Ao inaugurar sua primeira agência no Brasil, em 1915, o Citi mirou em dois mercados, o financiamento às empresas e o varejo para clientes de alta renda. O atacado sempre apresentou bons resultados, mas a relação com o varejo mostrou um século de indecisão. A confirmação, na sexta-feira 19, de que o banco vai vender suas operações de varejo no Brasil, na Argentina e na Colômbia resolve de vez essa dúvida existencial. Ao longo dos anos, o banco americano chegou a ter uma rede de agências maior que a de bancos médios brasileiros, flertou com a classe C por meio da financeira Citi Financial, e até 2013 esteve muito presente o mercado de cartões de crédito por meio da Credicard e da adquirente Elavon (leia mais aqui).

Além disso, o Citi tentou crescer por aquisições. Quase se associou ao Unibanco em 1995. Olhou com lupa os números do Banespa no ano 2000 e conversou com o Mercantil de São Paulo em 2001. A fusão com o conterrâneo Travellers, em 1998, na maior transação do mercado bancário mundial até então, faria o Citi concentrar esforços em crescer nacionalmente nos Estados Unidos. Agora, Michael Corbat, CEO do Citi, lançou uma pá de cal sobre o assunto. O Citi vai se concentrar nas atividades nas quais ganha muito dinheiro: private bank, corporate bank e banco de investimentos.

“Decidimos focar esforços nas oportunidades com os nossos clientes institucionais nesses países e em toda a região”, disse Corbat. O varejo no Brasil, que inclui uma rede de 70 agências, 450 mil clientes ativos e cerca de 1 milhão de cartões de crédito e débito em circulação, está oficialmente à venda. A mudança visa melhorar os resultados do banco, afetados pelos baixos juros americanos e pela desaceleração da economia. Outra razão foram as novas normas de Basileia, que passaram a exigir mais capital dos bancos que operam em mercados arriscados.

Segundo um banqueiro de investimentos, o fato de o Brasil ter perdido o selo de bom pagador (grau de investimento) tornou mais dispendioso operar por aqui. Para os analistas, o impacto deverá ser limitado. “A decisão de vender a operação de varejo irá reduzir a diversificação de receitas do Citi no Brasil, pois o banco não tem escala para competir efetivamente nesse segmento, à luz das condições de mercado cada vez mais desafiadoras no País”, diz Alcir Freitas, analista sênior de bancos da agência Moody’s.

Ainda é cedo para dizer quem será o comprador do varejo do Citi. Os especialistas dizem que Bradesco e Itaú devem estar menos interessados nesses ativos devido à superposição dos clientes. Pela lógica, o candidato com maiores vantagens seria o Santander, que já lançou uma ofensiva para conquistar os clientes do HSBC, que fazem questão de ter o cartão de um banco internacional em suas carteiras. Procurados, os bancos não comentaram.