A chiquérrima bolsa da francesa Christine Lagarde, diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), deve ficar bem mais cheia em breve. Mas Lagarde não reclamará do peso extra: o organismo que ela dirige vai dobrar sua capacidade de empréstimos recebendo cerca de US$ 400 bilhões em recursos de todo o mundo, o que irá reforçar a munição contra a crise europeia. Os Estados Unidos ficarão de fora do esforço, que, até a quinta-feira 19, já atingia US$ 320 bilhões com promessas de países europeus e do Japão. O restante seria fornecido pelos Brics (Brasil, Rússia, China e Índia). O maior volume, cerca de US$ 60 bilhões, seria dado pela China, e especula-se que a parcela do Brasil ficaria em torno de US$ 10 bilhões. Só que chegou a hora do xeque-mate: o grupo diz que, mesmo tendo recursos, só abrirá a carteira se houver progressos reais no poder de voto dos países emergentes na organização multilateral.

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Christine Lagarde: ”Espero que os Brics mostrem compromisso com o multilateralismo”.

 

“Espero um sinal de compromisso dos Brics com o multilateralismo”, afirmou Lagarde na abertura da reunião de primavera do FMI e Banco Mundial, na quinta-feira 19, em Washington. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, indicou que o Brasil poderá participar, mas não quis falar em valores. “Existem condições prévias que não foram atendidas”, ressaltou. A posição da China foi a mesma. Até agora, o acordo fechado em 2010, para que os países europeus percam dois de seus oito lugares na diretoria executiva do FMI, não foi cumprido porque não houve ratificação dos Estados Unidos. Com a lenta mudança nas instituições multilaterais, os EUA elegeram sem nenhuma consulta a países emergentes o novo presidente do Banco Mundial, o coreano-americano Jim Yong Kim. 

 

A expectativa do Brasil de emplacar uma discussão a respeito da valorização do real e das políticas expansionistas de países desenvolvidos foi cortada por Lagarde. A executiva disse que os emergentes devem aceitar a apreciação de suas moedas. Apesar da situação grave na Espanha, Itália, em Portugal e na Grécia, problemas nos bancos europeus e temor de alta dos preços do petróleo, o FMI está mais otimista com a economia mundial, que deverá crescer 3,5% neste ano. Para 2013, a previsão é de 4,1%. “O vento da primavera traz uma leve recuperação”, disse Lagarde. O FMI elevou as previsões para os EUA e países emergentes. A projeção para o Brasil é de crescimento de apenas 3% em 2012, bem longe da meta de 4,5% do governo. O Fundo espera que a economia chegue aos 4,1% só em 2013. O jeito é torcer para que a bola de cristal esteja errada.