14/10/2022 - 5:50
Parece algo da década de 1980, dos tempos em que a inflação impedia as pessoas de comprarem automóveis a prazo, mas é quase certo que o consórcio para veículos está de volta. De acordo com dados da Associação Brasileira de Consórcio (Abac), as vendas de cotas de veículos cresceram 7,6% entre janeiro a agosto de 2022 em igual comparação anual.
Segundo o presidente da entidade, Paulo Roberto Rossi, o setor de carros é o que registra mais buscas. “Carro continua sendo o bem mais lembrado desse segmento com 4,14 milhões de participantes”, disse.
Para Denis Medina, economista e professor da FAC-SP, o não pagamento de juros pode ser um dos motivos para a alta. A disparada das taxas de crédito pesou no bolso do consumidor. A Selic foi de 2% em março de 2021 para 13,75% em setembro de 2022. “O custo de administração do consórcio é mais baixo, visto o atual patamar das taxas de juros.”
Um outro ponto é o lado comportamental. Existem pessoas que não conseguem poupar. “O consórcio é uma opção para quem não tem a disciplina de poupar. Ou a pessoa até poupa, porém, ao longo do tempo gasta com outras coisas”, disse.
Por outro lado, o consumidor deve ficar atento. De acordo com o sócio da Valor Capital Pablo Alencar, o tempo pode não ser um aliado. “A pessoa pode não ser sorteada no começo, o que pode fazer com que demore muito mais do que ela esperava para ter o carro desejado”, disse.
De acordo com Alencar, um outro empecilho seria se o consorciado desistisse. “Se o cliente precisar desistir, ele pode ter prejuízo (com a multa) e só receber o recurso aportado ao final do grupo”, afirmou.

“O valor da carta de crédito atrelado ao IPCA traz mais previsibilidade sobre possíveis reajustes na parcela do consumidor” Cláudia Sampaio, superintendente executiva da área de Consórcios do Santander.
Saindo do campo das ideias, DINHEIRO conversou com quatro bancos que oferecem o produto. A primeira diferença é a forma como a carta de crédito é ajustada ao longo do tempo. Alguns atrelam o valor da carta a um veículo específico, que é escolhido pelo cliente. “O usuário escolhe um determinado carro, quando ele for contemplado vai receber o valor para comprar esse veículo, mas ele também pode comprar qualquer carro que tenha o mesmo valor da carta”, disse o diretor da Bradesco Consórcios Francisco Fernandes.
Para que todos consigam comprar o carro no final do consórcio, as prestações são reajustadas ao longo do tempo de acordo com a variação do preço do veículo, segundo ele. “Se ficar barato, as parcelas recuam, assim como o valor da carta de crédito. Caso o preço suba, as parcelas sobem”, disse.
O Santander trabalha de duas formas. A primeira é exatamente igual a do Bradesco, com a carta atrelada ao valor de um veículo específico. Já a segunda é com o reajuste baseado no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). “Trouxemos essa opção por causa da disparada dos preços dos veículos no último ano”, afirmou a superintendente-executiva da área de Consórcios do Santander, Cláudia Sampaio.
O banco notou que passou a vender cartas de crédito com um valor acima da média da concorrência, que são os automóveis com valor a partir de R$ 200 mil.
Já o Itaú não atrela o valor do consórcio a um veículo específico, tudo é definido de acordo com a faixa de preço estabelecida, que permite a compra de qualquer produto daquele valor. O reajuste é feito de acordo com uma tabela referencial “A mudança do valor é feita pela variação média de todos os automóveis que fazem parte da tabela Molicar”, afirmou o superintendente do Itaú Unibanco, Fabrizio Ianelli.
Independentemente do modelo de cada banco, a principal dica dos especialistas é pesquisar as condições, prazo e as letras miúdas nos contratos para evitar multas pesadas no caso de desistência. Sorte e disciplina são atributos para sucesso dos contemplados.