22/12/2022 - 1:10
Com cerca de 100 mil escritórios e aproximadamente 1,3 milhão de advogados, o Brasil é um oceano azul para as startups do mundo do direito. O problema é que nem os profissionais do segmento parecem saber disso. Pesquisa divulgada segunda-feira (19) pela Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L) mostra que 62,8% dos advogados disseram que a categoria é atualizada em relação às novas tecnologias, mas apenas 42,4% sabiam o que são startups jurídicas e ainda menos (28,1%) utilizam seus serviços. Pelo lado do consumidor, 72% dos potenciais clientes afirmam que os advogados deveriam adotar soluções vindas da tecnologia.
É esse potencial inexplorado que desenha o mapa de crescimento da legaltech Doc9. A empresa quer levar soluções para os escritórios de direito, ajudando a economizar duas horas operacionais diariamente, com uma ferramenta capaz de facilitar o compartilhamento dos certificados digitais de maneira mais segura que a disponível hoje no mercado. Lançado neste ano, o programa foi nomeado de Whom e foi desenvolvido junto a Ambev. Seu funcionamento é simples: ele configura restrições de acesso por cargo, páginas de um sistema, datas e horários em que os mesmos podem ser consultados, além de rastrear todas as movimentações. Com isso é possível aumentar a segurança do compartilhamento. “O certificado digital já existe, então o que estamos fazendo é colocá-lo dentro de um cofre digital, oferecendo uma capa de proteção”, disse à DINHEIRO Leonardo Toco, CTO da Doc9.
As medidas protegem o titular do certificado digital e os dados dos clientes cujos processos estão sob cuidados de um escritório. Além disso, o risco de cair nas mãos de hackers também é minimizado, já que os dados de usuário e senha não são necessários. O certificado digital é uma identidade eletrônica de uma pessoa ou empresa que permite assinar documentos à distância que carregam o mesmo valor jurídico de uma assinatura de próprio punho em papel, mas sem a necessidade de reconhecimento de firma em cartório. Ele é mais seguro virtualmente que os usuários e senhas por passar por um processo de criptografia dos dados que atestam sua veracidade (transforma os dados em ininteligíveis para os que não tenham acesso às convenções combinadas para sua leitura), além do reconhecimento das chaves, que pode ser realizado apenas por quem está autorizado a utilizar ou gerar aquele certificado.

“Muitas vezes há até 500 advogados que precisam acessar os mesmos certificados, isso cria gigantes gargalos operacionais” Leonardo toco CTO da Doc9.
A digitalização dos processos legais é algo que vem tarde para o setor, mas é inevitável. Segundo Toco, a tecnologia geralmente vem antes da regulamentação e é necessário que os órgãos reguladores se adaptem às inovações trazidas pelas startups, assim como aconteceu com Uber, iFood e outras empresas. No campo legal, além das inovações, tecnologias como a Whom aliviam antigas dores do setor. “Muitas vezes há até 500 advogados que precisam acessar os mesmos certificados, isso cria gigantes gargalos operacionais” afirmou.
Mais uma vantagem que a Whom traz com a digitalização é a possibilidade de ter tudo na nuvem, viabilizando a utilização dos serviços em qualquer lugar e a qualquer momento. Além disso, não há necessidade de programar ou configurar o sistema. “Você compra e já está ali pronto para você usar”, disse. A startup ajuda também as empresas com audiências presenciais e on-line, cálculos e diligências judiciais.
EXPANDIDO FRONTEIRAS Com uma operação de sucesso com duas linhas de receitas no Brasil, a de assinatura por uso dos serviços SaaS e o marketplace com pagamento por serviços específico, já conta com 3 mil clientes e teve neste ano uma receita recorrente de R$ 600 mil mensais. O resultado é que nos primeiros dez meses de 2022, já alcançou o faturamento do ano passado inteiro de R$ 9,4 milhões. Agora, a perspectiva é romper a barreira dos R$ 11 milhões até o fim do ano. A Doc9 afirma já ter dado suporte a 23,3 milhões de operações.
Neste momento, a empresa estuda oportunidades na Europa e na América Latina para uma possível expansão. A tarefa passa por avaliar o mercado local e encontrar brechas onde a atuação da Doc9 se encaixe. “Temos olhado sobretudo para a América Latina”, afirmou Toco. Segundo ele, é importante verificar quais são as startups locais, em quais ambientes elas atuam, com quais clientes, como elas trabalham os investimentos e principalmente avaliar a cultura local. “Você tem que se fazer presente.”