06/04/2023 - 4:50
Passados praticamente 100 dias do início do terceiro governo Lula, o mercado respira um pouco mais aliviado com a proposta de Arcabouço Fiscal e busca os caminhos para o crescimento em 2023 e nos próximos anos. Entre terça-feira (4) e quinta-feira (6), a nona edição do Bradesco BBI Brazil Investment Forum, em São Paulo, debateu os rumos para o investimento, com a participação de 146 empresas, 90% delas representadas por CEOs, CFOs e chairmen, além de reunir quase 1 mil investidores institucionais e internacionais das Américas, Europa e Ásia. O evento aproximou os empresários e agentes do mercado de representantes do governo e trouxe a sensação positiva de que, mesmo que a passos lentos, o País retomará o crescimento. De acordo com a projeção da equipe do economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec), o Produto Interno Bruto irá crescer 1,5% em 2023. Para efeito de comparação, em meados de dezembro de 2022, o mesmo Depec projetava crescimento de 0,5% para este ano.
O vice-presidente do Bradesco Eurico Fabri disse que está otimista para os próximos trimestres e que o Arcabouço Fiscal e a Reforma Tributária serão os alicerces para esse crescimento e expansão consistente. Na visão dele, o Arcabouço é uma demonstração de responsabilidade fiscal do governo. “O Arcabouço deu uma resposta de que não existe cheque em branco para as despesas. Foi bom, tem pontos importantes, com algum controle nas contas. As estimativas (de juros) vão ser reduzidas”, afirmou. Ele avaliou que o mercado reagiu bem à proposta, que é um passo na direção da redução dos juros. “A curva de juros pode demorar um pouco mais, mas vai ceder”, disse Fabri.

“Certamente teremos um segundo semestre muito melhor que o primeiro”, afirmou. Ele argumenta que o Brasil é um mercado de escala e se consolida como uma alternativa das principais economias globais, por ser muito diversificada em seus diferentes setores. “O agronegócio mostra crescimento sólido, graças a abundância de recursos naturais, estamos exportando água por meio das exportações do agro. Em breve, vamos exportar sol e vento com investimentos em energias renováveis”, disse. Fabri completou que os temas ESG, que seguem critérios ambientais, sociais e de governança, possuem muito apelo entre os investidores estrangeiros.

MERCADO DE CAPITAIS O head do Bradesco BBI, Luis Felipe Thut, fundamentou essa questão dizendo que estão previstos diversos leilões de energia ao longo deste ano, com R$ 60 bilhões em investimentos, além de outros projetos de saneamento e de infraestrutura. “A gente está otimista, o mercado de capitais está reabrindo, pode ser bom para ofertas de renda variável, primeiro os follow-on (ofertas de aumento de capital) e depois IPOs (ofertas iniciais de ações).” Na visão de Thut, o Arcabouço Fiscal tira as incertezas sobre as contas públicas, e a taxa básica de juros (Selic) deve cair dos atuais 13,75% para 12,25% ao final do ano. “No segundo semestre, vamos ter um mercado de capitais muito mais ativo”, afirmou.
Thut lembrou que o volume no mercado de capitais foi menor no primeiro trimestre do ano. “As companhias decidiram esperar um pouco e acabaram recorrendo aos bancos, em operações mais curtas, de um ou dois anos”, afirmou. Mas depois dessa parada na emissão de títulos, Thut conta que os spreads (prêmios) reduziram nas últimas semanas. Como exemplos, o executivo citou emissões de renda fixa, como a emissão de certificados de recebíveis imobiliários (CRI) da Aliansce Sonae que captou R$ 612 milhões, acima do esperado inicialmente, e uma emissão “bem sucedida” de certificados de recebíveis do agronegócio (CRA).
Na área de renda variável (ações), Thut mostrou que o mercado está aberto para ofertas de aumento de capital (follow-on) para empresas como a Dasa e a Hapvida, assim como para ofertas secundárias, como do Assaí, que movimentou R$ 4,1 bilhões e possibilitou a saída de uma fatia do Grupo Casino apenas com um pequeno desconto. “Na oferta do Assaí, mais de 50% das vendas foram para investidores estrangeiros. A operação do Assai estava super-redonda”, afirmou. Ainda no horizonte de curto prazo, sem mencionar nomes, Thut vislumbra fusões com trocas de ações. “Empresas vão adquirir outras companhias em Bolsa para fazer investimentos”, disse.
ALTA RENDA O diretor executivo responsável pelas áreas de private banking e alta renda do Bradesco, Guilherme Leal, contou que seu segmento segue em expansão, com um crescimento médio anual de 10% nos últimos anos. “O topo da pirâmide demanda serviços, são clientes investidores e temos espaço para crescer”, afirmou. Sobre a expansão internacional do Bradesco, Leal ponderou que a instituição chegou um pouco tarde em mercados maduros nos Estados Unidos e na Europa. “O Bradesco Bank (Flórida) e o Bradesco Europa, em Luxemburgo, são espaços que temos para crescer muito”, disse.
Entre os movimentos mais recentes lá fora, Leal destacou que para o público acima do perfil de US$ 1 milhão foi lançado uma solução de investimento a partir de US$ 10 mil, em parceria com a gestora global Blackrock, com conta corrente e cartão em dólares. “É um grande diferencial, uma solução completa”, afirmou. Leal ressaltou que Bradesco Bank possui uma licença “full” para todos os tipos de investimentos financeiros nos EUA. “O Bradesco Bank cresceu quatro vezes lá fora atendendo brasileiros e latinos”, disse. Eurico Fabri completou que há uma mudança cultural para esse público de altíssima renda. “Eles levaram uma parte dos recursos para diversificar, e mesmo com a alta dos juros aqui no Brasil, não trouxeram de volta”, afirmou. Em outras palavras, o Banco Bradesco possui diversas iniciativas em andamento para trilhar os próximos caminhos do crescimento.