13/06/2014 - 20:00
O vilão Alex Grand levou à frente um plano maléfico. Com o seu exército, promoveu a destruição de toda a comida existente e deixou à população a opção de se alimentar apenas com o Genex 100, uma comida extremamente calórica, fabricada por sua terrível empresa: a Corporação Grand. Mas um sábio nutricionista, chamado Neus, convocou sete colaboradores para formar o grupo Nutri Mestres, com a missão de preservar alguns alimentos naturais, em reinos longínquos do planeta. Então, para fazer o mundo voltar a ter variedade alimentar, quatro jovens heróis partem em busca dessas últimas reservas de comida natural.
A sinopse do desenho animado Nutri Ventures entrega suas boas intenções: convencer, por meio do entretenimento, as crianças a gostarem de alimentos saudáveis. A abordagem parece simples, mas é na sutileza que o desenho animado, desenvolvido pela produtora portuguesa homônima, pretende conquistar o mundo. “O entretenimento não educa e a educação não funciona”, diz Rodrigo Carvalho, cofundador da empresa, que nasceu no Brasil e vive em Portugal desde os 15 anos de idade. “Resolvemos usar para o bem as mesmas técnicas das empresas do mal.”
A abordagem da Nutri Ventures alcançou sucesso instantâneo. Fundada há apenas três anos e com 52 episódios produzidos, a produtora já fechou contrato de transmissão de seu desenho animado em 26 países, iniciando uma trajetória que lembra a do desenho Peixonauta, da produtora paulistana TV Pinguim, vendido a mais de 80 nações. No Brasil, ele é chamado de Nutri Venturas e é transmitido na faixa infantil do SBT, na qual já se coloca entre as três animações mais vistas da emissora do empresário e apresentador Silvio Santos.
Também encontrou apoio da empresa de planos de saúde Amil, que patrocina as transmissões do desenho. Mas o maior desafio da Nutri Ventures será cavar espaço no disputado – e fortemente blindado a conteúdo estrangeiro – mercado americano. “A nossa grande luta é estar num canal aberto americano”, diz Carvalho. O outro fundador da empresa, o português Rui Lima Miranda, já se mudou para Nova York, para coordenar as ações na terra do Mickey Mouse, que lidera o mercado mundial de animações, um segmento que movimentou US$ 222 bilhões, em 2013, e que cresce 7% ao ano.
Nada mal para uma empresa que nasceu com investimentos de apenas R$ 800 mil, feitos por Carvalho e Miranda, para a produção de uma animação-piloto de cinco minutos de duração. A primeira grande vitória da Nutri Ventures em terras americanas foi o apoio da primeira-dama Michelle Obama. Por meio de sua fundação Parceria por uma América Mais Saudável, a esposa de Barack Obama pretende divulgar o desenho animado no país como uma forma de enfrentar o forte risco de que a nova geração de crianças acabe comprovando a menor expectativa de vida que têm em relação à de seus pais, devido a uma alimentação mais pobre em nutrientes.
O primeiro passo será levar a série a 60 mil escolas primárias do sistema público dos EUA. A conquista do Oeste não para por aí. O desenho também já conseguiu se colocar entre as 20 mais assistidas animações do Hulu, plataforma de vídeos online concorrente do Netflix e muito popular no país. Outra vitória da empresa foi a velocidade com que levantou investimentos. Até o momento, a Nutri Ventures recebeu € 10 milhões para desenvolver os desenhos animados e promover a expansão internacional.
Entre os investidores que já apostaram na empreitada, está o Espírito Santo Ventures, ligado ao banco Espírito Santo, de Portugal. “Estamos agora fechando um novo investimento com um fundo de venture capital brasileiro”, diz Carvalho. Dessa forma, com a entrada de dinheiro brasileiro, a história da Nutri Ventures fechará um ciclo completo. Afinal, o fundador Carvalho nasceu em Belém, a capital paraense. Ele conheceu o seu sócio quando ambos trabalhavam na subsidiária da Procter & Gamble, em Lisboa.
A ideia para o negócio surgiu depois de uma rede de supermercados portuguesa pedir um plano para promover seus produtos naturais. “Criamos os personagens, mas a empresa desistiu do projeto”, diz Carvalho. O jeito foi continuar por conta própria. O próximo passo será transformar a Nutri Ventures forte em produtos licenciados. Os primeiros artigos devem chegar às lojas brasileiras até o fim deste ano. “Nunca existiram personagens fortes em licenciamento promovendo produtos saudáveis”, diz Carvalho. “Vamos ser os primeiros.”