27/10/2010 - 21:00
O que uma companhia de alimento infantil na China tem a ver com uma fabricante de produtos esportivos de luxo nos Alpes italianos, um banco em Miami e uma operadora de turismo no Brasil? A pergunta, feita no YouTube em um vídeo de três minutos e meio, define a estratégia do Carlyle Group, um dos maiores investidores institucionais do mundo. Com mais de US$ 90 bilhões aplicados em 260 empresas, inclusive a brasileira CVC, o Carlyle faz negócios em 19 países, sempre em busca de companhias líderes em seus mercados, com alto potencial de crescimento e rentabilidade.
Os Tentáculos do Carlyle: David Rubenstein (à esq.), Bill Conway e Daniel D’Aniello fundaram um grupo
que investe US$ 90 bilhões em 19 países. Veja alguns dos negócios nos EUA, na China e no Brasil
Depois da crise de 2008, que o fez perder o primeiro lugar do ranking mundial de private equity para o Goldman Sachs, ele volta à tona com tudo. Tem mais de US$ 30 bilhões para investir, está focado no Brasil e pode ser o sócio que você está procurando.
Scalina: fabricante das marcas de lingerie Scala e TriFil, tem 10% de
participação de mercado. Comprada em agosto de 2010
Quem falou? Ninguém menos que Daniel D’Aniello, o lendário financista que fundou o Carlyle em companhia de David Rubenstein e William Conway Jr., em Washington, em 1987. Em entrevista exclusiva à DINHEIRO na capital americana, D’Aniello demonstrou entusiasmo pelo País. “É na operação brasileira que está o maior pipeline de negócios interessantes do pós-crise. Estamos muito otimistas”, afirmou, logo depois de fazer uma palestra na Brazilian American Chamber of Commerce, no início de outubro. Ele fala sério.
CVC turismo: maior operadora turística da América Latina, foi comprada em janeiro.
O fundador, Guilherme Paulus, preside o conselho de administração
Nos últimos meses, o Carlyle investiu US$ 1 bilhão no Brasil. Fernando Borges, presidente do grupo no Brasil, já mostrou a que veio. Comprou 63,6% da CVC, maior operadora de turismo do País, em janeiro, e depois investiu em mais duas companhias: a Qualicorp, corretora de planos de saúde, e a Scalina, dona das marcas de lingerie Scala e TriFil.
Qualicorp corretora de seguros: líder na corretagem, consultoria e gestão de
planos de saúde. Comprada em julho de 2010
O Carlyle também botou recursos na Scopel, do setor imobiliário.Dinheiro para novas aquisições não é problema. “Não temos limites de capital, mas sim de qualidade de oportunidades”, diz D’Aniello (leia entrevista abaixo).
A aposta firme do gigante no Brasil muda o cenário competitivo local para os fundos de private equity, especializados em comprar participações em empresas fechadas para revenda futura.
Scopel: empresa de desenvolvimento urbano, sediada em São Paulo, atua em 53 municípios paulistas
Como há relativamente poucos fundos do tipo em atuação no País, a concorrência pelos melhores negócios vai aumentar e o Carlyle irá participar de todas as grandes operações, afirma David Snow, diretor da PEI Media, empresa especializada no setor.
China Real Estate Network: maior corretora de imóveis chinesa, atua com vendas,
seguros e hipotecas. Participa desde setembro de 2005
Como oferecem 66 fundos a 1.300 clientes selecionados de 72 países, eles têm diversas opções de entrada em vários setores e mercados. Tamanho, no caso, é documento. Nos últimos cinco anos, o Carlyle captou US$ 48 bilhões, ficando atrás apenas do Goldman Sachs Principal Investment, com US$ 55 bilhões. “Eles são muito grandes. Com o crescimento no Brasil, era inevitável que tivessem uma estratégia para o País”, afirma Snow.
GoodYear Engineered products: comprada pelo Carlyle em 2007,
fabrica produtos automotivos nos Estados Unidos
Uma característica importante do Carlyle, segundo ele, é a perseverança. Se a estratégia inicial de investimentos não for bem-sucedida como espera D’Aniello, eles irão se adaptar até conseguir os resultados almejados – não é à toa que o grupo tem proporcionado aos investidores um retorno médio de 30% ao ano desde sua fundação. “Eles são incansáveis”, resume.
Bank United: banco de varejo com sede na Flórida, foi comprado
pelo fundo americano após a crise, em maio de 2009
Daniel D’Aniello, cofundador do Carlyle, traz na ponta da língua os detalhes dos novos negócios do grupo no País. Em Washington, ele falou à DINHEIRO. Confira:
“Se houver um projeto no Brasil que pareça atraente,
o dinheiro vai fluir da nossa base de investidores “
Como o sr. vê a guerra cambial entre os países?
As guerras cambiais são o resultado do uso das ferramentas fiscais e monetárias por muitos governos mundo afora. Obviamente, somos interdependentes globalmente e não creio que as guerras de moedas chegarão a um ponto de romper os fluxos naturais do comércio internacional.
A guerra cambial poderá interromper os fluxos de investimento para o Brasil?
Creio que não. Ou melhor, espero que não. Neste momento, estou agressivamente interessado em investir pesado no Brasil. Até agora, investimos US$ 1 bilhão em ações de três empresas fantásticas. Uma é a CVM , maior operadora de turismo da América Latina. A segunda é a Qualicorp, um provedor de serviços, intermediação e corretagem de planos de seguro-saúde. A terceira é a Scalina, dona da marca top de lingerie Scala e da linha TriFil. Também é líder de mercado.
Fernando Borges, gestor da Carlyle no país: Grupo de private equity vai disputar os grandes negócios
Quais serão seus próximos passos? Infraestrutura?
Investimos em infraestrutura no Brasil por meio de um fundo de energia, em um negócio totalmente integrado de biocombustíveis, a Companhia Nacional de Açúcar e Álcool. Também investimos em uma empresa de desenvolvimento imobiliário chamada Scopel, que está indo muito bem. Não investimos diretamente em categorias normais de infraestrutura, como estações de tratamento de água, estacionamentos, mas temos uma mente aberta para esses negócios. Fazemos isso nos Estados Unidos. O Brasil, com a expectativa de crescimento que tem, vai precisar de muito trabalho na área de infraestrutura.
Quanto a Carlyle está disposta a enviar para o Brasil?
A resposta para esta questão é um pouco incerta. Temos um fundo específico para o Brasil. Temos mais de 1.300 investidores globalmente, a maioria dos quais vê o Brasil como um país atrativo. Se houver um projeto que pareça atraente e muito rentável, o dinheiro vai fluir na nossa base de investidores. Ou seja, não temos limites de capital, mas sim de qualidade de oportunidades. Temos 11 pessoas em São Paulo. É na operação brasileira que está o maior pipeline de negócios interessantes do pós-crise. Estamos muito otimistas.
Enviado especial a Washington