10/04/2015 - 20:00
Em menos de 15 dias de mandato, a nova equipe econômica apresentou e ajudou a popularizar o termo realismo tarifário, uma referência ao fim das intervenções nos preços dos chamados itens administrados, como combustíveis e energia. Era uma tentativa de mostrar que a alta dos custos voltaria a pesar sobre os consumidores, de forma individual, e não sobre os contribuintes, de maneira geral, por meio de subsídios do Tesouro usados para conter o avanço das tarifas no curto prazo, como vinha sendo praticado nos últimos anos. Na quarta-feira 8, os brasileiros puderam entender com mais clareza o peso dessa nova política.
Graças aos reajustes de energia, a inflação atingiu a maior marca para março desde 1995. O aumento na conta de luz foi responsável por mais da metade do peso do índice oficial de preços (IPCA) no mês. Desde o início do ano, o governo vem autorizando uma série de repasses na tarifas. Foram incorporados gastos com desonerações feitas no passado, além dos custos elevados de geração provocados pela falta de chuvas. Os reajustes chegam a 70%, dependendo da região. Na média, a energia ficou 22% mais cara, em março.
Para uma boa parte dos consumidores, o bolso ficará ainda mais pesado. Isso porque as distribuidoras têm direito a uma revisão anual ordinária, além dos ajustes feitos para consertar as distorções do passado. Na terça-feira 7, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou esse reajuste em quatro distribuidoras, responsáveis pelo atendimento de pouco mais de 10 milhões de pessoas. Na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), uma das beneficiadas, é a quarta elevação do ano, que amplia a variação para mais de 40% em 2015.
No meio empresarial, os reajustes são criticados com veemência. “O problema não é só a energia, é todo o tarifaço”, diz Pedro Lima, presidente da indústria de cafés Três Corações, referindo-se ao aumento de impostos. A crise energética é um dos temas mais sensíveis ao governo da presidente Dilma Rousseff, porque representa a perda de uma das principais bandeiras do primeiro mandato: a energia mais barata. Com os reajustes, o Brasil passou a ter o maior custo de energia para a indústria entre 28 países, segundo dados da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan).