As voltas que o mundo dá. Um dos maiores símbolos da indústria da França, a PSA Peugeot Citroën, segunda maior montadora da Europa, confirmou estar negociando uma aliança estratégica com a americana General Motors. Justamente com a gigante de Detroit, que estava no bico do corvo na crise de 2008, foi salva da falência pelo governo do presidente Barack Obama e recuperou no ano passado a liderança mundial do setor em volume de vendas. Para renascer das cinzas, a GM recebeu US$ 50 bilhões e promoveu um turnaround sem precedentes, com a demissão de 30 mil funcionários, venda de controladas, como a sueca Saab, e a desativação de marcas como Pontiac e Hummer. Em outras palavras, tudo o que a Peugeot não fez. 

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Redução de custos: os CEOs Philippe Varin (à esq.) e Dan Akerson, da Peugeot e da GM.

 

O que se sabe até agora é que o objetivo não é uma aquisição. Os americanos, donos da Opel e Vauxhall, na Europa, e os franceses negociam compartilhar tecnologia e unidades industriais e desenvolver produtos conjuntamente. É possível, entretanto, que a aliança resulte numa participação minoritária da GM na Peugeot. As duas companhias confirmaram a negociação, sem dar detalhes. Mesmo assim, as ações da Peugeot subiram 13% na quarta-feira 22. Para o consultor especializado em indústria automobilística Paulo Cardamone, da IHS, um acordo com a GM poderia ajudar a melhorar a escala da Peugeot, que hoje é muito pequena — de suas receitas, 60% vêm da Europa, onde estão concentradas quase todas suas fábricas. “Compartilhar unidades poderia reduzir os custos de produção”, afirma. A montadora não é relevante em mercados importantes, como nos Estados Unidos e na Ásia. 

 

No Brasil, quarto maior produtor mundial, sua fatia é de 5,1%. O cenário no continente europeu é ruim para todas as montadoras, que enfrentam excesso de capacidade instalada, vendas fracas e acirramento da competição. A Peugeot, que tem vários outros acordos operacionais, com a Toyota e BMW, por exemplo, é ainda mais vulnerável que os concorrentes porque não fez, devido a pressões políticas, um ajuste de maior envergadura desde o início da crise internacional. A divisão automobilística da empresa, controlada pela família Peugeot, foi deficitária no ano passado. Analistas acreditam que, embora uma aliança possa gerar sinergia, não garante a rentabilidade, a longo prazo, tanto da Peugeot quanto da subsidiária europeia da GM. A conferir se um casamento celebrado sob tanta pressão tem chance de dar certo. 

 

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