08/08/2012 - 21:00
Em abril deste ano, o executivo Luiz Curi passou a ter um chefe a quem se reportar. Na posição de presidente da Chery Brasil desde a chegada da montadora ao País, em 2009, Curi foi removido para a vice-presidência comercial e responde ao novo presidente da operação local, o chinês Kong Fan Long. Com Long, também desembarcaram no País o vice-presidente Du Weiqiang e o vice-presidente industrial Wu Dejun. Para qualquer executivo desse nível, ser rebaixado pode sinalizar que seu trabalho não está sendo visto com bons olhos pela direção da companhia. No caso de Curi, essa lógica é totalmente inversa. A chegada dos chineses mostra que seus planos serão cumpridos à risca.
Com a supervisão da matriz, Curi pretende vender 150 mil carros anualmente, em 2015.
Responsável pela introdução da marca no País, Curi sugerira à matriz a implantação de uma fábrica e o envio de executivos chineses para reforçar o comando no Brasil. A segunda parte foi cumprida, com a chegada de Long e seus colegas. A primeira deverá ser concretizada no segundo semestre de 2013, quando a marca passará a produzir os primeiros carros na fábrica de Jacareí, no Vale do Paraíba, em São Paulo, atualmente em fase de construção. “É a primeira unidade da companhia fora da China”, diz Curi. O complexo industrial, que deverá consumir US$ 400 milhões, é uma das maiores apostas da montadora no mundo. “Será como uma base de operações Ocidente”, diz Curi. A fábrica contará com um centro de pesquisa e desenvolvimento, onde trabalharão cerca de 150 engenheiros.
Eles estarão incumbidos de adaptar os carros ao gosto do consumidor local. A principal missão do departamento, no entanto, será desenvolver um compacto exclusivamente para o mercado sul-americano. Será um veículo do porte do S18, que hoje é vendido por cerca de R$ 30 mil. Segundo Curi, a novidade chegará até 2016. O modelo engordará a lista dos compactos asiáticos, como o Toyota Etios e o Hyundai HB, que já estão a caminho do Brasil. Não é difícil entender por que: os automóveis populares, especialidade da Chery, representaram 45% das vendas totais do mercado brasileiro, em 2011. Mas antes mesmo que o primeiro carro saia da linha de montagem de Jacareí, a Chery do Brasil já colocou em andamento um plano para vender anualmente 150 mil veículos a partir de 2015, sete vezes a mais do que comercializou em 2011.
Negócio da China: à esquerda, o modelo S18 na linha de produção da fábrica da Chery, na província de Anhui,
na China. Ao lado, Yin Tobgyue, CEO mundial da empresa, mostra como ficará a unidade brasileira.
“O crescimento depende da estratégia de marketing, da qualidade dos produtos e da capilaridade da oferta”, afirma João Carlos Rodrigues, consultor da indústria automotiva e ex-executivo de vendas da Mercedes-Benz e da Chrysler. Um dos maiores desafios que a marca tem pela frente, reconhecido pelo próprio Curi, é combater a fama de má qualidade de seus carros. “Temos que conquistar a confiança dos consumidores”, afirma. Para isso, o executivo aumentará em 200% sua verba de marketing, que deverá ser de R$ 60 milhões em 2013, além de ampliar até o fim do ano sua rede para 114 concessionárias, 50% a mais do que em 2011. Outra arma para aumentar suas vendas antes da inauguração da fábrica, é o lançamento do compacto QQ com motor 1.0 bicombustível, e do modelo médio Celer nas versões hatch e sedã.
O projeto da Chery em Jacareí marca a entrada oficial de uma montadora chinesa no mercado brasileiro, com operações comandadas por seus próprios executivos. Em outubro de 2011, sua compatriota JAC Motors chegou a anunciar investimentos de R$ 900 milhões para a instalação de uma unidade fabril em Camaçari, na Bahia. O plano não saiu no papel. Em entrevista recente ao jornal Folha de São Paulo, Sérgio Habib, presidente do grupo SHC, importador oficial da JAC no País, alega que com o aumento dos 30 pontos percentuais na alíquota de importação e a atual cotação do dólar a construção da unidade ficou inviável. Outro entrave para a empresa é a exigência do governo de que os veículos produzidos localmente tenham 65% de conteúdo nacional já nos primeiros anos de atividade no Brasil.