29/06/2011 - 21:00
A imagem mais frequente quando se pensa em um banco é dinheiro, montes de dinheiro, em sua forma física. Essa visão, porém, deixou de valer há várias décadas. O retrato mais fiel de uma instituição financeira nos dias de hoje é o que mostra muitos computadores poderosos, capazes de processar com segurança os bilhões de transações realizadas diariamente.
Não por acaso, esse setor é o que mais investe em tecnologia. “Os bancos dos 30 países mais desenvolvidos investem 140 bilhões de euros todos os anos”, diz o executivo alemão Gerald Faust, vice-presidente global de serviços financeiros da empresa de software e consultoria alemã SAP, em entrevista exclusiva à DINHEIRO. Quando menciona esse número, o executivo não inclui os gastos com equipamentos e computadores, mas contabiliza apenas sistemas e treinamentos. Convertidos em reais, os cerca de R$ 320 bilhões parecem estratosféricos, mas Faust diz esperar um crescimento acelerado nessa cifra. “Os bancos estão à beira de uma revolução tecnológica e esses investimentos vão crescer 7% ao ano até 2015”, diz.
“As empresas telefônicas terão acesso aos mesmos dados que os bancos”
Gerald Faust, vice-presidente global de serviços financeiros DA SAP
Os investimentos mais significativos vão ocorrer em duas direções, que mudarão a maneira como os bancos fazem negócios. A primeira mudança é um aprofundamento da mobilidade. Mais e mais transações serão realizadas por meio de telefones celulares e tablets. “O uso do celular como forma de pagamento está apenas começando”, diz Faust. A segunda mudança é menos visível, a crescente migração de algumas tarefas para a computação em nuvem, fugindo da arquitetura tradicional de armazenar os dados em um servidor localizado nas dependências da empresa. Operações menos estratégicas, como controle de pessoal e de ativos fixos, tendem a ser processadas de maneira terceirizada.
Outros especialistas concordam. “As pesquisas mostram que os bancos em todo o mundo devem investir US$ 17 bilhões na computação em nuvem em 2011, e esse montante vai crescer para US$ 32 bilhões até 2104”, diz Phil Walton, vice-presidente responsável pelo setor financeiro da HP, nos Estados Unidos. No Brasil, cerca de 70% dos gastos das instituições financeiras com informática vão para a manutenção dos sistemas e dos modelos atuais. “Sobra muito pouco para investir em novas tecnologias”, diz Walton. “No entanto, os clientes exigem que os serviços estejam disponíveis em qualquer lugar e em todas as horas, o que demanda produtos diferentes dos que existem atualmente.” Para Faust, as consequências dessas mudanças serão muito mais profundas do que parece à primeira vista.
De acordo com ele, o crescimento do volume de transações, via telefone celular, pode representar uma ameaça real aos bancos no médio prazo. O raciocínio é simples. Um dos principais trunfos dos banqueiros é o conhecimento detalhado dos hábitos financeiros de seus clientes. É possível diferenciar rapidamente os bons pagadores, que merecem empréstimos, dos clientes que não são confiáveis. Essas informações, porém, deixaram de ser uma exclusividade da banca. O principal negócio das operadoras de telefonia celular está deixando de ser a condução de voz para dar lugar à transmissão de dados.
Cerca de 1,5 bilhão de mensagens de texto trafegam todos os dias pelos celulares, em todo o mundo. A tecnologia para transformar essas mensagens em transferências financeiras já está disponível e esses serviços já vêm sendo oferecidos experimentalmente em diversos países. “Ao processar uma quantidade cada vez maior de transações, as operadores telefônicas terão as mesmas informações que os bancos”, diz Faust. “Não é impossível que elas usem esse conhecimento para atuar como instituições financeiras, vendendo seguros e emprestando dinheiro.”
Especialistas brasileiros avaliam que essas mudanças ainda vão demorar um pouco para acontecer por aqui. “Os bancos brasileiros de varejo têm ampliado seus investimentos em tecnologia nos últimos dois anos”, diz Gustavo Roxo, executivo da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), que preside o Ciab, congresso internacional de tecnologia bancária. No Brasil, segundo a Febraban, o investimento médio dos bancos em tecnologia vem oscilando entre R$ 19 bilhões e R$ 22 bilhões por ano, desde 2006, e essa cifra cresce de maneira gradual, mas contínua. O número deverá dar um salto nos próximos dois anos. “Muitos bancos estão trocando seus sistemas operacionais, mas as mudanças vêm ocorrendo sem rupturas profundas e deverão ser conduzidas internamente.”