Diante de uma desvalorização de 7,2% do Ibovespa no primeiro trimestre de 2023, inevitavelmente os gestores de fundos de ações entregaram resultados negativos para seus cotistas. Os fundos de ações small caps — que reúnem empresas de menor capitalização na Bolsa — registraram perdas de 8% no período. Já os de ações livres mostraram recuo de 5%. Os dados foram divulgados pelo vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), Pedro Rudge, na quinta-feira (6). Ao falar sobre a rentabilidade dos fundos, Rudge identificou o aumento das incertezas e a aversão ao risco como fatores que também influenciaram no volume expressivo dos resgates de fundos de ações (-R$ 23,9 bilhões) e multimercados (-R$ 37,4 bilhões). “Estamos vendo migração das classes mais arriscadas para classes mais conservadoras”, disse. O movimento não é recente. Mas a intensidade sim.

Nos fundos de renda fixa, o vice-presidente da Anbima lembrou que 18% das carteiras é composta por crédito privado, que sofreu volatilidade com o caso de fraude na Americanas. Mesmo que o impacto tenha sido muito pequeno nos 1.126 fundos que tinham exposição. “A gente viu uma aversão maior e o medo de que pudesse contaminar outros ativos, o que trouxe um pouco de paralisia em novas emissões”, afirmou. De toda forma, o momento aparenta ser passado. “A indústria de fundos passou superbem [pelo episódio Americanas].”

Para Giuliano de Marchi, diretor da Anbima, a aversão ao risco não foi exclusividade local. “Essa de aversão ao risco acontece no mundo inteiro”, afirmou. “A captação também foi ruim nos Estados Unidos e em Luxemburgo, principais mercados de fundos.” Ou seja, não é por acaso que fundos de ações de investimento no exterior apresentaram perdas de 4,6% na mesma comparação.

“Essa aversão ao risco está acontecendo no mundo inteiro. A captação também foi ruim nos Estados Unidos e em Luxemburgo” Giuliano de Marchi Diretor da Anbima.

Mesmo com a rentabilidade negativa, os representantes do setor argumentam que há investidores buscando a diversificação no exterior. Pedro Rudge diz que as novas normas da CVM trouxeram mais facilidades para investimentos no exterior. Marchi concorda: “Os fundos multimercados são os grandes investidores de ativos internacionais”.

AGRO Se por um lado os cotistas estão saindo de fundos de ações e de multimercados, por outro Pedro Rudge conta que aumentou o número de investidores em fundos imobiliários (+44,9%) e de renda fixa (+12,4%) nos últimos 12 meses. Além do bom desempenho nessas duas categorias, que conquistaram respectivamente 3 milhões de novas contas (fundos imobiliários) e 1,4 milhão (renda fixa), Rudge destacou o avanço de 267 mil contas em fundos de investimento nas cadeias produtivas do agronegócio. “O Fiagro tem um caminho grande de crescimento pela frente”, disse o vice-presidente da Anbima.

Marchi também falou do movimento de resgate de fundos para os títulos isentos do imposto de renda, como letras de crédito (LCI, LCA, LIG) e certificados de recebíveis (CRI, CRA). “Os investimentos isentos tiveram crescimento exponencial”, afirmou. “Daqui para frente, é a taxa de juros que vai definir. Há uma demanda por fundos de renda fixa e os fundos de ações acabam sofrendo com os juros altos.” Questionado sobre as novidades do setor para enfrentar a concorrência, Marchi citou o potencial dos ETFs de dividendos, nova categoria permitida pela Bolsa (B3) de fundos que distribuem lucros aos cotistas com regularidade. “É uma sofisticação que a gente já vem experimentando. No futuro, vai crescer.”

Para o CEO da Azimut Brasil Wealth Management, Wilson Barcellos, muitas gestoras pequenas, com menos de R$ 1 bilhão em patrimônio sob gestão e focadas em fundos de ações e multimercados, sofreram com os resgates dos cotistas. “A maioria sentiu o baque e está em dificuldades. A perda de recursos foi muito rápida”, afirmou. Segundo Barcellos, com a taxa básica de juros a 13,75% ao ano e o DI com segurança, retorno e liquidez, o investidor vai para produtos de grandes instituições. Mas a lição é a de sempre, como mostrou a alta exponencial do Ibovespa após anúncio do IPCA de março. “No curto prazo, o risco de Bolsa é enorme. Mas para o médio e longo prazo, ficar fora da Bolsa e de fundos de ações também é um risco.”