20/12/2013 - 21:00
A Cencosud chegou com tudo no Brasil. A rede varejista do alemão naturalizado chileno Horst Paulmann, 77 anos, fez sete aquisições no País, entre 2007 e 2011, desembolsando cerca de R$ 3 bilhões. Com esse cacife, que permitiu acumular um faturamento local de R$ 9,7 bilhões no ano passado, a Cencosud chegou a ser encarada como capaz de se aproximar do pódio do varejo composto por Pão de Açúcar, Carrefour e Walmart. Mas os planos não saíram como se imaginava. No terceiro trimestre deste ano, seu faturamento no Brasil caiu 10% em comparação com o mesmo período de 2012, na contramão do mercado.
Paulmann: dono do grupo chileno investiu quase US$ 3 bilhões
para operar no País
As condições da economia nacional podem não ser as melhores dos últimos anos, é certo, mas, mesmo assim, há uma estimativa de crescimento de 4,1% do setor varejista, segundo o Instituto para o Desenvolvimento do Varejo (IDV). Um desempenho muito acima do conquistado pelos chilenos, que amargaram uma queda de 20% na lucratividade, no período. A reação ao mau desempenho será imediata, sem maiores considerações, que não a de recuperar a lucratividade. “Vamos diminuir os investimentos em comparação com 2012 e 2011”, afirmou Juan Manuel Parada, diretor financeiro da Cencosud, durante conferência com os analistas do setor financeiro, para o anúncio dos resultados do terceiro trimestre.
“Não esperamos grande crescimento em vendas, mas sim capturar as sinergias e refleti-las no resultado.” Segundo fontes do setor, os investimentos, que chegaram a US$ 100 milhões anuais em 2011 e 2012, cairão para US$ 80 milhões em 2014. Também há a previsão de cortar o número de funcionários e de fechar algumas lojas, em especial, as herdadas da rede mineira Bretas, adquirida em 2010, de menor rentabilidade. Isso faz sentido à medida que os tempos de vacas gordas ficaram para trás. O grupo não tem mais o fôlego de investimentos de tempos passados, principalmente devido ao endividamento assumido para comprar as operações do Carrefour na Colômbia, por US$ 2,6 bilhões, em outubro de 2012.
Mas, se for possível resumir em uma palavra os problemas que deve enfrentar, ela seria Bretas. “Os resultados do Brasil foram afetados por questões específicas relacionadas ao Bretas, enquanto as redes Prezunic (do Rio) e G.Barbosa (de Sergipe) tiveram bom desempenho”, disse, durante a teleconferência, Marisol Fernández, diretora de relações com investidores. A rede mineira, comprada por R$ 1,3 bilhão, trouxe uma série de dificuldades de integração, além de processos mais informais nas relações com empregados e fornecedores, refletindo o estilo paternalista de seu anterior controlador, o empresário Estevam de Assis.
“A origem das dificuldades da Cencosud é a aquisição de empresas não profissionalizadas, que precisam chegar ao nível das boas práticas do grupo”, diz André Pimentel, sócio da consultoria Performa Partners. Apesar dos percalços recentes, a Cencosud não tem planos de bater em retirada. Ao contrário. A palavra de ordem internamente é corrigir as deficiências e redirecionar a rede para o caminho do crescimento. Um dos instrumentos para promover a eficácia gerencial é a implementação de um sistema de gestão fornecido pela alemã SAP, que consumiu 17 meses de trabalhos no Bretas e no Prezunic.
Exemplos opostos: os resultados com as lojas da bandeira Bretas decepcionaram,
enquanto as da marca Prezunic são as mais rentáveis
Terminada essa etapa, o Cencosud pretende promover um agressivo plano de desova de estoques, alterar o mix de produtos no Brasil e criar promoções mais agressivas. Um trunfo, para isso, está na centralização das compras em um escritório aberto no fim do primeiro semestre, em São Paulo. “Agora teremos mais planejamento comercial”, disse Parada. Desde a abertura desse escritório, foram fechados 1,2 mil novos contratos comerciais com os fornecedores. “No geral, o Brasil tem sido um mercado extremamente difícil para todas as empresas chilenas que tentam conquistá-lo, depois de terem tido êxito na Argentina, no Peru e, mais recentemente, na Colômbia”, afirma Cristina Acle, da divisão de investimentos do Banco do Chile.
Os analistas que acompanham a Cencosud de perto – as ações do grupo são negociadas na Bolsa de Valores de Santiago – acreditam que os bons resultados levarão mais alguns meses para emergir. “Esperamos que as melhorias de eficiência das operações brasileiras comecem a aparecer a partir do segundo semestre de 2014 e durante 2015”, diz Isabel Bendeck, analista da empresa de informações financeiras CorpResearch. Outros planos mais audaciosos podem levar um pouco mais de tempo para gerar frutos. A principal concorrente do Cencosud em seu país de origem é a Falabella, que entrou no Brasil com a compra da varejista de materiais de construção DiCico.
Um movimento parecido de diversificação pode ser feito pela empresa de Paulmann, um amigo do falecido ditador chileno Augusto Pinochet. “A Cencosud deve trabalhar duro para digerir as aquisições que fez e, provavelmente, está pensando em investir em outros setores para voltar a crescer”, diz Eduardo Terra, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo (Ibevar), para quem está no DNA do grupo a atuação em outras áreas do varejo, além da de supermercados “A Cencosud se perdeu um pouco, mas está criando estabelecimentos com a sua cara”, afirma. “O Walmart, que já está aqui há mais tempo, ainda não criou essa identidade própria.”