O legendário Jack Welch, ex-presidente da General Electric (GE), talvez seja o mais famoso trainee que chegou ao posto máximo de uma empresa. Ídolo de dez entre dez empresários e executivos, Welch ingressou na GE em 1960, aos 24 anos, assumiu a presidência aos 45, em 1981, e lá ficou até se aposentar em 2001. Nesse período, além de elevar o faturamento da GE, de US$ 28 bilhões para US$ 130 bilhões, implementou novos valores gerenciais, como meritocracia, eficácia e simplicidade. Certa vez, Welch disse a um jovem recém-formado que a maior parte das carreiras não é fruto de uma decisão sobre aonde chegar. “Tampouco devem ser entendidas como uma espécie de jogo bem pensado que levará o profissional ao sucesso. Não. 

 

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Roger Ingold, presidente da Accenture, chegou ao topo da empresa em três décadas

 

A maior parte das carreiras é de caráter interativo. Tudo começa com um trabalho adequado às suas capacidades, interesses e metas”, disse Welch. Foi exatamente isso o que aconteceu com Roger Ingold, presidente da subsidiária brasileira da americana Accenture, empresa global de consultoria de gestão, serviços de tecnologia e terceirização, desde 2004. Quando Ingold entrou na companhia como trainee, há pouco mais de 30 anos, não imaginava que boa parte de sua trajetória profissional ocorreria ali. “Eu não tinha um objetivo de longo prazo no começo, queria ter essa experiência e a oportunidade de trabalhar em várias empresas”, diz Ingold, engenheiro de produção formado na Escola Politécnica da USP e pós-graduado em finanças pelo Insper. 

 

“Apesar de acabar ficando no mesmo local desde então, eu tive o privilégio de trabalhar com dezenas de empresas, pois como consultor você tem a possibilidade de passar por quatro ou cinco companhias a cada ano.” De acordo com ele, foi ao longo dessa trajetória que percebeu o quanto aquele trabalho preenchia suas expectativas e desenvolvia as suas capacidades profissionais. Ao jovem trainee de hoje, Ingold dá o seu recado: “Permaneça informado. Leia, assista e escute notícias de economia e negócios antes de sair de casa – e use a tecnologia como aliada.” Quando Ingold, que cursava o último ano de faculdade, começou a trabalhar como estagiário, a Accenture empregava 30 funcionários em São Paulo e 20 no Rio e ainda não dispunha de um concurso para estagiários. 

 

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Fabio Prado, presidente da Unilever no México, atuou em seis

países antes de assumir o posto atual

 

Atualmente, são quase nove mil pessoas no Brasil, uma das operações mais importantes para a empresa no mundo. Aproveitar o período de estágio para conhecer melhor a cultura e os valores da empresa e avaliar se estão alinhados às suas convicções pessoais é o primeiro passo para o sucesso profissional, de acordo com Domingos Bulus, presidente da White Martins. Ele foi admitido na empresa como estagiário em 1984, trabalhou em unidades no Brasil e no Exterior e, desde 2003, ocupa o cargo mais importante da companhia, sendo responsável pelas operações do Brasil e da América do Sul. “O maior desafio é não entrar na zona de conforto e estar sempre disposto a inovar e a se adaptar a diferentes cenários e situações”, afirma. Ter experiência como expatriado também é importante. 

 

“Ocupei diferentes posições, vivi em diferentes países e tive a chance de desenvolver uma visão de mercado mais apurada e competitiva, que até hoje me ajuda na tomada de decisões”, diz Bulus. O brasileiro Fabio Prado, presidente da Unilever México que começou como trainee na área de marketing em 1987, trabalhou em seis países diferentes na companhia antes de assumir o posto atual. “O êxito da minha carreira se deve primordialmente a dois fatores: primeiro a Unilever, que me proporcionou ótimas oportunidades para meu desenvolvimento profissional. O segundo fator foi minha vontade de aceitar novos desafios.” Na opinião de Prado, os jovens recém-formados devem aprender o máximo possível, não rejeitar tarefas ou desafios, confiar naquele que tem mais experiência e não ter medo de sugerir coisas novas. 

 

Jack Welch, ex-Ceo da GE: “tudo começa com um trabalho adequado

às suas capacidades, interesses e metas”

 

“Trainees são contratados para nos dar uma visão nova e fresca da nossa realidade”, diz Prado. “Use e abuse da sua condição de trainee.” Para Ricardo Garcia da Silva Carvalho, vice-presidente de recursos humanos da ArcelorMittal Brasil, admitido na siderúrgica em 1989, o crescimento profissional está intrinsecamente ligado à disposição em aceitar riscos. Foi com essa mentalidade que ele assumiu a gerência de vendas, deixando a área de recursos humanos – na qual atuava desde seus primeiros tempos na empresa – e também sua cidade natal, Belo Horizonte. “Outras características que busco para mim e para todos os profissionais da empresa são o equilíbrio entre a vida pessoal e a profissional e a valorização da saúde individual no ambiente corporativo”, diz ele.