Quando decidiu sair do Japão rumo ao Brasil, em 1925, Rosa Okubo, então com 29 anos, trouxe pouca coisa na bagagem. Com três filhos pequenos e dificuldades financeiras de sobra, não havia de fato muito o que transportar, além de roupas e poucos pertences pessoais. Entre eles, uma pérola, que Rosa havia ganhado de seu amigo Kokichi Mikimoto (a primeira pessoa a cultivar pérolas no mundo). Ela não sabia ainda, mas aquela raridade mudaria a vida da família.

“Minha avó trabalhava, fazia bicos, mas o dinheiro era curto. Até que um dia ela resolveu vender a pérola. E percebeu que nosso futuro podia estar ali”, conta o bisneto Maurício Kubo, diretor de marketing da Júlio Okubo, uma das joalherias mais tradicionais de São Paulo, com seis lojas. Desde que a marca foi criada, em 1965, as pérolas têm sido o carro-chefe, mas a dourada é, sem dúvida, seu grande diferencial. Produzida apenas nas Filipinas, ela chega a custar até 50% a mais que a branca (os preços variam de acordo com o tamanho e a perfeição da esfera, mas um colar com a espécie dourada pode custar 
R$ 200 mil).

Graças à tradição da família Okubo no segmento, a marca é uma das poucas no mundo a receber a versão dourada. “São cinco anos de produção e o cultivo é restrito, o que a torna ainda mais cobiçada”, diz Mauricio. Segundo ele, as vendas da joalheria cresceram cresceram 8% no ano passado, resultado muito superior à média do mercado, que, segundo o Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM), encolheu entre 5% e 10% em 2015. Quem mais tem sofrido, porém, são as joalherias de porte médio. “As marcas que trabalham no topo da pirâmide estão em uma situação mais favorável”, diz o presidente da entidade, Écio Barbosa de Morais.

“Além de atender um consumidor mais blindado, elas têm uma maior capacidade para se diferenciar, investindo em inovação, nos materiais, no design”. Na Montecristo, outra joalharia tradicional em São Paulo, com três lojas, esse diferencial atende pelo nome de rodonita. Difícil de ser encontrada no Brasil, a pedra de tom avermelhado foi incorporada ao catálogo de joias da marca. “Nossos fornecedores encontraram um pequeno lote, em Minas Gerais. Eu mesma não conhecia a pedra”, diz Patricia Semeoni, uma das sócias da Montecristo.

Como a quantidade obtida foi pouca, apenas dois anéis foram feitos com a rodonita – ambos adornados com diamantes, carro-chefe da marca. Um deles, o Reine, custa R$ 85,5 mil. A consumidora brasileira agradece. Dona de um estilo mais vibrante, ela demanda joias refinadas, mas que não deixem de lado um colorido, um toque irreverente. A coleção Brasil, lançada recentemente por Jack Vartanian, reflete bem esse gosto local. Para compor as peças, o joalheiro optou pela turmalina, gema apresentada em diversas cores, com destaque para a versão bicolor.

“São coloridas, com um degradê que parece flutuar”, diz o designer, atualmente com cinco lojas no Brasil e uma em Nova York. Típica do Brasil e de alguns países africanos, a turmalina de duas cores é difícil de ser encontrada. E como cada gema tem uma nuance própria, replicá-la torna-se uma tarefa complicada. Pode-se imaginar a dificuldade encontrada por Vartanian para compor um par de brincos, como o modelo duplo, nas nuances verde e azul (R$ 52 mil). Não à toa, todas as peças da coleção Brasil são filhas únicas.

A inovação não precisa vir exatamente de peças raras. “É uma característica da joalheria brasileira: a cor, as curvas, a experimentação”, diz o presidente do IBGM. Mesmo o clássico Antonio Bernardo faz suas apostas em composições que fogem do comum. No final do ano passado, o joalheiro lançou uma coleção que mescla a prata com a peroba. “A ideia surgiu a partir do meu contato com o Fernando Mendes (designer de mobiliário), que me introduziu ao universo das madeiras nobres. Fiquei encantado com as cores, as texturas, os veios. Pensei: essas ma-deiras estão em extinção, são preciosidades”, diz o joalheiro.