18/07/2014 - 20:00
Uma das grandes missões do departamento de marketing de qualquer empresa é conquistar corações, mentes e o bolso do consumidor. No setor de motocicletas, esse objetivo já foi atingido – basta observar o crescimento de 342% da frota no período de 2001 a 2012, chegando a 19,9 milhões no País. O problema atual é a falta de crédito, que travou o mercado e derrubou as vendas em 4,1% e a produção em 8,4%, no primeiro semestre.
“O cliente vai até a concessionária, escolhe o produto, mas tem o crédito reprovado”, diz Marcos Fermanian, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclo-motores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). A falta de crédito é um problema generalizado na indústria automotiva, mas o quadro é ainda mais dramático no segmento de motos. O público-alvo, principalmente nos modelos menos potentes, está nas classes C, D e E. Como essa fatia da pirâmide social se endividou muito nos últimos anos, de cada dez pedidos de financiamento de moto, oito são recusados.
“A aprovação caiu pela metade em relação ao boom de crédito de 2010”, diz Eduardo Cardoso, gerente comercial da Japauto, a maior rede de motocicletas Honda, com 14 concessionárias espalhadas pela Grande São Paulo. Em média, 70% dos negócios fechados são financiados, com uma entrada à vista que varia de 10% a 50% do valor total. “O nosso produto é totalmente dependente de crédito”, afirma Cardoso. Embora não admitam publicamente, as instituições financeiras ficaram traumatizadas com a “farra do crédito” no início desta década, que resultou num crescimento da inadimplência.
A falta de segurança jurídica e a lentidão para recuperar os veículos dos inadimplentes também aumentam o temor dos bancos. Além disso, segundo fontes do setor, o valor de uma moto recuperada mal consegue pagar os custos com advogados, cartório e leilão. Com o mercado retraído, os fabricantes e as concessionárias têm 150 mil motos prontas, o equivalente a 45 dias de vendas. “O ideal seria trabalhar com estoques para 15 ou 20 dias”, diz Fermanian, que aposta numa postura mais agressiva dos bancos públicos para virar o jogo no segundo semestre.