Depois de um tour pela fábrica da americana AGCO, dona da marca Massey Ferguson, em Canoas, no Rio Grande do Sul, na tarde da quinta-feira 8, o agricultor Antonio Pandolo desembolsou R$ 845 mil para comprar máquinas que lhe permitirão dobrar a sua plantação de soja. Com financiamento do BNDES a juros de 3,5% ao ano, adquiriu um pulverizador, um trator de linha pesada e uma plantadeira que vão garantir a expansão de 750 para 1,5 mil hectares de área plantada. “Nos próximos meses, ainda vou comprar uma colheitadeira”, afirma o agricultor, que planta soja em Santa Maria, na região central do Estado. A 2,3 mil quilômetros de distância, em Sorriso, em Mato Grosso, o empresário Elpidio Daroit administra três fazendas, num total de 16 mil hectares. 

 

120.jpg

A estrela do campo: a produção de soja cresceu 22,7% na safra 2012-2013.

Na foto, colheita em Mato Grosso

 

Para produzir soja, milho, feijão e cana-de-açúcar, ele acaba de investir R$ 10 milhões em oito colheitadeiras, um trator e dois pulverizadores da marca Valtra. “Aproveitei a linha do BNDES para renovar a minha frota”, diz Daroit. Embora de portes bem diferentes, Pandolo e Daroit estão surfando a mesma onda otimista do agronegócio. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra de grãos 2012-2013 deve chegar ao recorde de 186,2 milhões de toneladas, uma alta de 12,1% em relação ao período anterior. A principal estrela do setor é a soja, com 81,5 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 22,7%. 

 

“A soja foi capitalizada pela seca nos Estados Unidos, pela maior demanda chinesa e pela competência do agricultor brasileiro”, diz Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getulio Vargas, de São Paulo. Já a colheita do milho, com expansão de 15,4%, totalizará 45,1 milhões de toneladas. Esses bons resultados, aliados a uma perspectiva promissora para o período 2013-2014, estão encorajando os produtores a investir em tecnologia. Resultado: o melhor ano da história para os fabricantes de máquinas agrícolas. A AGCO, que além da Massey Fergurson é também dona da Valtra, prevê um crescimento de 20% neste ano, em relação a 2012. 

 

“A próxima safra, 2013-2014, será ainda maior”, afirma André Carioba, vice-presidente na América do Sul da AGCO, que detém quase metade do mercado brasileiro de tratores e 15% do segmento de colheitadeiras. “As nossas linhas de produção já estão dimensionadas para atender à demanda dos agricultores.” As vendas aquecidas de máquinas agrícolas nos primeiros sete meses do ano surpreenderam os executivos da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que tiveram de revisar suas projeções. A produção deverá crescer 13,5%, totalizando 95 mil unidades. Já as vendas internas devem ter uma expansão de 18,4%, com 83 mil unidades, superando a marca histórica registrada em 1976. 

 

121.jpg

André Carioba, vice-presidente da AGCO, diz que as fábricas

da empresa estão preparadas para atender à demanda

crescente dos agricultores

 

A título de comparação, a indústria de transformação em geral tem uma expansão prevista de apenas 2%. “Nos últimos dez anos, o consumo de máquinas tinha sido baixo, em torno de 40 mil a 50 mil unidades por ano, o que gerou uma demanda reprimida”, diz Milton Rego, vice-presidente da Anfavea. “A alta dos preços das commodities no ano passado aumentou a rentabilidade dos agricultores, favorecendo o investimento em mecanização.” Quanto ao futuro, no entanto, o preço das commodities agrícolas é uma das principais incógnitas. Como a safra americana não sofre problemas climáticos, deve haver um excedente de produção, o que empurra os preços para baixo. 

 

Por outro lado, os analistas ainda preveem um crescimento na demanda por alimentos de países emergentes, em especial da China, o que pode compensar essa conta. A única certeza neste momento é que o custo do plantio da próxima safra está elevado. “Fertilizantes e produtos químicos são muito afetados por câmbio”, diz Plínio Nastari, presidente da consultoria paulista Datagro, referindo-se à alta do dólar, que, aparentemente, estacionou na casa dos R$ 2,30. Essa mesma desvalorização do real, no entanto, abre uma janela de oportunidades para o crescimento das exportações. Para isso, o País precisa superar os seus gargalos logísticos.

 

“Um produtor de milho em Mato Grosso gasta R$ 17 para levar cada saca até o porto e fica com apenas R$ 11 no bolso”, afirma Nastari. As concessões de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos são as armas do governo, neste segundo semestre, para melhorar a infraestrutura. O problema, segundo os agricultores, é que a maturação desses investimentos levará alguns anos. Dessa forma, é impossível prever se o Brasil vai superar os 200 milhões de toneladas de grãos na próxima safra. No entanto, os analistas não têm dúvidas de que mais cedo ou mais tarde essa marca será atingida. Há pela frente pelo menos dois desafios. 

 

O primeiro é a necessidade de ampliação da capacidade de armazenagem, garantindo estoques em perío­dos de escassez de produtos e evitando picos inflacionários. O outro é a criação de fontes de financiamento aos produtores, inclusive com novos instrumentos de captação no mercado financeiro. “A boa notícia é que 40% do financiamento desta safra foi feita com recursos próprios dos agricultores, o que reduz o risco de inadimplência”, diz Rodrigues. “Isso aconteceu graças ao crescimento da rentabilidade do setor.” Na quinta-feira 8, o governo alterou as regras da poupança rural com o objetivo de liberar entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões a mais para o Plano Safra 2013-2014, que contava inicialmente com R$ 136 bilhões. 

 

122.jpg