A cada três meses, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem de comparecer à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para prestar contas das políticas monetária e cambial do governo. Quando esteve lá em março, no dia 18, o dólar valia R$ 2,17. Na audiência da terça-feira passada, dia 24, a moeda americana era vendida a R$ 2,20. Olhando as duas pontas, a variação parece pequena. Nesse período de três meses, no entanto, a moeda americana disparou e chegou a custar R$ 2,45 no fim de agosto, obrigando o BC brasileiro a vender dólares no mercado à vista e a oferecer leilões diários de swap cambial até o fim do ano. 

 

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Ação e reação: leilões de Tombini e anúncio de Bernanke de que incentivos

nos EUA serão mantidos derrubam dólar de R$ 2,45 para R$ 2,20

 

Tombini agiu para acalmar o mercado, mas quem conseguiu fazê-lo foi, na verdade, seu colega Ben Bernanke, presidente do Federal Reserve, o banco central americano. Há duas semanas, Bernanke adiou oficialmente o fim da política de colocação de dólares no mercado, para aumentar a liquidez. Quando isso acontecer, a moeda vai ficar mais escassa, e espera-se que parte dos investidores leve para o mercado americano recursos que hoje mantém em países emergentes, como o Brasil. No Senado, Tombini afirma que não haverá problemas. “O País está preparado para enfrentar a transição para um ambiente de política monetária mais normal”, disse aos senadores. No dia seguinte, em evento na sede do banco Goldman Sachs, em Nova York, o presidente do Banco Central repetiu o discurso de blindagem da economia brasileira a potenciais investidores no País. 

 

Quem bateu em retirada do mercado brasileiro em julho, assustado com as perspectivas de mudança nos Estados Unidos, já começou a voltar. “Muitos estrangeiros viram que agiram de forma errada e estão retornando”, diz Raphael Juan, gestor do fundo de investimento BBT Asset. Ele aposta que as concessões de infraestrutura trarão ainda mais recursos. “A médio prazo, vão predominar os conceitos, e eles verão que as concessões são ótimos ativos”, afirma (leia mais sobre isso AQUI). O adiamento das medidas do Fed e a oferta de mais dólares no mercado futuro conseguiram conter a disparada do dólar, o que ajudou os importadores e a indústria nacional, que usa insumos importados. E deve segurar a balança comercial, que acumula déficit de US$ 2,2 bilhões até a terceira semana de setembro. 

 

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José Augusto Castro, da AEB: “Importações crescendo menos podem

ajudar a zerar o déficit da balança comercial”

 

“As importações estão crescendo menos, o que pode até zerar o déficit”, diz José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A perspectiva é animadora. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) revisou para cima sua previsão de crescimento e agora espera uma expansão de 2,6% na indústria de transformação neste ano.“O principal fator é o dólar”, diz Flávio Castelo Branco, economista chefe da CNI. Mesmo com o recuo, a moeda está mais cara do que há um ano, o que leva muitos produtores a buscarem fornecedores nacionais de insumos. A queda do dólar no último mês – em setembro a moeda teve uma baixa de 5,9% até o dia 26 – é um dado positivo. Mas a excessiva volatilidade é maléfica para todo mundo, independentemente da preferência por uma taxa de câmbio mais alta ou mais baixa.

 

“É ruim, porque os negócios param. Só continua quem realmente depende da mercadoria para manter a linha de produção”, diz Roberto Milani, vice-presidente do Grupo Comexport, importadora de produtos acabados e insumos. Ele viu o movimento cair pelo menos 10% entre agosto e o início de setembro. “Quando fica instável, todo mundo se retrai, à espera do próximo acontecimento”, afirma. Para algumas indústrias, no entanto, a manutenção da moeda em patamares mais elevados do que há um ano é um sinal de alento. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Fernando Figueiredo, diz que as empresas gostariam de um dólar mais valorizado, em torno de R$ 2,40, para tentar reduzir o déficit do setor, que deve chegar a US$ 31 bilhões neste ano. “Conseguimos ampliar um pouco as exportações, mas pouca coisa”, afirmou. 

 

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Colaborou: Cristiano Zaia