Em novembro de 2014, quando desembarcou no Brasil para assumir o comando da DHL Supply Chain, braço de logística, armazenagem e distribuição da gigante alemã DHL, Javier Bilbao encontrou um cenário preocupante. Na contramão dos anos de crescimento acelerado, o País vivia o início de uma das suas piores crises econômicas. O executivo basco de 41 anos, porém, não era um marinheiro de primeira viagem. Na bagagem, trazia a experiência de mais de cinco anos à frente das operações na Espanha e em Portugal, quando enfrentou os impactos da crise europeia.

“A situação por aqui era semelhante ao que passei na Europa”, diz o executivo. “Minha vivência anterior foi essencial para entender rapidamente que o ciclo tinha mudado e era preciso virar a chave.” Com sua chegada, Bilbao colocou em prática duas das principais lições aprendidas na Europa. A primeira delas foi a necessidade de estar ainda mais próximo dos clientes. Ele também estimulou sua equipe a adotar um olhar apurado para as etapas da cadeia nas quais a divisão tinha pouca presença ou não atuava diretamente.

A partir dessas premissas, a DHL Supply Chain identificou um atalho para superar o cenário adverso: em busca de maior eficiência e redução de custos, as empresas estão mais dispostas a transferir suas operações de logística. Especialmente se o parceiro for capaz de assumir grande parte ou mesmo 100% desses processos. “Há muito espaço para a terceirização logística no Brasil, ainda mais neste momento de crise.” Instalado em uma área de 36 mil metros quadrados em Guarulhos, na Grande São Paulo, um dos mais novos centros de distribuição operados pela DHL Supply Chain ilustra essa tendência.

Com 240 funcionários, a estrutura é voltada exclusivamente à francesa Sanofi. No projeto, a farmacêutica unificou a logística de três divisões, que representam 80% dos seus produtos no País: Sanofi Farma, de medicamentos isentos de prescrição; Sanofi Pasteur, de vacinas; e Medley, de genéricos. Até então, a DHL cobria apenas uma parcela dessas operações. O restante estava dividido entre um concorrente e o trabalho do próprio time da Sanofi. Com o plano de investir € 200 milhões de euros na estrutura, a Sanofi já captura benefícios com o Centro de Distribuição.

“Reduzimos os custos em 30% e o tempo entre o pedido e a entrega para o cliente em até 45%”, diz Rodrigo Alponti, diretor de supply chain da Sanofi no Brasil. “O CD garante a expansão da Sanofi no Brasil por pelo menos cinco anos”, afirma Alponti. Como parte da escola europeia de Bilbao, o executivo também passou a dar maior atenção em etapas da cadeia que vão além da armazenagem de produtos, sua principal atividade no País. Com a retração do setor automotivo, os serviços de logística dentro das fábricas dos clientes, antes mais restritos às montadoras, ganharam escala em outros segmentos.

Dentro dessa perspectiva, a DHL assumiu, recentemente a operação de armazenagem da francesa Pernod Ricard, dona de marcas como Ballantine’s e Absolut, nas fábricas da companhia em Resende (RJ) e Suape (PE). A exploração de novas etapas da cadeia também entrou no escopo. A produção de embalagens e displays promocionais foi a principal vertente. No primeiro trimestre de 2017, a DHL vai inaugurar, em São Paulo, um centro dedicado exclusivamente a essa oferta.

“Esse modelo vai ao encontro da demanda crescente dos clientes em compartilhar custos para ganhar eficiência”, diz Pedro Moreira, presidente da Abralog. A DHL Supply Chain acumula uma receita global de € 10,3 bilhões até setembro. A unidade tem como meta gerar 30% de seu faturamento em economias emergentes em 2020, ante os atuais 20%. “O Brasil é um dos focos para alcançar esse número”, diz Bilbao. “A despeito de qualquer crise, as respostas da operação foram assertivas e nosso balanço com a matriz é positivo.”