas para escolher os melhores frutos da bolsa de agora em diante. Para os especialistas, os preços das ações estão elevados e não há mais espaço para grandes altas. Mesmo assim, os resultados deverão continuar positivos pelos próximos trimestres. Ou seja, apostar nos dividendos garantirá uma boa colheita de lucros mesmo com as ações caras. “Já não há mais barganhas em bolsa, mas os resultados das empresas devem continuar muito bons”, diz Mifano, da Claritas.