27/05/2016 - 17:15
Quem conhece o executivo Bayard Gontijo, presidente da empresa de telefonia Oi, sabe que há um assunto capaz de tirá-lo do sério. É quando alguém compara a operadora de telecomunicações com as empresas do grupo X, do empresário Eike Batista, que quebraram de forma estrondosa em 2013. Nessas ocasiões, Gontijo gosta de lembrar que a Oi fatura R$ 27 bilhões, não é uma companhia pré-operacional, como era a petroleira OGX, conta com mais de 70 milhões de clientes e 140 mil funcionários, entre empregos diretos e indiretos. Mas, assim como sofreu o império X, a Oi enfrenta um endividamento elevado e corre contra o tempo para renegociar uma dívida que chegou a R$ 40,8 bilhões no primeiro trimestre de 2016, o equivalente a mais de cinco vezes a sua geração de caixa. O desenlace dessa história é fundamental para o futuro da Oi. Sem acordo com os credores, a companhia – que surgiu da fusão da Brasil Telecom com a Telemar, em 2009, e depois passou por uma união malsucedida com a Portugal Telecom – pode entrar com um pedido de recuperação judicial, algo que não está descartado, segundo apurou DINHEIRO.
As conversas com os detentores de seus “bonds” começaram no dia 16 de maio em Nova York. Os “bonds” são títulos de créditos de longos prazos, emitidos por governos, bancos ou empresas privadas interessadas em alongar o perfil de sua dívida. Pelo menos 30% desses credores estão na mesa de negociação, entre eles os fundos BlackRock, Citadel e Pacific Investment, assessorados pela americana Moelis & Company. A pressão é grande. Quase 50% da dívida da Oi vence até 2018. Neste ano, a empresa precisa pagar R$ 13,1 bilhões, dos quais R$ 5 bilhões já foram saldados. Restam outros R$ 8 bilhões que precisam ser quitados em 2016. DINHEIRO apurou que uma das hipóteses em discussão é a Oi oferecer , primeiro, um pagamento próximo ao valor praticado no mercado secundário de dívidas privadas (atualmente, os títulos são cotados a 20% de seu valor original). O valor remanescente seria renegociado com prazos mais longos ou convertido em ações da companhia. Caso essa última proposta prospere, os investidores apostariam que os papeis poderiam se valorizar em um cenário que contemplasse a fusão da Oi com outra operadora em um futuro próximo. Procurada, a Oi não quis comentar as negociações. Em um comunicado à Comissão de Valores Mobiliários, na terça-feira 24, a empresa informou que “ainda não há não há qualquer formalização ou definição com credores sobre proposta em relação à negociação da dívida financeira da companhia.”
Desde que assumiu a Oi, em outubro de 2014, Gontijo começou a trabalhar em uma estratégia para garantir um fôlego novo para a quarta maior operadora do Brasil. O executivo, com formação na área financeira, traçou um plano que contemplava corte de custos e melhoria da produtividade. Uma de suas primeiras medidas foi vender os ativos da Portugal Telecom, em Portugal, por € 5,7 bilhões para o grupo francês Altice, dos quais € 4,9 bilhões (algo como R$ 17 bilhões aos valores da época) foram para o caixa da empresa. A companhia também enxugou seus quadros. No ano passado, mil funcionários foram demitidos. Nesse ano, mais dois mil perderam o emprego. No total, a mão-de-obra encolheu mais de 20%. “Com a falta de investimentos, a situação está se deteriorando”, diz um funcionário que deixou a operadora no último corte, em maio.
Simultaneamente, Gontijo trabalhou para viabilizar uma fusão com a rival TIM. Contratou o banco BTG Pactual para assessorá-lo e conseguiu US$ 4 bilhões do fundo Letter One, do bilionário russo Mikhail Fridman. O dinheiro só chegaria aos cofres da Oi se o negócio com os italianos da Telecom Italia, controladores da TIM, fosse adiante. A transação, como se sabe, não vingou. Sem alternativas, a Oi colocou em prática o seu plano B. Contratou a americana PJT Partners como consultora financeira e os escritórios de advocacia Barbosa Müssnich & Aragão e White & Case LLP. Internamente, um time de 30 pessoas está dedicado integralmente a resolver a questão da dívida. “O Gontijo está fazendo tudo o que está ao alcance dele”, diz um influente executivo do setor de telefonia. “Ele é o melhor presidente que a Oi poderia ter, dadas as condições atuais.”
Essa não é a única frente de batalha de Gontijo. O executivo se desdobra para que a renegociação da dívida não paralise a companhia. Em reuniões com os funcionários, ele tem dito com frequência que é preciso tocar a vida operacional, independentemente das questões financeiras. Nos últimos meses, a operadora fez também uma ofensiva comercial e colocou no mercado novas ofertas convergentes. O Oi Total, por exemplo, integra telefonia móvel, banda larga, tevê por assinatura e telefonia fixa. A meta é conquistar um milhão de clientes com esse serviço até o fim de 2016. No ano passado, a geração de caixa de rotina cresceu 6,9%, atingindo R$ 7,6 bilhões, uma das poucas linhas azuis de um balanço que registrou um prejuízo de R$ 5,3 bilhões. Outro sinal positivo foi o aumento de investimentos. Nos últimos anos, a operadora com sede no Rio de Janeiro foi a que menos gastou entre os grandes grupos de telefonia, como a espanhola Telefônica Vivo e a mexicana América Móvil, dona de Claro, NET e Embratel. No primeiro trimestre de 2016, os investimentos somaram R$ 1,2 bilhão, aumento de 22,3% ante o mesmo período do ano passado.
No começo de maio, a Oi conseguiu o que foi considerada uma de suas principais vitórias na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O órgão regulador aprovou a conversão de R$ 1,2 bilhão de multas em investimentos de R$ 3,2 bilhões nos próximos quatro anos. A Oi, pelo acordo, tem de ampliar o acesso e a cobertura 3G e substituir a rede em municípios da Baixada Fluminense, entre outros compromissos. Outra batalha que trava com o governo é a questão dos bens reversíveis. Hoje, a Oi é dona de sete mil imóveis, o que fez dela, segundo brincou Gontijo em um evento de telecomunicações no ano passado, uma das maiores imobiliárias do mundo. O problema é que a empresa não sabe se pode vendê-los, pois há dúvidas se eles precisam ser devolvidos no fim da concessão. “Ninguém vai querer comprar uma empresa sem saber quais são os seus ativos”, diz Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, especializada em telecomunicações. “Isso afeta o valor da Oi.”
Na bolsa, a operadora, que já chegou a valer R$ 14 bilhões em 2012, está avaliada em pouco menos de R$ 600 milhões. Os imóveis não são os únicos ativos que a Oi ainda tem para vender. A empresa é dona de uma fatia de 25% da Unitel, maior operadora de telefonia da Angola. Essa participação vale cerca de R$ 5 bilhões, segundo o balanço da companhia. Os outros 75% estão nas mãos de angolanos, entre eles a bilionária Isabel dos Santos, filha do presidente José Eduardo dos Santos. Os sócios africanos estão criando uma série de dificuldades para os brasileiros saírem do negócio. A operadora contratou também o banco de investimento Credit Suisse para vender o BRTCC, um call center com mais de 10 mil posições de atendimento. Mas desistiu da transação porque as ofertas foram muito baixas. Estima-se que ele possa valer até R$ 300 milhões, se a economia se recuperar. Nada disso, no entanto, dará resultado se a Oi não resolver o enrosco de sua dúvida.