13/05/2016 - 20:00
Para muitos gestores de fundos de hedge, 2015 foi difícil, marcado pela desaceleração da economia chinesa, pelas preocupações com o preço do petróleo e pela debandada de fundos de pensão, que mandaram dinheiro para investimentos mais baratos. Mas, para um quinteto americano, o ano foi memorável. Afinal, não é sempre que o bônus chega à casa do bilhão. Foi o caso de Kenneth Griffin, do Citadel; de James Simons, do Renaissance Technologies; de Raymond Dalio, do Bridgewater; de David Tepper, do Appaloosa; e de Israel Englander, do Millennium, de acordo com o levantamento “Rich List” da revista americana Alpha Institutional Investor.
Somados, os ganhos dos 25 gestores que ocupam o topo da “Rich List” foram de US$ 13 bilhões em 2015, alta de 10% ante 2014. Apesar dos números crescentes, metade de todos os fundos de hedge perdeu dinheiro no ano passado. Para se qualificar para o ranking, criado há 15 anos, o gestor precisava obter ganho de pelo menos US$ 135 milhões – o menor mínimo anual desde 2011, quando o corte foi de US$ 100 milhões.
As remunerações dos gestores ultrapassam de longe os mais altos ganhos de CEOs nos Estados Unidos, que não chegaram a US$ 200 milhões no ano passado, e vêm estimulando uma discussão no mercado americano que vem desde a crise de 2008, quando os ganhos exorbitantes dos executivos do mercado financeiro começaram a ser questionados pelos investidores e contribuintes, principalmente depois que dinheiro público passou a ser usado para socorrer bancos. A situação não mudou muito, como prova a “Rich List”.
Para calcular o lucro de um gestor, a Alpha conta os ganhos de capital em seus fundos, bem como a sua parte nos custos. Talvez por isso, cinco gestores entraram na lista apesar de alguns de seus fundos terem registrado perdas. Lá fora, os fundos de hedge normalmente exigem uma taxa de administração de 2%, e ainda cobram 20% sobre o desempenho nominal. Isso turbina em muitos zeros os bônus de seus executivos mesmo quando eles perdem o dinheiro dos investidores, o que, no fim das contas, parece ser imoral. Estima-se que esses fundos movimentem US$ 3 trilhões.
No topo da lista, o Renaissance fechou um fundo, o Institutional Futures, com US$ 1,3 bilhão em ativos, por conta da queda de 1,75% em 2015. Pioneiro na adoção de modelos computacionais, o Renaissance foi fundado nos anos 1980 por James Simons, matemático que quebrava códigos de criptografia para o Pentágono durante a Guerra Fria. A maioria dos fundos do Renaissance obteve ganhos de 15,6% a 16,5%, uma rentabilidade suntuosa comparada aos 0,25% ao ano no mercado de renda fixa americano. Só para comparar, Bernard Madoff, o gestor condenado por fraudar investidores, prometia ganhos de 10% a 17% ao ano.
O fundo All Weather, do Bridgewater, perdeu 7% em 2015, mas outras duas carteiras, o Pure Alpha Major Markets e o Pure Alpha II ganharam, respectivamente, 10,6% e 4,7% ao ano. O Bridgewater é o maior gestor de fundos de hedge do mundo, com US$ 155 bilhões em ativos. Já o Kensington e o fundo Wellington, do Citadel, tiveram ganhos de 14,3%. As informações são do jornal americano The New York Times. Segundo um levantamento da LCH Investiments sobre os 20 maiores fundos de hedge do mundo, o Appaloosa tem US$ 18 bilhões sob seus cuidados. Ainda de acordo com a mesma fonte, o Millennium acumulou ganhos de US$ 3,5 bilhões em 2015 e tem US$ 34,3 bilhões sob sua gestão.
Pela primeira vez, uma mulher apareceu entre os 50 gestores mais bem pagos: a carioca Leda Braga, radicada em Genebra, e que está à frente da Systematica Investiments. No ano passado, Braga embolsou US$ 60 milhões, ocupando a posição de número 44. Os cem pesquisadores comandados por Braga gerem US$ 10,2 bilhões em ativos. No ano passado, o ganho do fundo Blue Trend foi de 3,4%, mas chegou a 6,2% em 8 de abril, de acordo com a HSBC Hedge Fund Database. Procurada, ela não concedeu entrevista.