A participação das montadoras alemãs na indústria automotiva mundial é superlativa, em todos os sentidos. Juntas, as principais empresas do país, como Volkswagen, BMW, Audi e Mercedes-Benz, produzem 17% dos carros do planeta, cerca de 13 milhões por ano. O faturamento conjunto chega a E 360 bilhões ou 20% do PIB industrial alemão. O país, que também ocupa a quarta colocação no ranking global em vendas, com 3,4 milhões de veículos, emprega quase um milhão de pessoas em montadoras e autopeças. Neste mês, os alemães deram o primeiro passo do que pode ser uma revolução – o parlamento decidiu que os carros movidos a combustíveis fósseis, como gasolina e diesel, poderão ser vendidos somente até 2030.

A meta é tirar todos das ruas até 2050, quando apenas veículos elétricos ou com zero emissão de carbono poderão circular. Apesar da força da proposta, ainda não se trata de uma lei. Como faz parte da União Europeia, os deputados alemães precisarão enviar os pareceres para a Comissão de Bruxelas, na Bélgica, que tomará a posição definitiva. A tendência, contudo, é que não só seja aceita a proposta da Alemanha como é provável que outros países adotem a medida. “Se quisermos cumprir o Acordo de Paris, de redução de 95% dos gases, precisamos tomar essa decisão”, disse Oliver Krischer, deputado alemão do Partido Verde.

O efeito dominó deve ser imediato, pois outras nações discutem acordos similares. Autoridades holandesas e norueguesas discutem sobre uma proibição a partir de 2025. Na Índia, um dos maiores mercados em potencial, há um movimento de que 100% da frota seja elétrica em 15 anos. Nenhuma montadora alemã, até agora, se posicionou sobre o tema, mas já observam a mudança dos tempos. Por conta do escândalo conhecido como “dieselgate”, em que a Volkswagen adulterou o sistema de controle de emissões de seus carros, as vendas de automóveis movidos a diesel vem caindo em diversos países europeus desde agosto.

Na Alemanha, por exemplo, caiu 5% e na Holanda o tombo foi maior: 12,9%. “Existe um movimento para salvar o planeta, e essas metas ajudam a acelerar o processo”, diz Paulo Garbossa, diretor da consultoria ADK. Logo, não é por acaso que as marcas alemãs estão se movimentando. A Volkswagen apresentou o ID, seu primeiro automóvel elétrico. A BMW tem em seu portfólio o i3 e o i8, também movidos a eletricidade. “Estamos prontos para lançar carros elétricos para todos os segmentos, desde o compacto até o alto luxo”, disse Dieter Zestche, presidente do conselho da Daimler AG, dona da Mercedes-Benz. Então, é melhor colocá-los no mercado o mais rápido possível.